Música popular

Essas raízes líricas do sertão 

Cancioneiro Elomar apresenta show no formato voz e violão, com algumas canções que não cantava há dez anos

Por LUCAS SIMÕES
Publicado em 17 de outubro de 2014 | 03:00
 
 
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No fim da década de 1990, o cancioneiro Elomar Figueira de Mello passou a investir em obras sinfônicas e instrumentais, deixando gradativamente de compor canções populares – as mesmas que o tornaram um compositor irrefutável regravado por Maria Bethânia e Mônica Salmaso. Mais recentemente, contudo, já aos 75 anos, o filho do sertão nordestino e “príncipe da caatinga”, como apontou Vinicius de Moraes, decidiu dar uma canja do que não cantava há muito tempo no show “Elomar - O Cancioneiro”, que apresenta esta noite, no Teatro Bradesco.

“Hoje, Elomar se expressa pelo som simplesmente. Não precisa de palavras para passar seus sentimentos e visões. O que ele tem feito agora é um passeio por sua carreira, como quem fecha um ciclo definitivamente”, justifica o filho e colaborador do músico, o violonista João Omar.

Há mais de dez anos Elomar não dá entrevistas, e volta e meia é taxado de “recluso” pela imprensa – embora o termo não faça sentido para ele. Vive cercado de animais e plantas, a “chiqueirar e pastorar, tangerino de ovelhas e bodes”, como ele mesmo descreve seu dia a dia na fazenda Casa de Carneiros, em Vitória da Conquista (BA), onde nasceu, foi criado e permaneceu. Mais do que uma opção, essa é a “única forma como ele sabe realmente viver, porque as grandes metrópoles não fazem qualquer sentido para sua cabeça”, completa João Omar.

Nessa rotina, há cerca de dois anos ele decidiu revirar o baú de casa e se debruçar sobre 80 canções grafadas em seu caderno de composição. Para isso, contou com a ajuda da cantora Letícia Bertelli, que ao lado dos músicos Kristoff Silva, Avelar Júnior, Maurício Ribeiro e Hudson Lacerda, todos integrantes do show e estudiosos da obra do cancioneiro, transcreveram 49 partituras de 12 discos do músico. A peneira de canções rendeu o livro “Elomar em Partituras – Cancioneiro”, lançado com patrocínio da Petrobras em 2008 e inspirador do atual show do músico.

“Selecionamos as músicas que tinham formato de voz e violão apenas. Depois fomos apresentando as canções como estavam escritas, e ele dava os toques do que tinha que mudar, qual nota entrava melhor etc. Tudo porque queríamos montar um livro para que músicos pudessem rearranjar sua obra, reinventar em cima da expressão de Elomar”, explica a cantora Letícia Bertelli.

SHOW. Pois é contagiado pelo universo romântico do sertão, abarcado por reis, princesas e trovadores da terra quente e rachada presentes nas canções de Elomar, que o show se desenvolve. No palco, o músico é acompanhando por cinco violeiros que se revezam em violões de nylon e aço – de seis e 12 cordas –, além da cantora Letícia Bertelli.

O repertório abraça desde os primeiros álbuns da carreira, como “Das Barrancas do Rio Gavião” (1972), que contém algumas das maiores obras do cancioneiro, como “O Pidido”, “O Violêro” e “Cantiga de Amigo”, até os clássicos “Cantoria 1” e “Cantoria 2”, gravado em 1984 ao lado de Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xanguei, que revela pérolas como “Arrumação” e “Sabor Colorido”.

GRAVAÇÃO. Apesar de estar dedicado ao show “Elomar: Cancioneiro”, o filho do compositor baiano, João Omar está produzindo um disco apenas com arranjos de violão solo do pai. A ideia é ter um repertório de 12 a 15 canções do cancioneiro do sertão – incluindo músicas inéditas da década de 1960. “São canções que ele guarda em casa porque sempre compôs muito, e naturalmente alguma coisa ficou de fora do seus discos”, pondera. O álbum começa a ser gravado em dezembro e tem previsão de lançamento para o segundo semestre do ano que vem.

Agenda

O que. “Elomar – Cancioneiro”

Onde. Teatro Bradesco (rua da Bahia, 2.224, Lourdes)

Quando. Hoje e amanhã, a partir das 20h

Quanto. R$ 70 (inteira)


Registro

DVD. Depois de ter estreado o show “Elomar – Cancioneiro” em abril do ano passado, o compositor poderá registrar o espetáculo em DVD. “Pode acontecer, claro. Mas o Elomar não apareceria nas imagens porque não gosta disso, eu garanto. Mas quem sabe a gravação não ocorra de outra forma”, diz Letícia Bertelli.

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