Carnaval

Músicos transitam por gêneros

Artistas locais assumem a regência de até quatro blocos distintos, que levam para as ruas do jazz ao axé e o pagode

Por Daniel Barbosa
Publicado em 09 de fevereiro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Se no Carnaval de Belo Horizonte há regentes e diretores artísticos que imprimem seu DNA musical no repertório do bloco que dirigem, há também aqueles que pulverizam seus talentos e referências em várias frentes. O cantor, compositor e instrumentista Di Souza, figura proeminente no atual cenário musical da cidade, comanda as seções musicais de quatro diferentes blocos: o Então, Brilha!, cujo repertório passeia pelo axé dos anos 90, o É o Amô, que aposta no sertanejo, o Pisa na Fulô, que é o primeiro bloco de forró da capital, e o Abra-te Sésamo, que milita na seara do rock, com ênfase em Raul Seixas.

“No Carnaval, a gente aproveita para experimentar, porque é uma grande colaboração, é a hora do encontro. Uma coisa que sustenta o Carnaval é a diversidade e ela é celebrada no âmbito das músicas também”, diz o artista, cujo álbum de estreia, “Não Devo Nada Pra Ninguém” (2015), tem clara influência de Tom Zé. “Sempre trabalhei muito em escolas, em projetos sociais, tenho experiência com crianças e adolescentes, e isso soma aos meus gostos. Nasci no interior, então tenho a raiz sertaneja, depois morei em favela, vivenciei vários ambientes, quer dizer, pude estar em vários espaços que me permitiram beber numa diversidade musical variada, e isso se reflete no Carnaval”, destaca, acrescentando que, no próximo ano, pretende fundar um bloco em tributo a Bezerra da Silva.

Como transita por gêneros distintos em cada um dos blocos que comanda, Di Souza considera que sua verve como compositor acaba não se expressando no Carnaval, o que não quer dizer que ele deixe de imprimir sua marca nas apresentações. “Em todos esses blocos nos quais atuo, tenho um trabalho direcionado para a percussão, para as direções musicais do repertório, da bateria, então meu lado compositor realmente não aparece. O que levo para os desfiles é a alegria, uma energia positiva que é presente no meu trabalho pessoal”, aponta.

Outro reconhecido artista da cidade que se desdobra à frente da ala musical de blocos de gêneros distintos é o trombonista Leonardo Brasilino. Ele está à frente do Bloco Magnólia, que passeia pelo jazz, pelo swing e pelo bebop; do Me Beija que Eu Sou Pagodeiro, que revisita o pagode dos anos 90; e do Lindo Bloco do Amor, que homenageia Gonzaguinha. “Nesses três eu atuo mais regularmente, mas no ano passado também saí no Batiza e, este ano, saio no Magia Negra, na Quarta-Feira de Cinzas, que tem foco na música afro-brasileira”, ressalta.

Músico de formação acadêmica, com passagem pelo Palácio das Artes e pela UFMG, Brasilino salienta que esse lastro o torna mais próximo da proposta do Magnólia. “No caso do No Me Beija que Eu Sou Pagodeiro e do Lindo Bloco do Amor, minha participação é fruto das relações com colegas de trabalho, gente com quem toquei ao longo da carreira. O Me Beija foi fundado por uma antiga banda de BH, o Chapéu Panamá, que eu integrei. Dessa experiência com eles é que veio o convite para fazer parte do Me Beija, primeiro como trombonista e depois como cantor. E no Lindo Bloco do Amor também tem isso, já trabalhei com Renegado, com Manu Dias, com Everton Coroné, com Aluízio Horta, praticamente todo mundo que compõem a ala musical do grupo”, diz.

Ele destaca que há, também, uma relação afetiva e de curiosidade para com os gêneros que pratica nesses dois blocos. Com relação ao Me Beija, Brasilino diz que na sua juventude, dos 14 aos 20 anos, costumava ouvir muito pagode. Já o Lindo Bloco do Amor o remete à infância, quando a obra de Gonzaguinha chamava sua atenção. “E tem a coisa do trânsito por gêneros musicais distintos, tenho interesse em entender como funcionam as coisas, o que se pode adaptar das versões originais. A produção musical do Magnólia, os arranjos, a direção musical é toda minha. No Me Beija, a parte de produção de arranjos tem uma orientação minha também”, destaca o músico.

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