Legado

Marchinha de Flávio Henrique é uma das propulsoras do Carnaval de BH

'Na Coxinha da Madrasta' rapidamente se transformou em sucesso que ultrapassou, inclusive, o território estadual

Por Raphael Vidigal
Publicado em 19 de janeiro de 2018 | 03:00
 
 
 
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O bom humor marcante do músico Flávio Henrique o permitia relativizar tanto o sucesso quanto o fracasso. Em 2012, o músico foi responsável pela marchinha apontada por muitos como propulsora do renascimento do Carnaval de Belo Horizonte. “Na Coxinha da Madrasta”, uma crítica debochada ao vereador Léo Burguês, rapidamente se transformou em sucesso que ultrapassou, inclusive, o território estadual.

“Ele reclamava meio brincando que tinha feito sete discos, sido gravado por Milton Nascimento e Ney Matogrosso e nunca fora tão procurado quanto estava sendo por conta da marchinha. Falava que o Brasil todo agora ligava para ele”, relembra Thiago Delegado, parceiro de Flávio Henrique e Brisa Marques em “Samba do Gardenal”, gravado por Juliana Perdigão em “Zelig”, de 2012, último disco solo da carreira do músico.

“Ele foi o grande responsável por reacender a faísca do Carnaval da cidade. A gênese disso tudo, da história das composições e dos concursos, começou aqui com ele, graças ao ‘Na Coxinha da Madrasta’”, atesta Delegado. O entrevistado aproveita para revelar que possui outra parceria com Flávio Henrique, ainda inédita, dedicada a Elza Soares, e que ele pretende registrar em um próximo disco. “Chama-se ‘Deusa Soares’, e é meio um rock”, revela o violonista.

Companheiro de Flávio Henrique na Orquestra Royal, o músico Marcos Frederico foi, provavelmente, parceiro dele em sua última composição. “A Dancinha da Tornozeleira”, postada nas redes sociais esta semana, é outra marchinha que brinca com as mazelas do país. Além de Marcos Frederico, a música é interpretada por Jhê Delacroix e Everton Coroné. “Não divulgamos muito porque ele já estava doente. Mas ele chegou a ver o clipe e gostou. Flávio se divertia muito com o fato de assinar as marchinhas com um pseudônimo que ele criou: Belisário Nogues”, observa.

“A gente se conhecia há uns 12 anos e logo nos tornamos amigos. Tanto que fizemos juntos duas músicas para a minha filha, uma antes dela nascer e a outra depois”, informa. Frederico faz referência a “Lira Siciliana” e “Ave Lira”, que também traz Brisa Marques na parceria. “A minha filha se chama Lira, e a dele Cecília, foram duas homenagens muito bonitas”, afirma.

O músico Affonsinho, que era admirado por Flávio Henrique mesmo antes de conhece-lo, é outro que tem uma história ligada à folia com Flávio Henrique. “Ele me via tocar nuns shows que eu fazia com a rádio Alvorada na Savassi. Depois, cada um de nós montou um estúdio na mesma época, e eu o chamei para cantar comigo, em 2011, uma marchinha minha, chamada ‘Cheirinho da Lolove’. E foi imediatamente antes ao estouro do carnaval na cidade”, observa.

 

Compositor foi pródigo em parcerias

Flávio Henrique transitou pelo choro, a marchinha e a canção. Esteve à frente de produções musicais e diversas manifestações culturais, mesmo antes de assumir a presidência da Empresa Mineira de Comunicação (EMC). Nesse caminho fez, principalmente, muitos amigos.

“Ele entrou na minha vida de um jeito que me senti privilegiada. Veio dizer que admirava o meu trabalho e, quando vi o dele, fiquei espantada com a qualidade”, contou Marina de La Riva, que participou do álbum “Pássaro Pênsil”, de 2008, gravando “Água Marina”.

Companheira no quarteto Cobra Coral, Mariana Nunes batizou seu disco de 2008 com uma música de Flávio Henrique, “A Luz É Como a Água”. “A contribuição do Flávio para a cultura mineira é gigantesca. Impossível pensar a música mineira sem ele”, lamentou a cantora.

"Vamos levar um tempo longo para entender o sentido profundo da passagem de uma figura como Flávio Henrique pelo mundo das Minas Gerais, este lugar tão marcado pela introspecção".

Ricardo Aleixo

POETA

"Ele participou dos discos que produzi em homenagem ao Clube da Esquina e Carlos Drummond de Andrade. Nessas horas, nós refletimos sobre a finitude, em como a vida é um átimo".

Thelmo Lins

CANTOR

"É um momento difícil, ficamos engasgados com essa fatalidade. A importância de Flávio Henrique transcende a própria música. Ele foi um autêntico agitador cultural".

Gilvan de Oliveira

VIOLONISTA

"Agradeço a oportunidade de ter convivido tão de perto com uma das figuras mais iluminadas e generosas que esse mundo já viu. Obrigado, Flávio Henrique"

Thiago Delegado

MÚSICO

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