Cinema

'Pantera Negra': filme tem quebra de tabus e recordes

Com equipe formada predominantemente por atores negros, filme estreia nesta quinta (15), podendo alcançar números expressivos

Por Rodrigo Salem
Publicado em 15 de fevereiro de 2018 | 03:00
 
 
 
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LOS ANGELES, EUA. “É como nos esportes, sabe?”, diz o cineasta Ryan Coogler, com seu sotaque típico de Bay Area, região que cerca a baía de San Francisco, onde cresceu. “No passado, times de beisebol e basquete não aceitavam negros, mas os empresários notaram que poderiam atrair mais público com esses jogadores. É o mesmo com o cinema. Tudo tem a ver com dinheiro”. Coogler, 31, um dos mais importantes diretores afro-americanos da nova geração, espera que “Pantera Negra”, que estreia nesta quinta-feira (15), mude esse cenário.

Apesar de não ser o primeiro herói negro da Marvel a ganhar adaptação – a honra vai para “Blade” (1998) –, o filme quebra tabus: é a primeira superprodução do estúdio escrita, dirigida, protagonizada e com equipe formada predominantemente por negros.

A ideia de trazer o personagem Pantera Negra – alter ego de T’Challa, rei da fictícia e ultramoderna nação de Wakanda, na África Central –, criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1966, teve início nos anos 90, quando Wesley Snipes batalhou para tentar viver o personagem. Numa Hollywood engessada por fórmulas tidas como vencedoras, o filme nunca saiu do papel.

Foi apenas em “Capitão América: Guerra Civil” (2016) que o Pantera Negra ganhou forma na pele do ator Chadwick Boseman, como um príncipe que enfrenta a morte do pai e ascende ao trono de Wakanda. “Não concordei com a maneira de começar a história. Achava que poderíamos esperar pelo filme solo antes”, confessa Boseman. “Mas percebi que foi uma ótima ideia, pois deu um ar trágico para o personagem”.

A trajetória do longa foi marcada por dificuldades do estúdio em executar uma superprodução – o filme custou US$ 200 milhões – comandada por herói negro. “(A Marvel) tem pessoas no poder com sensibilidade e coragem para fazer ‘Pantera Negra’, mas você sempre vai ouvir as pessoas dizendo que o longa vai ser um fracasso de bilheteria”, reclama o ator.

Muita gente deve morder a língua. Segundo o site de vendas de ingressos Fandango, o longa já chegou a compras antecipadas superiores às de “Guerra Civil” e pode render US$ 165 milhões no fim de semana de estreia nos EUA.

O resultado vai tirar um peso dos ombros do diretor, que assumiu o projeto em janeiro de 2016: “Senti uma grande pressão. O trabalho com a Marvel foi incrível, mas você pensa quanto dinheiro é gasto num projeto assim e fica intimidado. No fim, a única pressão que importa é a interna: fazer um bom filme”, disse à reportagem.

Mergulho africano. Coogler sabia que seria julgado minuciosamente, não só pelos fãs dos gibis mas também pelo fato de representar o continente africano e questões de conflitos raciais bem próximas a ele. Tanto que só aceitou a oferta após visitar a África com a noiva. “Queria que o filme mergulhasse na cultura do continente. Wakanda é um país não colonizado por europeus que representa várias tribos da África”, diz Coogler, que filmou algumas cenas externas na África do Sul e em Uganda.

Wakanda é a localidade com mais personalidade da Marvel. Coogler, que assina o roteiro com Joe Robert Cole, listou toda a história do país, da arquitetura à pirâmide social, ao longo dos anos. Diz ter se inspirado em “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles. “É meu segundo filme preferido”, conta, colocando o francês “O Profeta” (2009) no topo.

FOTO: DISNEY/DIVULGAÇÃO
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Emoção toma conta de protagonista

“Quando eu soube que eles haviam falecido...”. Em entrevista à SiriusXM, Chadwick Boseman, ator que interpreta o herói T’Challa em “Pantera Negra”, interrompeu sua fala por alguns segundos ao relembrar de dois fãs mirins que faleceram em decorrência de câncer. “O filme significa muito para muita gente”, completou ele, chorando. Durante as filmagens, Boseman manteve contato com os dois garotos – já se tinha diagnosticado que os meninos, fãs de “Pantera Negra”, estavam com câncer terminal. “Os pais me diziam que eles estavam tentando aguentar até poder assistir ao filme”, disse.

“Eu pensava: ‘Como isso pode significar tanto para alguém?’. Mas então me lembrei da minha infância, de esperar ansiosamente pelo Natal, ou por um novo videogame, ou por qualquer coisa assim. Em muitos sentidos, vivemos nossas vidas esperando por essas coisas culturais”, complementou. (Da redação)

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