Nostalgia

Sequência de 'Trainspotting' supera a média

Redação O Tempo


Publicado em 23 de março de 2017 | 03:00
 
 
 
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SÃO PAULO. Na cena essencial de “T2 Trainspotting”, Renton (Ewan McGregor), Sick Boy (Jonny Lee Miller) e Spud (Ewen Bremner) vão visitar o local onde está enterrado um amigo que morreu 20 anos antes. Em meio a uma discussão sobre erros do passado, Sick Boy diz a Renton: “Nostalgia: é por isso que você está aqui. Você é um turista em sua própria juventude”.

O motivo para ver “T2” não é diferente: nostalgia. Pela juventude e por “Trainspotting” (1996) – entidades que se confundiam duas décadas atrás, algo que talvez não seja compreendido por quem era novo ou velho demais à época.

O filme e sua trilha sonora refletiram, definiram e inventaram uma certa juventude dos anos 1990 (a outra é filha do Nirvana), com seu hedonismo desesperançado, drogas sintetizadas ou não, música eletrônica e britpop.

Mas “Trainspotting” é um obscuro objeto da nostalgia: seus protagonistas eram cheios de som e fúria, mas perderam amigos e filhos pelo vício em heroína, brigaram, roubaram e traíram uns aos outros.
Por isso, “T2” tem a sabedoria de não ser nostálgico, mas sim um filme sobre a nostalgia, com plena consciência sobre as dores e as ironias da passagem do tempo.

No final do original, Renton foge de Edimburgo rumo a Londres furtando o dinheiro do assalto que cometeu com os amigos Sick Boy, Spud e Begbie (Robert Carlyle).

Em “T2”, Renton retorna à Escócia quando a mãe morre. Lá, reencontra Spud, ainda às voltas com o vício em heroína, e Sick Boy, que sobrevive chantageando pessoas com vídeos comprometedores.
Com a ajuda de Veronika (Anjela Nedyalkova), namorada de Sick Boy, os três voltam a se unir para tentar ganhar dinheiro fácil, dessa vez abrindo um puteiro.

O plano é atrapalhado pelo irascível Begbie, que foge da prisão e quer se vingar de Renton pelo dinheiro furtado 20 anos antes.

Presente. Na sua primeira metade, “T2” é um filme de personagens (e plenamente satisfatório): nós vemos nossos queridos anti-heróis tentando dar conta de suas vidas melancólicas no presente, enquanto reencontramos o seu (e o nosso) passado em rápidas cenas do filme original. Nesse momento, o diretor britânico Danny Boyle entrega o melhor do seu estilo, baseado em um certo barroquismo visual, no uso esperto da trilha e no humor cínico.

Funcionam melhor em “T1” e “T2” do que em qualquer outro de seus filmes (como “Quem Quer Ser um Milionário?” e “127 Horas”).

Na segunda metade, porém, “T2” se torna um filme de trama (e bem menos interessante): o diretor cede às convenções narrativas e tenta criar suspense e drama com a vingança de Begbie, sem muito sucesso.

Ainda assim, o longa de Boyle é uma sequência muito superior à média, justamente porque reflete sobre a nostalgia sem se ceder a ela.

Como Renton, Sick Boy, Spud e Begbie percebem em “T2”, nós não podemos nos livrar do passado e, ao mesmo tempo, nunca poderemos retornar a ele. (Ricardo Calil)

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