Metallica x Testament

Uma queda de braço de muito peso e melodia

“Hardwired... to Self-Destruct e “Brotherhood of the Snake estremecem mundo do metal

Por THIAGO PRATA
Publicado em 28 de novembro de 2016 | 03:00
 
 
 
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Em 1991, o Metallica chegou ao topo do heavy metal com o “Black Album”, um trabalho que ia na contramão de suas quatro primeiras obras-primas – “Kill ‘em All” (1983), “Ride the Lightning” (1984), “Master of Puppets” (1986) e “...And Justice for All” (1988). Diferentemente do thrash pesado e técnico de outrora, o disco preto eliminava boa parte da veia sofisticada e apostava em músicas mais diretas e com status de hits. Resultado: o quarteto norte-americano vendeu dezenas de milhões de cópias, virou a banda do momento e, desde então, tomou para si os holofotes do rock pesado mundial.

O tempo passou, e o conjunto decepcionou mais do que acertou nas criações posteriores – os irregulares “Load” (1996) e “Reload” (1997), o fraquíssimo “St. Anger” (2003) e o louvável “Death Magnetic” (2008). O período que precedia cada um desses álbuns de estúdio era arquitetado por uma enorme expectativa dos fãs e da grande mídia. O que viria a seguir? Será que haveria um retorno às raízes thrash? Uma continuação do play anterior? Ou mais um fracasso?

A resposta demorou oito anos – e novamente envolta em várias “bolsas de apostas” de seus aficionados – para ser dada com “Hardwired... to Self-Destruct”, lançado em novembro deste ano e já considerado o melhor disco do grupo desde o “Black Album”. Só que mesmo com um play de alto nível, está longe de ser a grande obra do estilo no ano. Assim como “Dystopia”, do Megadeth , o novo do Testament coloca o mais recente CD/LP do Metallica no bolso.

Após os magistrais “The Formation of Damnation” (2008) e “Dark Roots of Earth (2012)”, o Testament retornou em grande estilo com “Brotherhood of the Snake”. Experientes, Steve DiGiorgio (baixo) e Gene Hoglan (bateria) formam a cozinha mais consistente e técnica do thrash metal da atualidade. Chuck Billy é soberano em destilar agressividade vocal, e a dupla de guitarristas Eric Peterson e Alex Skolnick dão uma verdadeira aula de riffs, fraseados, solos e duetos.

Já “Hardwired...” possui muitos pontos fortes, mas as deficiências também são notórias. James Hetfield (guitarra e vocal) brilha em vários momentos, assim como Rob Trujillo (baixo) demonstra competência neste décimo disco de estúdio do quarteto. Kirk Hammett (guitarra) oscila bastante nos solos. Mas a principal baixa, como já era de se supor, é Lars Ulrich (bateria), com linhas bastante simples, não conseguindo acompanhar Hetfield e Trujillo na maior parte da obra.

Quem ouvir os dois álbuns perceberá o quão impressionante Hoglan é, e o quão díspar é a atuação dele em relação ao desempenho do dinamarquês do Metallica em diversos atos.

Queda de braço. Nem por isso “Hardwired...” decepciona. Trata-se de um trabalho versátil, que mescla músicas rápidas com outras em ritmo lento, peso e tons mais emotivos, lampejos de thrash oitentista e uma boa dose de guitarras gêmeas. Com certeza irá satisfazer seus súditos, graças à força de canções como “Hardwired”, “Moth into Flame”, “Halo on Fire” e “Spit out the Bone”. Do outro lado da moeda, “ManUNkind” e “Murder One” são enjoativas. Esta última, aliás, é uma homenagem ao saudoso Lemmy (Motörhead). Porém, o ícone merecia algo melhor.

E “Brotherhood...”, o 11º filho do Testament? Pelo menos oito – dos dez temas que possui – farão a festa dos apreciadores do metal. Dentre os destaques, a faixa-título, “Stronghold”, “Centuries of Suffering”, “Canna-Business” e “The Number Game”, destinadas aos mosheiros de plantão.

“The Pale King” e “Seven Seals” reúnem traços do Testament das décadas de 1980 e 1990, com uma combinação perfeita das guitarras de Skolnick e Peterson e a bateria voraz de Hoglan. A melodia incrementa o peso em camadas impactantes. E será praticamente impossível a um fã de metal não reverenciar Skolnick pelo solo de “Neptune’s Spear”, um dos mais belos e marcantes do rock neste ano. Puro feeling e inspiração.

Se fosse para apontar um vencedor nesta queda de braço, musicalmente falando, “Brotherhood...” leva a melhor sobre “Hardwired...”. Só que as vendagens e todo o apelo da grande mídia e da quantidade de adeptos do Metallica continuarão a colocar o quarteto capitaneado por Hetfield e Ulrich nos holofotes e no topo do heavy metal, assim como injustiças com Testament e tantos outros expoentes do underground devem perpetuar.

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