Artes visuais

O rei da cena em Nova York

Exposição com cerca de 80 trabalhos do celebrado Jean-Michel Basquiat pode ser vista a partir de sábado no CCBB

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 12 de julho de 2018 | 03:00
 
 
 
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A Nova York clean, exuberante e gentrificada de hoje destoa muito daquela de meados dos anos 70 e 80, quando a cidade registrava um dos maiores índices de criminalidade do mundo e encontrava-se praticamente falida. Em meio ao caos, havia, contudo, uma pujante cena artística, da qual emerge, por exemplo, a cultura hip hop.

Foi nesse cenário que surgiu um dos principais artistas do século XX, Jean-Michel Basquiat (1960-1988), cuja maior mostra já realizada na América Latina poderá ser vista a partir de sábado no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na praça da Liberdade, após passar por São Paulo e Brasília.

Nascido e criado no Brooklyn, filho de pai de origem haitiana e de uma porto-riquenha, Basquiat conquistou reconhecimento rapidamente, revelando-se um prodígio das artes e com visibilidade comparável ao ícone da pop art, Andy Warhol (1928-1987), de quem foi amigo e parceiro.

Na mostra do CCBB, que tem curadoria do holandês radicado no Brasil Pieter Tjabbes, estarão expostas cerca de 80 obras pertencentes ao acervo do israelense Jose Mugrabi, considerado o maior colecionador de Basquiat no mundo. Entre elas, três telas assinadas conjuntamente por Basquiat e Warhol.

Em uma das salas do CCBB, o público poderá encontrar peças feitas com materiais reutilizados por Basquiat, inclusive a porta do banheiro do apartamento onde ele e a namorada Suzanne Mallouik viviam que traz escritos como “famous negro athletes” (famosos atletas negros), aceno crítico do artista ao fato de que, na época, negros só atingiam a fama se fossem jogadores de basquete ou cantores de jazz. “Nela nós já conseguimos perceber alguns elementos que são recorrentes no trabalho de Basquiat, como a coroa, que vai aparecer em vários dos seus quadros”, diz o curador.

Mea-culpa. Tjabbes conheceu Basquiat em 1985, em Paris, mas pouco recorda desse encontro. “Eu já tinha visto a obra dele em 1982, mas não me interessei muito. Depois, na Bienal de Paris, estive junto com ele e Keith Hering (1958-1990). Nós saímos à noite, mas quase não lembro do que aconteceu porque nós bebemos muito vinho francês barato, e naquela época eu não via a obra dele como aprecio hoje. A obra de Basquiat não mudou, mas eu mudei”, completa.

A mesma mea-culpa relatada pelo curador tem sido expressa por outros historiados nos últimos dez anos. Se hoje não é possível falar de arte do século XX sem abordar o trabalho de Basquiat, na década de 80, vários críticos acusavam o hype em torno da obra do pintor de ser um fenômeno de marketing criado por galeristas, e acreditava-se que logo a febre iria passar. “O que não aconteceu. A obra dele apenas continuou sendo valorizada após a sua morte (o artista morreu precocemente, aos 27 anos, de overdose) e hoje alcança números astronômicos”, pontua Tjabbes.

Em 2017, uma pintura de Basquiat foi vendida por US$ 110,5 milhões, sendo o valor mais alto já pago a um artista norte-americano. Foi a primeira obra feita a partir dos anos 80 a alcançar tal valor e a sexta mais cara leiloada em toda a história – estima-se que o preço de um Basquiat aumentou mais de dez vezes nos últimos 15 anos.

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