Chico Buarque

Os muçulmanos do Rio 

Irmã do compositor, Miúcha antecipa algumas faixas do novo CD


Publicado em 16 de agosto de 2017 | 03:00
 
 
 
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Com suas informações sendo estritamente controladas, “Caravanas”, o novo álbum de Chico Buarque – que chega às lojas físicas e virtuais no próximo dia 25 –, mostrou até agora apenas sua face romântica. “Tua Cantiga”, primeiro single do disco, tem uma letra de amor. Mas ao menos uma das faixas aborda uma temática social e episódios do cotidiano: “As Caravanas”, nona e última canção do álbum.

“É a música mais impressionante do Chico, entre as recentes. Fala dessas caravanas da garotada que vem de ônibus das favelas para as praias da zona Sul e a reação das pessoas ‘honestas e virtuosas’ que morrem de medo dessas ‘pessoas estranhas, suburbanos tipo muçulmanos’”, diz a cantora Miúcha, irmã do compositor.

Os acontecimentos a que ela se refere ocorreram nos últimos verões cariocas, quando ônibus vindos dos subúrbios em direção às praias da zona Sul do Rio foram alvos de blitze e revistas. As autoridades acusavam os jovens de serem responsáveis pelos arrastões na orla.

Segundo Miúcha, “As Caravanas” também trata do tema de seu título de forma mais ampla, remetendo às ondas de imigrantes internacionais. “Ela é exatamente o avesso de ‘Tua Cantiga’. Aborda as coisas que estão rolando, os refugiados pela Europa, as pessoas que estão sofrendo ao saírem de seus lugares. É uma música muito impressionante.” Em termos de melodia, a canção “começa de um jeito e acaba meio que num funk”. Miúcha diz que o novo disco é o melhor de Chico em muito tempo. Entre as sete inéditas do CD, há um bolero, “Casualmente”, criado em parceria com o baixista Jorge Helder – a dupla já havia composto “Bolero Blues” (“Carioca”, 2006) e “Rubato” (“Chico”, 2011). Feito para a cubana Omara Portuondo cantar no CD de estreia de Helder, que atrasou e só será lançado em 2018, ele acabou incorporado ao disco de Chico. Sua letra, em espanhol, descreve um passeio romântico por Havana.

“Caravanas” traz duas regravações, uma para “A Moça do Sonho”, de Chico e Edu Lobo, que eles fizeram para a peça “Cambaio” (2001) e já haviam cantado com Maria Bethânia, e outra para “Dueto”, que o cantor gravara com Nara Leão (em 1980) e com Zizi Possi (2001). Desta vez, ele se fez acompanhar da neta Clara Buarque, filha de Helena e de Carlinhos Brown. Num vídeo divulgado nas redes sociais, os dois improvisam e atualizam a letra da canção (“Consta nos mapas, nos lábios, nos lápis...” etc.), citando novas tecnologias como Instagram, YouTube, Facebook, Tinder e Telegram.

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