Comédia

Longa-metragem esbarra em roteiro inverossímil 

Redação O Tempo

Por Daniel Oliveira
Publicado em 03 de setembro de 2015 | 03:00
 
 
 
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Na coletiva de lançamento de “A Esperança É a Última que Morre”, que estreia hoje, o comediante Rodrigo Sant’anna (“Zorra”) falou sobre um hábito de todo humorista ao receber um roteiro que pode construir ou destruir um filme. “A gente que trabalha com humor autoral, construindo personagem, acha que o roteiro nunca é suficiente, quer criar, tornar o material nosso”, descreveu, explicando que esse não foi o caso no longa do diretor Calvito Leal (“Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei”), em que o script foi seguido à risca.

Esse é o maior problema do filme: com um elenco de comediantes talentosos à mão, o cineasta deixa de explorar os fortes de cada um para obedecer um roteiro que, infelizmente, não funciona. “Antes da comédia, precisa ter uma história. Para mim, não interessa a piada pura, mas personagens em situações inusitadas, e você torcendo para eles”, justificou o diretor.

O mais difícil em “A Esperança” é torcer pela protagonista Hortência (Dani Calabresa). Na trama, ela é uma repórter relegada a matérias chinfrins que, para ter a chance de vencer a dissimulada colega Vanessa (Katiuscia Canoro, a Lady Kate do “Zorra”) na disputa pela bancada de seu telejornal local, inventa um serial killer na sua cidade, com a ajuda de dois funcionários do necrotério (Sant’anna e Danton Mello), e passa a cobrir suas mortes.

Isso mesmo: ela inventa um serial killer que não existe, executando mortes que qualquer exame provaria serem de causa natural, sem nenhuma testemunha, e ninguém do telejornal pensa em checar qualquer das informações noticiadas. Mesmo para quem estiver disposto a superar a inverossimilhança, a partir do momento em que Hortência explora a morte alheia para proveito pessoal, e insiste nisso mesmo se dando conta do erro, é impossível ter qualquer empatia por ela.

“Gosto de situações ridículas. E eu estava fazendo o ‘Furo MTV’ na época, e o Calvito achou que tinha a ver”, conta Calabresa sobre sua primeira protagonista no cinema. Apesar disso, o longa parece prender a boa comediante numa personagem sem muito humor, que não explora suas boas imitações e seu talento para gags físicas, que acaba se tornando a vilã da história, enquanto Vanessa surge como a única personagem que faz algo próximo de jornalismo no filme.

“Comecei a pensar na história quando acompanhei um desastre na TV, e uma repórter que ninguém nunca tinha visto antes passou a aparecer no jornal todo dia porque estava cobrindo outra coisa lá perto”, conta Calvito, que também trabalhou na criação do programa “Encontro com Fátima Bernardes”. Desde então, o roteiro passou por 12 tratamentos, cinco anos de produção e um orçamento de R$ 4,5 milhões. “É uma comédia diferente, que não tem muito lugar na prateleira”, afirma o diretor. Como dizia um velho professor meu, “comédia diferente”, “especial” etc sempre é código para comédia que não é engraçada. 

 

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