Artes cênicas

Sem medo de olhar para as urgências 

Ao completar 15 anos de convívio, atores do Luna Lunera refletem sobre as trajetórias individuais e coletivas

Por Joyce Athiê
Publicado em 30 de março de 2016 | 03:00
 
 
 
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Além das reflexões filosóficas, para falar sobre o tempo em “Urgente”, espetáculo do grupo Luna Lunera que faz sua estreia nesta quinta, no Centro Cultural Banco do Brasil, o elenco foi buscar nas vivências pessoais um caminho particular para abordar aquilo que é compartilhado entre tantos os indivíduos.

Um olhar para a vida e para as próprias experiências já havia sido praticado em outros espetáculos do grupo, de forma particular em “Não Desperdice Sua Única Vida ou O Mundo das Precariedades Humanas ou Auto Biográfico ou As Patinadoras no Planeta do Dragão ou Seis Atores à Procura do Seu Personagem ou Nenhuma das Opções Anteriores”. Na peça, mistura-se aos personagens relatos autobiográficos dos atores.

“Partimos das nossas experiências e urgências para dar um lugar específico a uma reflexão que é tão comum. Fizemos essa investigação pensando nas urgências que embolam nossos desejos. Refletimos sobre como estamos sujeitados a muitos sistemas, sejam institucionais, econômicos ou políticos, e como, diante disso, é preciso ter atenção para detectar o que é que nos está sendo imposto”, afirma Miwa Yanagizawa, uma das diretoras do espetáculo.

“Assim, a peça traz esse trânsito entre o ator e o personagem ao contar fragmentos das histórias desses cinco personagens que coabitam um espaço mínimo e cheio de rachaduras”, conta a diretora.

No trabalho de escuta, o grupo investigou as ansiedades pessoais e coletivas em relação ao tempo que atropela o dia a dia, buscando distinguir as verdadeiras urgências das angústias criadas pela contemporaneidadeMas Odilon Esteves, ator do grupo, explica que há algo no trabalho que dá outra dimensão ao que é retirado do real..

“Apesar desse trabalho que parte do biográfico, não sei bem em que dose está isso. Não estamos contando histórias nossas. Tem estímulos que partem de nossas vidas, mas que foi muito modificado por todas as referências que estudamos, dando outros contornos e camadas para essas narrativas”, pondera Odilon.

Em época de comemorar os 15 anos da formação do grupo que se deu quando os atores do Luna Lunera eram ainda uma turma de estudantes de teatro do Centro de Formação Artística do Palácio das Artes (Cefar), o espetáculo “Urgente” emerge de inquietações que vão refletir também o tempo de vivência e trocas coletivas do grupo.

“Sempre estamos vivendo e avaliando a nossa história juntos, a maneira como estabelecemos as relações internas, as complementariedades. Mas, nessa peça, foi preciso olhar para nossos conflitos internos, entendidos como matéria-prima. Precisávamos ter coragem e olhar para estes 15 anos de convívio, sem medo”, conta Odilon.

“Tentamos rever qual a função do teatro para nós. Por que fazemos isso e por que continuamos juntos? E estamos aí, tentando lidar com isso. Estou feliz porque tivemos a coragem de falar nossas verdades. Agora, é como um ciclo que se fecha para abrir um novo. Na verdade, é uma continuação, mas que dá sensação de uma nova etapa”.

Mas, na bagagem acumulada, vão também as experiências que o grupo gosta de reafirmar. “Estamos, novamente, fazendo uma peça polifônica. Estamos em cena quase o tempo todo, em zonas de solidão. Não vemos uns aos outros, mas o que faço compõe o trabalho do outro. Isso nos tira a ideia do que seja esse espetáculo, mas tenho a sensação de prazer em fazê-lo”, declara o ator.

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