Música

Prêmio para Andersen Viana

Compositor mineiro conquistou o primeiro lugar no IV Concurso Internacional de Composição, realizado no Chile

Por Patrícia Cassese
Publicado em 16 de fevereiro de 2018 | 03:00
 
 
 
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A música instrumental composta no Brasil, é fato, ainda encontra barreiras para reverberar mundo afora. Não por outro motivo, o compositor mineiro Andersen Viana usa a palavra “cruzada” para definir o esforço que pontua a caminhada dos que levantam essa bandeira. Em meio aos obstáculos, porém, há espaço, sim, para reconhecimentos. E Viana acaba de amealhar mais um: no caso, o primeiro lugar no IV Concurso Internacional de Composição, promovido pela Orquestra Marga Marga, de Valparaíso, Chile.

Chancelado pelo governo chileno, por meio do Consejo Nacional de la Cultura e de Las Artes, o certame aconteceu no Centro Cultural Gabriela Mistral, em Villa Alemana, no fim do ano passado – o resultado, porém, foi divulgado somente agora, no site da orquestra.

Andersen Viana concorreu com “Sinfonia Ameríndia”, obra para orquestra de cordas que reúne elementos de tradição ocidental, utilizando aspectos ecológico-musicais que remetem ao meio-ambiente e à fauna brasileira, e na qual insere-se o “Poema Ecológico 1”, também de sua autoria. “Ao utilizar essa palavra híbrida (American + índio), de origem estrangeira, a ideia é identificar a própria gênese da ‘intelligentzia’ latino-americana, que, com sua herança de antepassados e diversas culturas amalgamadas de forma única, compreende, reelabora e integra como seu aquilo que pertence a outros povos. Foi, pois, sobre esta filosofia antropofagista que se compôs a obra”, explica o compositor.

Em seu andamento, a composição faz alusão a vários elementos da natureza, onde os instrumentos emulam sons de pássaros, onças e outros animais, rios e riachos. “E, também, a temas míticos xinguanos, recolhidos pelos irmãos Villas-Boas naquele que foi um trabalho antropológico ímpar. Enfim, a ideia foi utilizar todos os meios visíveis e invisíveis existentes na floresta tropical e na cultura dos povos que a habitam”, especifica. A esta atmosfera naturalista musical, prossegue o autor, foram agregados, alternadamente, procedimentos composicionais dos mais diversos. “Formas barrocas, variados tipos de contraponto etc, formando um todo coeso, dividido em quatro movimentos contrastantes: andante, allegro, andantino mosso e andante-allegro (Prelúdio e Fuga)”.

Sobre o concurso, o compositor salienta que o envio dos trabalhos (aberto a compositores de toda a América Latina) foi feito anonimamente – e assim julgado. Em relação ao prêmio, ele diz que, para além do valor em dinheiro, o que o anima é o fato de sua obra musical estar sendo difundida e interpretada pela orquestra oficial chilena. Na verdade, Andersen comemora o fato de países hermanos estarem abrindo frentes de incentivo à cultura num espectro mais amplo. “Uma das metas destes programas é incentivar artistas e intelectuais, oferecendo condições financeiras e logísticas para que desenvolvam sua criatividade, experimentem e criem trabalhos autorais”. Não só. Por meio deles, prossegue, é possível estabelecer um intercâmbio de expoentes de diversos pontos do continente.

Para além do certame, Andersen conta que dá prosseguimento à parceria firmada com o professor Angel Diego Merlo, referente ao universo da música digital, bem como para filmes. Há, ainda, outras duas parcerias em curso, uma com o violonista, maestro e poeta mexicano Ivan Trujillo e outra com a pianista Stephanie Elbaz.

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