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Paixão, crime e suspense na época de ouro do Rio

Cidade Probida estreia nesta terça-feira (26) na Globo com Vladimir Brichta vivendo um ex-policial que vira detetive


Publicado em 26 de setembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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SÃO PAULO. Caracterizada por apresentar heróis cínicos, efeitos de luz contrastados, uso constante de flashbacks, tramas complexas e um questionamento pretensamente existencial, a estética noir floresceu e se desenvolveu principalmente no cinema norte-americano dos anos 40, com clássicos como “Falcão Maltês” (1941) e “Laura” (1944). A série “Cidade Proibida”, que estreia nesta terça (26), às 22h30, na Rede Globo (os dois primeiros capítulos estão disponíveis no GloboPlay), se apropria desses elementos e os adapta para a realidade tropical do Rio nos anos 50, quando a cidade ainda era a capital federal. No centro de tudo, um detetive especializado em casos extraconjugais, um delegado corrupto, um jovem conquistador barato e uma linda garota de programa.

“Para que não se tornasse uma paródia do noir americano, uma solução era ter um olhar moderno sobre o gênero”, explica o diretor-geral Maurício Farias. “As produções norte-americanas eram feitas em estúdio, com poucos atores. A gente procurou ir pra outro lugar. Então, temos mais externas, procuramos fazer uma câmera mais moderna. Tem uma influência do estilo, mas o revisitamos de outra maneira. Tem um pouco de estúdio e nada de cidade cenográfica. Foi um trabalho gigante para a cenografia e o figurino”.

A série acompanha, a cada capítulo, um caso diferente do detetive Zózimo (Vladimir Brichta). O delegado Paranhos (Ailton Graça), o gigolô Bonitão (José Loreto) e a prostituta Marli (Regiane Alves) fazem parte do círculo de colaboradores do ex-policial que se dedica a desvendar histórias sórdidas de traição e falsidade, gravitando entre o mundo glamouroso da elite e os porões do submundo da época. “Na verdade, ‘Cidade Proibida’ foi concebida, há dez anos, como um quadro do ‘Fantástico’, mas era muito caro para os padrões da época”, explica Mauro Wilson, criador e redator final do programa.

Brichta, que está em cartaz nos cinemas com “Bingo: O Rei das Manhãs”, escolhido para representar o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro, não faz segredo para ninguém que Zózimo foi um dos personagens mais difíceis que encarou. Além da caracterização, com o terno de giz, o bigode fino e os óculos, o ator fez uma pesquisa sobre a época. “Assisti muitos filmes, mas principalmente ‘Los Angeles – Cidade Proibida’, que tem elementos muito parecidos”, disse o ator, que deve fazer um intervalo nas gravações no início de novembro, antes de voltar para completar a segunda temporada da série.

O rebuscamento na preparação dos atores se estendeu a outros personagens. Para compor Marli, Regiane Alves conversou com uma prostituta que circulou pelo Rio no período em que são ambientados os episódios. Hoje com 74 anos, ela contou à atriz que as mulheres que faziam programas não iam para as ruas. Ficavam nos bordéis, onde muitas autoridades e políticos se reuniam. “Foi um aprendizado conversar com essa mulher”, disse Regiane. “Ninguém sabia o que ela fazia. Era uma atividade muito discreta e assim ela criou as filhas, que tratava com rédea curta em casa”.

 

HQ que inspirou trama ganha nova edição em outubro

SÃO PAULO. Principal fonte de inspiração de “Cidade Proibida”, o álbum de quadrinhos “O Corno que Sabia Demais e Outras Aventuras de Zózimo Barbosa”, com texto de Wander Antunes e desenhos de Gustavo Machado, ganhará nova edição no início de outubro pela Devir.

Além das aventuras de Zózimo publicadas na edição original, lançada pela Pixel em 2007, a reedição trará duas HQs inéditas do detetive e oito ou nove investigações no formato de conto. “Gustavo tinha a agenda complicada, então não deu para transformar as outras histórias em quadrinhos”, diz Antunes.

Criador de Zózimo e da maioria dos personagens que rodeiam o detetive, Antunes é um caso não tão raro de artista mais reconhecido no exterior do que no Brasil. Antes de lançar “O Corno que Sabia Demais” aqui, ele teve sete de suas histórias publicadas no mercado franco-belga. Uma delas, “Toute la Poussière du Chemin” (Todo o pó do caminho, em tradução livre), de 2010, com desenhos de Jaime Martin sobre as consequências da crise de 1929 no interior dos EUA, foi finalista no Festival de Angouleme.

Em São Paulo desde 2012, o artista goiano está redesenhando “A Boa Sorte de Solano Dominguez” (2007), cujos traços da primeira versão são de Mozart Couto. Ele também prepara “Depois que o Diabo Foi Embora e Outros Contos Violentos e Vulgares”, com histórias de misticismo e morte.
“Venho de Jataí, em Goiás, depois fui para Cuiabá, no Mato Grosso”, conta. “São histórias desses lugares que me interessam. Sou um cara do Brasil profundo”.

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