Rap

'Quero reconstruir o mundo'

Disponível há pouco mais de uma semana na internet, o disco “O Menino que Queria Ser Deus, de Djonga, é aclamado

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 22 de março de 2018 | 03:00
 
 
 
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Postadas no último dia 13 no YouTube, as dez faixas do álbum “O Menino que Queria Ser Deus”, do rapper mineiro Djonga, 23, já somam quase 4,5 milhões acessos. Marca semelhante foi alcançada no Spotify, apontando o sucesso imediato do trabalho, que é o segundo de sua carreira gravado em estúdio, desde sua estreia com “Heresia” (2017).

Para ele, a boa repercussão do disco – que tem previsão de lançamento em Belo Horizonte no dia 21 de abril – se deve à maior maturidade musical envolvida no projeto. “Acho que minha lírica está mais consistente e mais bem trabalhada, de uma forma que facilita a compreensão das pessoas, embora eu ache que esse disco seja mais denso que ‘Heresia’”, comenta Djonga.

Perto do mais recente, o primeiro soa mais “cru”, o que, para ele, não é um defeito, mas, de fato, representa outro momento. “‘O Menino que Queria Ser Deus’ teve uma produção mais profissional, foi realizado com mais tempo e teve mais participação minha. Eu acompanhei todos os processos, desde a feitura dos beats às gravações até a finalização do disco. Eu também me sinto um MC mais preparado”, afirma ele.

O rapper também celebra as parcerias recentes que, de acordo com ele, permitiram agregar outras sonoridades às composições. “Achei interessante que também fosse possível ouvir outras vozes além da minha, então eu chamei uma galera de amigos meus”, diz.

Entre eles figuram Sidoka e Sant (“Ufa”), Paige (“Corra”) e Karol Conka (“Estouro”). “São pessoas que admiro e que admiram meu trabalho. Algumas dessas trocas nós já vínhamos ‘cozinhando’ há um tempo. Eu e o Sant, por exemplo, tivemos a ideia de fazer uma música juntos, e isso era para ter acontecido no primeiro disco, mas só agora que se concretizou. Acho que todo mundo que participou desse álbum tem a ver com meu trabalho”, pontua.

Com Karol, inclusive, ele dividiu a autoria da letra de “Estouro”. “Eu já tinha feito uma parte, apresentei para ela, que, depois, acrescentou suas linhas. A gente pensou em uma letra que continuava as ideias, mas que mantivesse a tom da fala dela. Acho que isso gera uma música diferente do que estamos mais acostumados”, relata.

“Acidentes”. “O Menino que Queria Ser Deus” traz outras surpresas, como a música “De Lá”. Nessa, Djonga surge cantando, acompanhado, principalmente, pelo violão do carioca Rafael dos Anjos e do baixo de Vinicius Ribeiro, que integra o trio mineiro Zevinipim.

Nada rap e totalmente canção, a faixa, relata ele, é resultado de um “acidente”. “Nós estávamos produzindo a música em um estúdio de Belo Horizonte, mas tivemos um problema com a gravação de alguns instrumentos. Nós perdemos alguns desses registros. Havia conga, mais percussão, porém o que nós conseguimos recuperar melhor foi o baixo e o violão. A música foi toda refeita no processo de remasterização realizado no Rio de Janeiro. Lá também foi acrescentado alguns elementos eletrônicos”, conta.

Aprendizado. Para Djonga, o título do disco evoca o desejo de transformação e recriação a partir da arte. “Eu quero reconstruir o mundo e desconstruir também. Fazer as coisas darem certo. Quero falar quando tudo dá errado, acho que isso vem dessa vontade, dessa urgência do tempo que estamos vivendo”, reforça Djonga.

Esse esforço não contempla só um movimento externo, mas envolve também investidas em questões pessoais, como ecoa o verso ‘vou me reconstruir’ entoado por ele e também Karol em “Estouro”.

“Principalmente nós que somos artistas, vivemos tudo de forma intensa. O aqui e o agora. Nós temos que tomar decisões e mudar quando necessário. Eu acho que muita coisa já penso diferente, mas antes disso eu tive que vivenciar outras etapas. Sei que ainda tenho meus defeitos, mas não posso naturalizá-los. E algo muito importante é trabalharmos a cabeça dos que estão vindo, nossos filhos e filhas, e, assim, eles poderão ajudar a mudar a mentalidade das próximas gerações”, completa.

Esse aprendizado, que é algo contínuo, ele identifica já ter permeado a feitura de seu segundo CD. “Acho que eu estou mais atento e tenho mais cuidado em falar algumas coisas. Mas, às vezes, trato de uma realidade violenta, e isso tem que ser visto dentro do universo do objeto de arte, como um filme ou uma peça de teatro. Muitas vezes, na música, estou contando uma história, como um diretor de um filme ou de uma série, seja como (Quentin) Tarantino em ‘Bastardos Inglórios’ ou José Padilha em ‘Tropa de Elite’. E existem horas em que há um olhar meio fragmentado: ‘nossa, ele usou essa palavra’. E eu acho importante ter uma visão do contexto”, conclui.

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