São Paulo. O escritor paulistano Jeronymo Monteiro costuma ser chamado de pai da ficção científica brasileira. Mas encontrar um livro seu à venda é possível só em sebos, e com sorte. Resgates de obras mais antigas desse gênero no país acontecem, em geral, por meio de coletâneas. A coleção Ziguezague, lançada pela editora Plutão Livros, inaugura agora um trabalho de recuperação mais profundo dos autores do gênero ao trazer obras integrais em e-books (a R$ 5,90, cada).

A série estreou com quatro publicações, com destaque para “Três Meses no Século 81”, publicado por Monteiro em 1947. Para contar uma história de viagem no tempo, ele não só buscou inspiração em H. G. Wells, como também usou o escritor britânico em sua narrativa, como um personagem.

Monteiro escrevia textos do gênero desde antes da década de 60, marco do período chamado de “primeira onda da ficção científica nacional”. Mas, ainda assim, ele é incluído nessa fase, que contava também com os autores da chamada geração “GRD” – que ganhou esse nome por estar ao redor do editor Gumercindo Rocha Dorea.
De dentro desse grupo, a Ziguezague trouxe uma nova edição de “Eles Herdarão a Terra”, de 1960, coletânea de contos de Dinah Silveira de Queiroz sobre encontros de brasileiros com inteligências extraterrestres.

A partir dos anos 80, começam a ser lançadas as obras dos autores da segunda onda. Desse período, a Ziguezague publicou “Patrulha para o Desconhecido”, de Roberto de Sousa Causo, e “O Ovo do Tempo”, de Finisia Fideli.

Na visão de Roberto Fideli, editor da Plutão e filho de Sousa Causo e Finisia Fideli, a literatura brasileira tem dificuldade para manter sua memória. “Muita gente não sabe que o país tem tradição na ficção científica desde o século XIX, mesmo que esses textos não fossem classificados com esse termo”, diz.

Até junho, a Ziguezague deve lançar pelo menos um novo título por mês. Entre as obras, estão textos inéditos de escritores contemporâneos e dos anos 2000, classificados pelos teóricos como da terceira onda.