Pina Bausch (1940-2009) cunhou uma das melhores definições sobre a dança contemporânea: “Eu não investigo como as pessoas se movem, mas o que as move”. A coreógrafa alemã é uma das inspirações da dançarina Priscila Patta, ao lado de nomes como Rui Moreira, Tuca Pinheiro e Dudude Herrmann. Priscila é curadora da Temporada para Solos de Dança, que tem início nesta sexta-feira (27), na Funarte, e se estende até 26 de agosto. Esta é a primeira edição do evento, realizado pela Rede Sola de Dança.
Segundo Priscila, a ideia surgiu da necessidade de criar mais espaços para a dança na capital mineira, já que temporadas de média e longa duração são raras. “Esse período mais extenso é importante para o amadurecimento da obra e do artista”, justifica. Outro fator que pesou foi a vontade de ampliar o diálogo do gênero com a cidade. Logo, não são casuais as presenças de Wagner Moreira, Marise Dinis, Tuca Pinheiro, Leno Sacramento e Lourenço Martins entre as atrações. Mesmo a internacional Dorothé Depeauw, nascida na Bélgica, reafirma essa premissa.
“Priorizamos artistas que tenham uma relação direta com Belo Horizonte ou Minas Gerais. A Dorothé, por exemplo, atualmente vive em BH”, conta a entrevistada. E foi por meio dessas pessoas que os idealizadores descobriram qual seria a temática a guiá-los. Feminismo, negritude, identidade LGBT e direitos humanos são o farol das apresentações. “Chegamos aos temas quase que por acaso, a curadoria inicialmente pensou nos artistas, e não na obra que eles tinham”, revela Priscila.
A partir desse primeiro contato com “mestres e pessoas que inspiraram”, Priscila descobriu que eles “estavam interessados em conversar sobre esses temas discutidos em nível mundial”, destaca. “É muito instigante, pela urgência desses assuntos”, completa. Para criar uma linha de raciocínio, as obras foram divididas em noites temáticas. Há espaço tanto para a abordagem de protesto quanto para leituras mais poéticas e subjetivas.
“A dança contemporânea é a do nosso tempo, ela nasce junto com nossa geração e, por isso, com nossos modos de pensar o mundo”, afiança a dançarina, que também sobe ao palco ao lado de Duna Dias e Helô Rodrigues, no dia que ficou nomeado como Temporada das Mulheres. Para Priscila, um dos grandes desafios da iniciativa é vencer a resistência de alguns espectadores. “Talvez a sociedade atual ainda não esteja tão desperta para experiências que estão no lugar do sensível”, detecta a coreógrafa.
No entanto, é sem se curvar a essas dificuldades que ela continua acreditando no poder transformador da arte. “A dança contemporânea tem a oportunidade de ampliar discussões, porque ela não é feita de passos, mas sim de pensamentos”, conclui.
Serviço. Temporada para Solos de Dança, de 27 de julho, às 20h30, a 26 de agosto, na Funarte (rua Januária, 68, centro). Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)