Sobrancelhas altas, olhos verdes, queixo erguido, nariz afilado, postura esguia e um topete, sim, um topete de dar inveja. Beatriz Segal, assim como Tônia Carrero, era a cara da riqueza. Mas quem diria que a atriz de pouquíssimos gestos, desconhecida do grande público ao estrear em “Dancin’Days” (1978), como Celina, já tinha encenado Tennessee Williams, Henrik Ibsen, Molière, Edward Albee, F. Dürremantt, Jean Cocteau.
Embora se leve a personagem Odete Roitman demasiadamente a sério como seu grande papel, Beatriz teve seus momentos de glória no teatro. Confesso que meu interesse pela atriz surgiu depois de “Vale Tudo” (1988), quando reencenou “Lilian” no teatro. O impressionante é que não se enxergava vestígio, nem mesmo físico, da vilã da TV no palco, mas uma mulher de energia intensa que hipnotizava o público e o fuzilava com o olhar.
A imagem era de uma mulher pequena, franzina, que destilava um monólogo cáustico para revelar a personalidade da escritora norte-americana Lilian Hellman. Beatriz tinha, como poucas, o teatro na veia. No camarim, ainda extasiado, percebi que não era uma pessoa fácil, que não se esforçava por agradar. Tinha a têmpera das divas, algo que pode ser confundido facilmente com esnobismo.
Minha segunda experiência foi quando a vi em “A Divina Comédia” (1993), espetáculo no qual o diretor mineiro Gabriel Vilela interpretava a seu modo a obra-prima de Dante Alighieri. Foi surpreendente ver Beatriz cantar afinadíssima – faceta que não suspeitava – e dançar com desenvoltura no meio de uma trupe de jovens atores.
O terceiro contato foi em “As Três Mulheres Altas”, no Teatro Alterosa. Pela primeira vez, vi Beatriz dividir o palco com outras duas ótimas atrizes – Nathalia Thimberg, de sua geração, e Marisa Orth. E ela se colocava com vantagem sobre as “rivais” em cena, com sua postura elegante e seu fino humor, arrancando risos (e tensão) da plateia.
Enquanto Nathalia carregava demais seu personagem de amargura e o desempenho de Marisa só servia de contraponto às protagonistas, Beatriz brilhava em um texto que meditava ironicamente sobre as tênues relações humanas.
Em 2004, ao saber que ela comprou os direitos para encenar as “As Pequenas Raposas”, me preparei para uma possível viagem ao Rio. Sempre achei que o papel de Regina Giddens – mulher ambiciosa e manipuladora que mata o marido com um olhar, defendido brilhantemente por Bette Davis no cinema, no clássico “Pérfida” (1941), de William Wyler – cairia como uma luva nela.
A dobradinha Beatriz Segall-Sérgio Britto foi uma ótima oportunidade para se apreciar dois grandes atores em cena. É, talvez, o papel que mais a aproxime da imagem de ricaça. Sua elegância, no entanto, é explicada pela origem: bem-nascida, estudou na França e casou-se com um intelectual, Maurício Segall. Resumindo: era culta, elegante e emancipada, que ousava escolher os papéis e que nunca parou de estudar a arte da interpretação.
A última peça que assisti foi “Conversando com Mamãe” (2011), ao lado de Herson Capri. Beatriz estava, como sempre, perfeita e se mostrava extremamente generosa em cena, permitindo a Capri, na peça seu filho, ter seus momentos de brilho.
Creio, no entanto, que Beatriz sobreviveu dignamente a todas esses personagens magníficos, mas será ironicamente lembrada por apenas por uma.
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