Cartum

Jaguar relança antologia 

Realizado “quatro mulheres atrás, “Átila, Você É Bárbaro é o primeiro livro do artista, que tem seis décadas de carreira


Publicado em 19 de julho de 2014 | 03:00
 
 
 
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RIO DE JANEIRO. Jaguar tem 82 anos, seis décadas de carreira e arrisca ter feito uns 30 mil desenhos. Mas os livros assinados apenas por ele não passam de seis. “Nunca me importei com isso. Já tem muito livro no mundo”, diz. Ficou anos sem ter nem mesmo um exemplar de seu primeiro, “Átila, Você É Bárbaro” (1968), até que um amigo lhe enviou. 

Agora é a editora Sesi-SP quem aposta na importância dessa antologia de cartuns e a relança. Trata-se de uma seleção do que Jaguar produziu desde 1952, quando estreou na revista “Manchete”, passando depois por “Senhor”, “Última Hora” e outras publicações.

A nova edição mantém o prefácio da original, de Paulo Mendes Campos. “É a melhor coisa do livro”, fala sério Jaguar, nascido Sérgio Jaguaribe. De novidades, fez um desenho para abrir o volume e trocou a dedicatória, agora feita para sua atual mulher. “O livro foi lançado quatro mulheres atrás”, esclarece.

“Átila, Você É Bárbaro” é cultuado por outros jornalistas e humoristas, entre eles Reinaldo Figueiredo, do extinto “Casseta & Planeta”. “Tenha esse livro sempre à mão. Nos momentos de dificuldade, é só abrir em qualquer página e você terá uma iluminação. É uma espécie de bíblia do cartunismo. Jaguar é o meu pastor e nada me faltará”, brinca.

Folheando as páginas, o reverenciado diz que naquele tempo desenhava com mais esmero e tinha a mão mais firme. Porém, acredita que a longevidade do livro tenha a ver com o gênero, que trata de temas atemporais. “Cartum não envelhece. Charge sim”, afirma.

“O cartum não é uma espécie em extinção. É uma espécie extinta. Existiam várias revistas com eles. Acho que só sobrou a ‘New Yorker’”, lamenta Jaguar. “É curioso que todo desenhista seja chamado hoje de cartunista. Antigamente, eu escrevia ‘cartunista’ nas fichas de hotel e me perguntavam: ‘o senhor fabrica cartões?’. Por isso eu passei a me chamar de jornalista”.

FLIP. Jaguar participará da abertura da Flip, em 30 de julho, falando sobre o homenageado da festa literária, seu amigo Millôr Fernandes (1923-2012). Com Millôr, Paulo Francis, Ivan Lessa e outros, ele fundou e editou “O Pasquim”, o mais famoso jornal de humor do país, perseguido pela ditadura militar. “Millôr é o maior intelectual brasileiro, o melhor tradutor, e só não é o melhor cartunista do mundo porque tem o Steinberg”, exalta o amigo, citando o norte-americano Saul Steinberg (1914-1999).

Em Paraty, ele será entrevistado por Reinaldo e por Hubert, também ex-“Casseta & Planeta”. Preferiu assim, já que sempre se recusou a dar palestras. “Fui expulso de cinco colégios por odiar aqueles professores subindo no palco e cagando regras. Não vou fazer o mesmo com outras pessoas”, explica.

Jaguar ainda publica quatro cartuns e um texto por semana no jornal “O Dia”, do Rio de Janeiro. Quando viaja, deixa um lote pronto, para o espaço não ficar vazio. “Tenho medo de me esquecerem. Nunca tirei um dia de férias na vida”, conta ele, cujas memórias se chamaram "Confesso que Bebi", mas que está sem beber por ordem médica. "É a pior coisa do mundo. Adorava ficar bêbado."


Agenda

O quê. “Átila, Você É Bárbaro”, de Jaguar. Editora Sesi-SP, 186 págs., R$ 56.

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