'50'

Joyce Moreno rejuvenesce o primeiro álbum da carreira

Cantora regrava todas as faixas de LP lançado em 1968 e acrescenta duas inéditas ao repertório

Por Raphael Vidigal
Publicado em 17 de julho de 2018 | 03:00
 
 
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Dizer que 1968 não terminou tornou-se um chavão, mas, no caso, o clichê atende bem a Joyce Moreno, 70, que acaba de voltar ao álbum lançado naquele ano, o primeiro de sua carreira, muito antes de “Feminina” estourar em 1980 e garantir a ela um lugar de peso na música brasileira. Cinco décadas depois, Joyce decidiu regravar todas as faixas do LP de estreia, acrescentando convidados especiais – como Toninho Horta, Alfredo Del-Penho, Marcos Valle e Zélia Duncan –, e elementos rítmicos que interferiram diretamente nos arranjos de “50”, cujo título alude à passagem de tempo.

“Foi um álbum que passou meio em branco na época, mas ali estão minhas primeiras músicas, feitas entre os 18 e 19 anos e gravadas aos 20. Além de obras que me foram entregues por amigos muito queridos, vários dos quais vieram participar dessa regravação. E todos estão em forma, ativos, isso é maravilhoso”, destaca Joyce, que não esconde o orgulho do primogênito. “Continuo gostando muito, principalmente do repertório”, afiança. A ordem das canções na nova versão foi mantida como na original. 

Logo na abertura, a inspirada “Não Muda Não” dialoga diretamente com “Me Disseram”, que fechava o LP. Ambas colocam no centro das atenções uma mulher que não quer transformar o relacionamento amoroso em casamento. “Se eu quisesse arranjar um marido não tinha escolhido de te adorar”, afirma num dos versos. Para completar o baile, a inédita “A Velha Maluca” toma o posto de faixa derradeira. “A velha quando era moça/ Queria ser diferente/ Zombava dos pretendentes/ Queria não se casar”, canta Joyce, balizando a coerência do discurso. “Acho ótima essa terceira onda do feminismo que vem acontecendo. Muitas coisas têm sido discutidas, revistas, repensadas, inclusive pelos homens, o que eu acho da maior importância”, observa a intérprete.

Nesse sentido, “A Velha Maluca” tem, para a compositora, papel de colocar na roda mais um aspecto dessa discussão, muitas vezes deixado de lado, mas que ela tem sentido na pele com prazer. “Essa música trata de uma questão feminina muito especial, que minha geração tem quebrado mais uma vez, como todos os outros paradigmas, que é a do envelhecimento da mulher”, aponta. Em outra passagem da canção, Joyce comemora: “Foi bom pra se libertar/ Da escravidão da beleza/ Do empenho em viver bonita e ser/ A velha esquisita, maluca de arrepiar”. 

O frescor do trabalho se assenta no discurso, mas também na sonoridade propiciada pelo quarteto de samba-jazz que acompanha a cantora e seu refinado violão. Um dos destaques é a faixa “Choro Chorado”, parceria com Jards Macalé. “O choro pra mim é música de formação, música de infância, assim como a bossa nova é música da minha adolescência”, diz Joyce. “Jards Macalé foi um dos meus primeiros amigos na música, fomos sempre muito próximos”, completa a cantora, que permanece firme com a relação mais estável de sua vida: “Em 1968 estava mais preocupada com a música do que em fazer carreira, continuo assim”.

“50”, lançado em 2018 por Joyce Moreno traz releitura do primeiro LP da cantora, de 1968. Além das onze faixas originais, há ainda duas inéditas: “A Velha Maluca” e “Com o Tempo”, parceria com Zélia Duncan, que faz sua participação especial. Editado pela Biscoito Fino, o álbum está sendo vendido a R$ 34,50.

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