Música

SPC comemora três décadas de carreira com muitos sucessos e ‘lados B’

Criado em Uberlândia, grupo de pagode se apresenta em BH como um quarteto

Por Raphael Vidigal
Publicado em 29 de novembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Do lado de fora, 2.000 pessoas se acotovelavam com o mesmo objetivo. Crianças, mulheres, homens, jovens, adolescentes e até alguns senhores e senhoras de idade mais avançada formavam uma única massa indistinta, cujo esforço era, além de inglório, inútil. Eles não conseguiriam entrar no Coliseu porque, do lado de dentro, já havia outras 2.000 pessoas que se consideravam as mais sortudas do mundo naquela tarde de sábado, lotando a capacidade máxima do local. 

A casa de shows, batizada com o mesmo nome do famoso anfiteatro do Império Romano que teve parte de sua monumental estrutura arruinada por terremotos, era a mais cobiçada de Uberlândia – uma simpática cidade localizada no Triângulo Mineiro –, pareando com a Tribuna Livre, cujo nome acenava para inspirações mais socialistas. 

Dentro do Coliseu, a multidão entoava versos que, meses antes, estavam rascunhados num pedaço de papel bege, feito para embrulhar pão. Fernando Pires, 45, ainda traz nítido na memória o dia em que José Fernando, um amigo de bairro, entregou para ele e seu irmão Alexandre aquele papel de pão que continha um verdadeiro tesouro a ser descoberto. “Foi amor à primeira vista”, recorda Fernando, ao falar da música “Que se Chama Amor”, que antecedeu outro sucesso composto por José Fernando, a não menos irresistível “Meu Jeito de Ser”. 

As duas foram gravadas em uma fita cassete com oito faixas, que serviu de base para o abarrotado show no Coliseu, feito para comemorar o aniversário de dois anos da banda Só pra Contrariar, à época formada por Alexandre Pires, Serginho Sales, Hamilton Farias, Juliano Pires, Luis Vital, Rogério Viana, Luis Fernando, Alexandre Popó e Fernando Pires. “Naquele dia, entendemos que estava acontecendo alguma coisa diferente”, garante Fernando. Ao notar que algo tinha mudado, o grupo passou a “se profissionalizar e a trabalhar com mais capricho e intensidade”, completa o baterista que, há 16 anos, com a saída de Alexandre Pires, assumiu os vocais do grupo.

Caminho. Agora, já são três décadas de trajetória, motivo para o show que Fernando, Luiz, Juliano e Popó, os integrantes remanescentes, realizam nesta sexta (29) em BH. “No começo, éramos nove, agora somos um quarteto. Nunca houve nenhuma briga no SPC, somos uma família, a separação aconteceu porque as pessoas optaram por outros projetos, criaram famílias. Você mexer com estrada tendo filhos é diferente”, reflete o compositor que, aos 15 anos, criou “Domingo” (em parceria com o irmão Alexandre) inspirado nos almoços de família que ainda acontecem religiosamente no dia reservado para o descanso. 

A música faz parte do cartel de hits que a trupe leva ao palco, ao lado de “Essa Tal Liberdade”, “Depois do Prazer”, “Mineirinho” e a impagável “A Barata da Vizinha”, responsável por embalar cantorias de adolescentes em ônibus de excursões escolares na década de 90, o que lhe rendeu uma aura folclórica. “A gente tocava essa música em Uberlândia como uma sátira, uma brincadeira, e aí o Alexandre fez a harmonia”, conta Fernando. 

Como as demais, a atual turnê estreou na cidade natal dos músicos. “Uberlândia tem essa mística de sucesso, vários artistas estouraram aqui. Para nós, se tornou até uma mandinga”, admite o entrevistado. Mas os tempos já não são os mesmos de antes. Fernando se ressente da falta de espaço que o conjunto tinha quando lançou, em 1997, o histórico álbum que se tornou o quarto mais vendido da história na época, sendo superado, posteriormente, por discos do padre Marcelo Rossi e da dupla Sandy & Júnior. 

“Hoje, somos reféns da música sertaneja, é a ditadura de um estilo só. Na nossa época, era mais democrático, tinha espaço para rock, MPB, pagode, samba, reggae, forró e até o sertanejo. Vivemos uma fase muito comercial e burocrática, a concorrência ficou desleal”, reclama. Para driblar as dificuldades, o SPC colocou na praça o álbum “O Lado B do SPC”, com músicas pouco executadas nas rádios e repertório escolhido pelos fãs na internet. Apostando no sucesso, eles já preparam um volume 2 e um DVD. “Nosso público é bastante fiel”, conclui o vocalista.

Serviço. Show do grupo Só pra Contrariar, nesta sexta (29), às 22h, no KM de Vantagens Hall (av. Nossa Senhora do Carmo, 230). De R$ 40 (meia) a R$ 140 (inteira) 

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