Entrevista

'O pop virou a nossa casa'

Rogério Flausino fala sobre as mudanças no Jota Quest e o projeto em que ele e Sideral interpretam Cazuza

Por Lucas Simões
Publicado em 21 de setembro de 2016 | 03:00
 
 
 
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Em duas décadas de carreira, Rogério Flausino celebra um “divisor de águas” na trajetória do Jota Quest. Nesta entrevista, o vocalista da banda mineira falou sobre as influências adquiridas da world music com o produtor Jerry Barnes, a mudança de público e conceito de som ao longo dos anos, além do show que ele estreia hoje com o irmão, Wilson Sideral, focado em repertório de Cazuza.

A turnê do disco “Pancadélico” remete ao início da banda, bebendo no soul e no funk, mas veste uma roupagem pop cada vez mais usada pelo Jota Quest. Como tem sido essa mudança de rumos?

Hoje em dia nós vivemos um outro momento, realmente. Conseguimos seguir em frente com todas as limitações de mercado e fazer parcerias importantes. A relação com a gravadora (Sony Music) é mais de parceria do que investimento. Essa é uma grande diferença. E a música do Jota ficou mais universal, descobrimos que poderíamos atingir muita gente com o pop e o pop virou a nossa casa.

Em 20 anos de banda, as músicas mais antigas dialogam de alguma maneira com as composições de agora?

Com certeza. Os nossos shows mais recentes têm mostrado isso. “Fácil” é uma das músicas que tocamos em um arranjo novo, mas mantendo aquela coisa icônica do violão. Mas antes disso a gente tem um momento super enérgico, com “Blecaute” estourando a pista, por exemplo. E está lá o cara que é fã das músicas antigas dançando as novas. Acho que está aí a interseção da nossa carreira, são fases bem diferentes, mas que compõe uma mesma identidade. Não abandonamos um passado, ao contrário, retornamos ao funk e ao black soul, só que lendo esses ritmos de outras maneiras. A música eletrônica nos mostrou mil possibilidades.

O fato de vocês terem gravado dois discos em três anos é um reflexo da nova forma de trabalho, influenciada muito pelo norte-americano Jerry Barnes?

Nesses últimos anos nós fizemos 27 músicas e eu posso garantir que a gente tinha mais 30 canções. Nós adquirimos essa característica com o tempo. Estou sempre escrevendo letras no celular, pedaços de coisas. O PJ está sempre criando grooves, o Marco Túlio idem. Mas, com certeza, o que aprendemos trabalhando nosso som em Los Angeles com o Jerry foi fundamental. Ele é perfeccionista, entende bem o que queremos, sabe encontrar a linha do groove que começamos a perseguir tanto no “Funky Funky” como no “Pancadélico” – e nos mostrou referências da world music que encaixavam bem com a gente. Os últimos dois discos são um divisor de águas porque nos trouxe maturidade.

Você e o Wilson Sideral estrearam show em homenagem ao Cazuza. Fazer uma turnê juntos é um projeto antigo de vocês, certo?

Isso vem lá de trás, da época em que tínhamos uma banda cover de Barão Vermelho e Cazuza em Alfenas. No ano passado, depois da morte da minha mãe, resolvemos tocar esse projeto porque ela queria os filhos juntos numa turnê. Estou conversando com a Lucinha Araújo há um tempo. Em 2015, com os 25 anos da Sociedade Viva Cazuza, íamos fazer alguma coisa, mas não aconteceu porque tinham outras pessoa envolvidas, como a Paula Lavigne, que estava na turnê do Gil e Caetano, além de compromissos de outros músicos. Nossa ideia para o ano que vem é editar um disco muito especial, tem muita gente envolvida e não vamos fazer nada com pressa. Afinal, não dá para você ficar botando pilha em um Caetano Veloso, em um Nando Reis. Eles são alguns dos que vão musicar poemas inéditos do Cazuza para esse trabalho.

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