Mistura internacional clássica

O concerto que a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais faz hoje no Grande Teatro do Palácio das Artes tem aproximação forte com a música latino-americana. O regente convidado é o chileno Maximiano Valdés. E o compositor argentino Daniel Binelli criou, sob encomenda do maestro titular Fábio Mechetti, a “Suíte para Harpa e Orquestra”, que traz diversos elementos de sua terra natal e será mostrada pela primeira vez esta noite.

Reforçando ainda mais o caráter internacional do concerto, a solista da “Suíte” é a harpista holandesa Giselle Boeters. Ela, que está há seis meses na Filarmônica, conta que o resultado da obra é interessante por mesclar em seus três movimentos tango, milonga e candombe, ritmos tipicamente latino-americanos.

“Binelli soube mesclar muito bem todos esses elementos que fazem parte da música dele, e adaptou tudo isso à harpa de uma maneira que me encantou profundamente. Eu me sinto muito honrada de participar deste concerto como solista mostrando uma peça tão bonita e sofisticada como essa”, afirma Boeters. Ela também observa que o compositor soube reproduzir em sua obra aspectos diferentes do instrumento, tido como “o som dos anjos”. Para a harpista, o argentino conseguiu fazer uma composição forte e contundente, sem deixar de lado o aspecto lírico.

Binelli vê da mesma maneira. Ele conta que trabalhou por três meses na suíte de 15 minutos, colocando na harpa as características latinas. “É um instrumento que tem características europeias muito presentes. Na música de Ravel e Debussy, por exemplo, ela tem papel central. Mas me debruçando sobre a obra conseguir trazê-la para meu universo, já que a música latina que me forjou. E Fábio me deixou livre para eu fazer o que queria”, explica o compositor, salientando que há “um pouquinho de Brasil” na “Suíte”. O argentino conta que o ritmo da milonga, um dos estilos que a obra abarca, é bastante semelhante ao brasileiro.

Assimilação. Ele também elogia a condução de Boeters. “Eu mandei a obra para ela e fiquei feliz porque ela conseguiu colocar uma marca própria na ‘Suíte’, deixando-a com a cara dela. Achei que ficou muito original porque ela tem muitas influências além de mim. Vi o ensaio hoje (ontem) e é maravilhoso vê-la tocar. Além de ser uma grande instrumentista, tem um grande carisma que magnetiza a todos que a assistem no palco”.

O concerto ainda tem outras três obras. Duas delas de compositores franceses. “La Mer” foi escrita por Debussy no início do século XX. Muitos críticos consideram sua melhor obra. Curiosamente, não foi bem recebida durante seu lançamento em 1905, mas aos poucos tornou-se reconhecida.

Dividida em três movimentos, “La Mer” versa sobre os sentimentos provocados pelo mar e utiliza uma estrutura harmônica incomum para o período em que a obra foi composta.
“Les Offrandes Oubliée” é de Olivier Messiaen. A obra composta quando o francês tinha apenas 21 anos e foi responsável por revelar seu talento perante o universo da música clássica. É uma peça bastante corriqueira no repertório de grandes orquestras internacionais, como a New York Philharmonic.

Abrindo o concerto, uma obra que aproxima o maestro Valdés de sua terra natal. “Tres Aires Chilenos” é a grande criação de Enrique Soro. Composta em 1942, tornou-se uma das peças clássicas mais reconhecidas naquele país, assim como a “Suíte” feita por Binelli, que é uma peça calcada em elementos folclóricos da América Latina.

Agenda

O QUE.Orquestra Filarmônica da Minas Gerais –Concerto da Série Vivace V
Quando. Hoje, às 20h30
Onde. Grande Teatro do Palácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1.537, centro)
Quanto. R$ 60 (plateia I inteira), R$ 46 (plateia II inteira), R$ 30 (plateia superior inteira)