Projeto do "ingresso amigo" facilita o acesso ao cinema

Muita gente não sabe, mas há cerca de um ano, a gentileza tem gerado mais pessoas assistindo a filmes no cinema em Belo Horizonte. A culpa é da psicóloga Cecília Goursand, de 28 anos, que em setembro do ano passado teve uma ideia genial - e gentil. Estimular o hábito de ir ao cinema por meio do “ingresso amigo”, iniciativa implantada, desde então,  no Cine Belas Artes, no bairro Lourdes, região Centro-Sul de Belo Horizonte.

É assim: de segunda à quinta-feira, quando bater a vontade de ir ao cinema mas o dinheiro está curto, é só chegar na bilheteria do Belas Artes e procurar por um ingresso disponível - e já pago. Depois disso, basta escolher um filme, um horário, e assistir a cerca de duas horas de um exemplar da sétima arte. A gentileza pode ser disseminada quando, em outra oportunidade, o dinheiro não estiver tão curto. Basta deixar um ingresso pago na bilheteria do cinema, para que outra pessoa possa assistir a um filme.

“Eu tive essa ideia pensando em mim. Nem sempre eu tinha dinheiro para ir ao cinema, coisa que eu adoro. Mesmo porque o preço dos ingressos não é acessível a todo mundo, e nem todos podem pagar a meia-entrada. Acho que esses valores não condizem com a realidade. Me inspirei na ideia do café [iniciativa pioneira em São Paulo, na qual o cliente do estabelecimento pode deixar um café pago para outra pessoa tomar], que concentrava o projeto em pessoas mais humildes, que não poderiam pagar por um café. Com cinema, eu acho mais difícil essa restrição, porque a gente não tem como avaliar quem é merecedor ou não do ingresso. Acho que todo mundo deve ter acesso a cultura, desde o rico até o pobre. E de qualquer forma, todo mundo tem um dia em que está com pouco dinheiro no bolso”, explica Cecília. 

Após a ideia, o passo seguinte foi procurar a administração do cinema e propôr a troca de gentilezas. “Fui na cara de pau mesmo, liguei lá para saber quem administrava, e receberam a ideia de braços abertos. Até divulgaram o ingresso amigo na página deles na época. Mas seria ideal que isso fosse divulgado lá dentro, porque muita gente não sabe que isso acontece”, conta a psicóloga.

A cinéfila se diz satisfeita com o projeto. “Eu estou gostando, as pessoas estão tendo bom senso. Quando alguém pega um ingresso amigo em um dia de pouco dinheiro, depois ela volta, em um dia melhor, e deixa outro ingresso pago”, comemora.

Como acontece com as boas ideias, o sonho de Cecília é que a iniciativa se espalhe, não só em outros cinemas de BH, mas no Brasil inteiro. “Tem que disseminar mais essa ideia, pras pessoas conhecerem e saber que isso é possível. Acho que o projeto pode estimular o acesso a cultura, já que a desculpa de muitos é que o ingresso do cinema está caro”, conta Cecília.

Se é verdade que gentileza gera gentileza, a ideia de Cecília tem tudo pra se espalhar e ganhar cada vez mais adeptos.  Ela também é a mente aficionada por cinema que está por trás do Lupa, blog que dá dicas sobre filmes e motivos para assisti-los. Clique aqui para conhecer.