Livros

O lado negro da Literatura

Editora carioca Darkside Books é a primeira do Brasil voltada para os gêneros de horror e fantasia

Por Franco Malheiro
Publicado em 06 de março de 2017 | 03:00
 
 
 
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Imagina uma editora na qual o diretor de criação e sócio atenda e responda e-mails pelo codinome de Chucky, o diretor comercial e também sócio, por Tio Chico, o editor, por Primo It, e o gerente de novos negócios, por Freddy Krueger. Aliás, todos os funcionários recebem um apelido. No escritório, encontra-se todos os tipos de coisas “estranhas”: de um boneco anatômico antigo a carcaças de tartarugas. Assim é o ambiente da Darkside Books, editora carioca que há cinco anos se dedica a publicações voltadas aos gêneros literários de terror e fantasia.

A editora surgiu talvez na melhor e mais simbólica data para o segmento: o Dia das Bruxas de 2012. Depois de um bom tempo de conversas regadas a copos de cerveja e do amadurecimento de ideia dos sócios Cristiano Menezes (Chucky) e Francisco Assis (Tio Chico), que já tinham experiência no mercado editorial, nasceu a Darkside, com a publicação de “Os Goonies”, de James Kahn. Desde então, a editora já lançou cerca de 80 títulos.

Chucky, nascido no Rio, mas com avó nordestina, cresceu escutando causos e lendas e desde criança criou fascínio pela fantasia. “O dia em que acabava a luz em casa era alegria”, conta e justifica seu interesse por esse tipo de literatura. E explica um dos motivos de terem investido e focado no segmento: “Percebemos que a muitos títulos o leitor brasileiro não tinha mais acesso, pois eram de um dos segmentos que havia saído do mercado, mas eram livros a que muitos queriam ter acesso”. Ele conta que, por exemplo, o clássico “Psicose”, de Robert Bloch, não era publicado no Brasil havia 50 anos. “Toda uma geração ficou sem acesso a esses títulos, sem, até mesmo, conhecer”, lamenta, se dizendo, porém, satisfeito de ter sido a Darkside a editora que trouxe ao público brasileiro o título “A Fábrica de Vespas”, de Iain Banks. “O livro é excelente, denso, de um texto complexo e até então desconhecido pelo público daqui, a não ser pessoas já habituadas e fãs do segmento”.

Psicopatas. O destaque para a Darkside se dá no capricho que suas publicações recebem. Capas muito bem-pensadas e assinadas por Chucky, muitas em capa dura, papel creme, tudo em alta qualidade. “A gente quer investir nisso, em carne de primeira para nosso leitor. Não vamos publicar qualquer coisa para depois termos que gastar muito dinheiro com marketing. Nosso marketing é o produto que entregamos. Somos psicopatas pelo capricho”, comenta. Qualidade essa que se nota na curadoria das obras. “Quero publicar livros que acredito serem a cara da editora. Quero vender um produto em que acredito, que eu compraria”, explica, mas dispensa qualquer tipo de pedantismo: “Mas acredito sempre na força da leitura. O adolescente, principalmente, precisa ter acesso à leitura, a qualquer que seja, bula de remédio é pra ser lida. Tudo é uma questão de amadurecimento”, conclui.

Em um mercado editorial em crise, com grandes editoras fechando, e os E-books ganhando cada vez mais espaço, investir no papel, com publicações caras e para um nicho tão específico, pode parecer um tiro no pé, mas Chucky rejeita esta ideia. “O papel não vai acabar, ainda existe o público fiel, que gosta da experiência de ler o livro físico. E acho que o leitor iniciante precisa começar pelo livro de papel, precisa passar por essa experiência”, determina.

Embora a Darkside tenha focao no universo do terror, Chucky chama atenção para a definição de terror. “Muitos imaginam que terror tem a ver apenas com monstros, demônios e criaturas fantasiosas, mas o terror pode estar no interior das pessoas, numa mãe, em um pai, na solidão, na guerra, e esse tipo de história também nos interessa.

A editora lançou no ano passado a biografia do João Gordo, integrante da banda Ratos de Porão e apresentador de TV. Segundo Chucky, biografias são algo que pretendem explorar. “Um país em crescimento precisa de boas biografias para serem lidas, esse é um segmento que nos interessa e muito. Boas histórias a serem contadas.

Amadurecimento. Alguns cânones do segmento, como Frankenstein, de Mary Shelley, e contos do escritor norte-americano Edgar Allan Poe, foram lançados recentemente pela editora e já obtiveram sucesso de vendas, com cerca de 8 mil cópias comercializadas em menos de duas semanas. O livro “Edgard Allan Poe: Medo Clássico” entrou na lista dos mais vendidos da revista “Veja” pela terceira semana consecutiva. “Já era um interesse nosso lançar esses grandes clássicos. O público sempre nos pediu. Mas esperamos um maior amadurecimento da Darkside, queríamos sentir o mercado primeiro.”, explica o diretor de arte.

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