Segundo o próprio historiador Márcio Jardim, ele não é um sujeito que agrada a todo mundo. O motivo" Ele é responsável por catalogar, por iniciativa própria, 129 obras de Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho.

"Eu fui o primeiro a publicar as obras que pertencem a coleções particulares. Essa iniciativa rendeu certa polêmica, porque as obras ainda não foram reconhecidas oficialmente por um pronunciamento do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan)".

Uma vez que o último pronunciamento oficial foi feito ainda na década de 1950, outras avaliações se tornaram necessárias. "De lá pra cá, muita coisa foi descoberta", comenta. Hoje, existem sete catálogos particulares feitos por historiadores.

"Entre os especialistas na obra do artista, há concordância em 95% da autoria das peças", diz Jardim, que é graduado em História pela Universidade Federarl de Minas Gerais (UFMG) e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.

Desta maneira, os 163 registros contidos no levantamento do Iphan na década de 50 passaram para 238, em 1977, na avaliação de Geraldo Dutra de Morais. "Eu, em 1995, relacionei 304 obras e, em 2006, passei para 425 obras", revela.

Existe uma razão clara para que Jardim tenha investido dez anos de sua vida para garimpar estas obras a mais. Os 84 anos vividos por Aleijadinho, entre os anos de 1730 a 1814, justificam sua empreitada.

"Contabilizar cerca de 200 esculturas dele, em 57 anos de trabalho, não chega a ser um número grande. Quem fala que ele teria que ter vivido dez vidas para fazer tudo que eu falo que ele fez nunca estudou a vida dele. Ele trabalhava todo dia, não tinha INSS e ainda sustentava uma equipe".

O historiador não se deteve apenas às obras esteticamente perfeitas. "Aleijadinho teve várias fases produtivas e é natural que a perfeição anatômica de suas obras tenha melhorado ao longo do tempo".

O registro, batizado de "Aleijadinho " Catálogo Geral da Obra", lançado pela editora KPTF (R$ 80), contém a relação de 318 esculturas, 29 obras de talha, 25 de escultura ornamental, 23 de arquitetura, 22 de marcenaria, cinco desenhos e outras três sem especificação. Todas ilustradas a grafite por João Carlos Madeira.