MAGAZINE

Muito além da esquina

O movimento musical nascido em BH se alastra pela cidade com lançamento de um guia turístico com os locais que serviram de cenário para os músicos.

Por DANIEL BARBOSA
Publicado em 03 de dezembro de 2005 | 23:10
 
 
 
normal

Depois de ocupar o ambiente virtual, com site na Internet, o projeto do Museu Clube da Esquina " idealizado por Márcio Borges e lançado oficialmente há dois anos " começa a se alastrar por Belo Horizonte.

Até o próximo dia 12, data de aniversário da cidade, vão ser instaladas 27 placas de metal em diferentes pontos da capital " locais que, direta ou indiretamente, serviram de cenário para a história do Clube da Esquina.

Em cada uma delas, uma breve explicação relacionando o espaço em que foi colocada com o movimento que projetou a música mineira internacionalmente.

Como produto complementar a essa ação, será lançado, também no dia 12, o "Guia de Belo Horizonte " Roteiro do Clube da Esquina", cujo índice é composto, justamente, pelas 27 placas.

Além de fotos e de um mapa encartado, a publicação, organizada por Márcio, traz explicações um pouco mais detalhadas sobre os locais do roteiro.

Entre os pontos escolhidos, figuram os edifícios Levy (onde a família Borges, Milton Nascimento e Wagner Tiso moraram nos anos 60) e Cesário Alvim (que abrigou, na mesma época, Beto Guedes e Toninho Horta), ambos no centro da cidade; o restaurante Bolão e o hall de entrada do edifício Maleta, onde os integrantes do Clube costumavam comer e beber; o Instituto de Educação, onde estudaram e participaram de festivais de música; as casas das famílias Ornelas, Brant e Borges, depois que se mudaram do Levy para o bairro Santa Tereza; o Bar Brasil, que é outro tradicional reduto do Clube, e, claro, a esquina das ruas Paraisópolis e Divinópolis, que deu nome ao movimento.

As placas também estarão presentes em locais que não têm uma relação afetiva ou histórica intrínseca com o Clube da Esquina, mas que, segundo Márcio Borges, fizeram ou fazem parte do cotidiano de seus integrantes, bem como de qualquer outro cidadão de Belo Horizonte.

"A idéia do guia é, também, prestar uma homenagem à cidade, então aproveitamos para colocar, por exemplo, a Serraria Souza Pinto, que foi onde o Milton fez o show de lançamento do disco "Crooner", que tem como inspiração os bailes onde ele e o resto da turma se apresentavam nos anos 60. Aí tem, também, a rua Rio de Janeiro, a praça Sete, o viaduto de Santa Tereza, a rua da Bahia, que eram lugares por onde a gente passava frequentemente", diz.

Ele ressalva que, das 27 placas, duas não se relacionam com o Clube " são homenagens póstumas a personalidades que sempre mantiveram vínculos estreitos de amizade com os protagonistas do movimento: o arquiteto Álvaro Hardy, o Veveco, que terá uma placa no Parque Ecológico da Pampulha, seu último projeto antes de morrer, e o baterista Mário Castelo, que será lembrado com placa na praça JK, onde costumava fazer caminhadas. A primeira das 27 já está instalada na casa dos Borges.

"Automuseologizando"
Márcio explica que a idéia de se fazer um roteiro do Clube da Esquina com placas alusivas ao movimento instaladas pela cidade nasceu de observações que sempre fez em suas viagens pelo exterior.

"Você vê que, na Europa, por exemplo, as cidades prezam muito sua memória e expressam isso se "automuseologizando". Seja em Paris, seja em Roma, eles colocam placas em ruas e praças de acordo com a importância daquele lugar para a cidade. Você pára em frente a uma e lê: "Nessa casa morou Karl Marx". Outra diz: "Aqui o soldado fulano de tal foi fuzilado pelos nazistas". O Orson Welles esteve em Belo Horizonte e ninguém sabe disso. Tinha que ter uma placa na avenida Afonso Pena dizendo que ele esteve aqui", aponta.

Ele considera que essa ação representa, mais do que uma homenagem ao Clube da Esquina, uma forma de se preservar a memória de Belo Horizonte.

"A cidade tem história e essa foi a maneira que a gente encontrou de preservar a identidade da capital. Vou colocar placas relativas ao que me interessa, que é o Clube da Esquina, mas tomara que isso sirva de exemplo, que outras pessoas adotem a idéia e contem outras histórias. É a idéia do museu vivo, da cidade que dá para a população indicadores do seu passado", diz.

Memória
Para se chegar aos 27 pontos que compõem o roteiro, conforme explica Márcio, recorreu-se à memória, a dele próprio e a de pessoas relacionadas ao movimento que foram consultadas.

A tarefa de escrever os textos que apresentam cada lugar foi delegada a pessoas que, desde o início, estão envolvidas com o projeto Museu Clube da Esquina: Fernando Brant e Ronaldo Bastos, que fazem parte do movimento, o escritor e jornalista José Eduardo Gonçalves, da Conceito Comunicação, responsável pela divulgação do projeto, e os pesquisadores do Museu da Pessoa " Tatiana Dias, Leandro Dias, Ana Eliza Viviane, Beatriz Antunes, Pablo Downey e Rodrigo Godoy.

"Muita gente mandou texto, cada um escreveu um pouquinho, tínhamos já várias coisas levantadas, baseadas nas histórias de vida de quem integrou o Clube da Esquina, enfim, foi um trabalho de equipe", diz, acrescentando que o próprio conteúdo do museu virtual (www.museuclubedaesquina.ogr.br) e do livro "Os Sonhos Não Envelhecem - Memórias do Clube da Esquina", de sua autoria, serviram como fonte de consulta.

Ele destaca, ainda, o trabalho dos pesquisadores do Museu da Pessoa. "A equipe que trabalha lá é a mesma que está com a gente no Museu Clube da Esquina. Estamos muito bem assessorados porque o Museu da Pessoa é o primeiro e mais poderoso museu virtual brasileiro", diz.

A propósito, sobre o site do Museu Clube da Esquina " primeira ação desenvolvida a partir do lançamento do projeto ", Márcio diz que está de vento em popa.

"Já colocamos no ar mais de 40 histórias de vida, mais de 2.000 páginas de texto, ensaios escritos pelo Ivan Vilella, da USP, mais de 40 minutos de vídeo, uma rádio virtual, enfim, é mais um portal de acesso ao universo do Clube da Esquina do que simplesmente um site. É, literalmente, um museu, tem que ficar dias dentro dele para ver tudo", detalha.

Sobre o "Guia de Belo Horizonte - Roteiro do Clube da Esquina", ele diz que foram impressos 3.000 exemplares " uma parte será distribuída gratuitamente para os associados e outra será destinada ao comércio, em pontos de distribuição da Belotur, livrarias que tenham seções dedicadas a turismo, aeroportos e terminais rodoviários. "Tratase, afinal, em última instância, de um guia da cidade", justifica.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!