Apesar de reservar espaço generoso para o grafite, o break e manifestações afins, quando se fala em hip hop, o que primeiro vem à mente é sua vertente musical o rap. Como pretende apresentar um amplo painel do movimento no Estado e no resto do Brasil, o Cidade Hip Hop escalou grupos e artistas que sintetizam e mapeiam a produção atual.
Roberto Raimundo, responsável pela curadoria musical, diz que pretendeu, com a programação, oferecer um amplo painel do que se fez e do que se faz na seara do rap no Brasil.
Procurei o pessoal do Retrato Radical, que está no cenário hip hop mineiro há 20 anos, falando do cotidiano da cidade. Também falando dessa relação do jovem com a cidade, tem o pessoal do Costa a Costa, do Ceará, que adota um certo sotaque regional ao juntar referências de ritmos como o coco e o carimbó. O ZÁfrica Brasil, de São Paulo, trabalha com a ideia do quilombo urbano, a temática deles passa por essa coisa da vida do jovem na periferia. O Kontrast é um grupo que nasceu no bairro Ribeiro de Abreu e circula muito pela periferia da cidade. E tem ainda o Julgamento, que está na cena desde meados dos anos 90, o Lindomar 3F, que é de Uberaba e já começa a repercutir fora do Estado, o Actitud Maria Marta, da Argentina, e o Renegado, que já extrapolou as fronteiras da comunidade del, o Alto Vera Cruz, e hoje fala para todo o Brasil, diz.
A propósito, Rômulo Silva, coordenador geral do Cidade Hip Hop, destaca que a trajetória de Renegado é emblemática do que o evento quer discutir. A cidade não é apenas um formato geográfico ou administrativo, ela é um conjunto, e, por isso, é bom termos um nome como o Renegado na programação porque hoje ele fala para a periferia e para a zona Sul com a mesma propriedade, diz.
Roberto ressalta que, diferentemente de há 15 ou 20 anos, o hip hop hoje está disseminado na sociedade, não se limita mais a um gueto. Ele ainda está na periferia, mas também está no centro da discussão acerca de várias coisas que qualquer metrópole vive atualmente. Na hora de compor a programação de shows, nem pensamos muito no público, pensamos na representatividade que os artistas convidados têm para esse contexto, diz.
A conceituação teórica sobre o que representa hoje o hip hop e sua relação com a cidade encontra esteio nos debates em que, a partir de hoje, serão abordados temas como A Juventude e o Hip Hop: Diálogos Sobre Participação Juvenil e Cultura, A Cidade, a Cultura e o Hip Hop: Desafios e Possibilidades e Direitos Culturais: Hip Hop Como um Espaço de Produção de Arte e de Expressão. Entre os debatedores, MCs e DJs, como Aliado G, do grupo Face da Morte, de São Paulo, e o DJ Francis, do NUC, e também professores e estudiosos, como Juarez Dayrell, coordenador do Observatório da Juventude da UFMG, e Luciana Andrade, coordenadora regional da pesquisa Instituto do Milênio Observatório das Metrópoles/MG.
Quem se interessar pode também acompanhar os workshops que serão desenvolvidos ao longo da semana no Centro Cultural da UFMG, abordando desde a prática do rap até as novas características do break e as interseções do grafite com o design. A programação completa está no site www. cidadehiphop.com.br