É daqui a pouco

Mônica Salmaso participa do projeto 'Dando Corda', da Orquestra Sesiminas

A cantora conversa com o maestro Felipe Magalhães, no Instagram, sobre o tema 'A voz como instrumento musical'

Por Patrícia Cassese
Publicado em 15 de julho de 2020 | 16:13
 
 
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Foi encantada com a onda de gentileza que se ergueu no curso da pandemia que a cantora Mônica Salmaso começou a refletir de que forma poderia a ela se juntar. "Fiquei muito tocada por iniciativas lindas como as de pessoas costurando máscaras para doar ou cozinhando e levando quentinhas, refeições, para quem está em situação de grande vulnerabilidade", rememora. Isolada com a família no interior de São Paulo, ela pensou, então, em colocar sua voz a serviço de um projeto para dar alento a quem estava em casa. E veio o projeto "Ó de Casas", que já de cara emendou 74 edições online, uma por dia, sem intervalo. "Foi uma espécie de 'surto de produção'. Meio como um remédio mesmo, pois me fez muito bem. Na verdade, me faz muito bem. Era um jeito de falar da música e de mostrar o quanto a arte é necessária, o quanto é fundamental para a nossa sanidade, para a nossa organizção emocional", discorre a bela que, atualmente, tem feito uma média de três edições por semana, em seu canal.
 
Justamente por conta dessa flexibilização de agenda, Mônica pode aceitar o convite para participar do projeto "Dando Corda", da Orquestra Musicoop Sesiminas, que acontece nesta quarta-feira. O tema da transmissão, que começa às 21h30 no instagram
@orquestrasesiminasmusicoop, é "A voz como instrumento musical". "Tenho um histórico muito feliz de cantar com orquestras, e estou animada em conversar sobre a voz, os planos musicais nos quais ela se encaixa, conversa com os instrumentos. Eu gosto muito disso", diz Salmaso, que também conversou com a reportagem do Magazine sobre outros assuntos. 
 
Mas sim, foi a pandemia e esse seu novo (e já vitorioso) projeto (o já citado Ô de Casas) que preencheram a maior parte da entrevista. Mônica conta que, de bate pronto, a pandemia, como aconteceu a todos, causou nela um sentimento de perplexidade. "As recomendações de ficar quietinho, sem sair o máximo que pudesse, e quando o fizessse, tomando todos os cuidados, a gente fez isso desde o início. Meu filho logo começou a ter aulas à distância, e a gente se programou e veio morar aqui, no interior, por esse tempo, onde ficava mais fácil passar por isso". Toda a agenda da intérprete, claro, foi interrompida. "Alguns projetos, a gente ainda tem fé que, quando as coisas puderem voltar a ser presenciais, poderão ser retomados, outros se perderam, perderam o bonde", pontua.  
 
No isolamento, ela diz ter ficado em situação similar como a vivida por grande parte das pessoas. "Sendo que, no nosso caso, nessa nossa profissão (como artistas), isso significa parar de trabalhar. De início, achei que era isso mesmo, e que, então, era o momento de fazer planos futuros, de arrumar as coisas, a  casa, de cuidar da saúde... O que todo mundo passou, às vezes com mais ou menos de ansiedade", narra. Até que, no meio do caminho, veio uma live. Na toada de pensar em como poderia acrescentar algo de bom às iniciativas a que vinha vendo ser executadas, Mônica Salmaso foi assistir à live do amigo Alfredo Del-Penho. "Foi logo no início da pandemia, em março ou começo de abril. As lives eram uma  coisa totalmente nova para mim. De pronto, não me animei, naquele momento, a fazer uma, pois não toco instrumentos harmônicos, e achei que seria chato, uma live à capella o tempo todo. Mas fui assistir à live dele, que me convidou para entrar. Só que a gente não conseguiu fazer grandes coisas, porque tem um delay, uma diferença de sinal, e a sincronia se perde. A gente não conseguiu cantar junto".
 
Mônica dormiu com uma certa frustração na cabeça, mas, no dia seguinte, já amanheceu com a ideia de convidar Alfredo para uma outra iniciativa. "Pensei, quem sabe a gente não faz um vídeo editado, no qual se encontraria 'parceladamente', e, depois, eu editaria. A gente ficaria junto, aí sim, com sincronia. De cara pensei neste nome para o projeto, porque tem aquela expressão que se usa quando alguém chega na porta de um outro e grita:  'Ô de casa'. Só que, nesse caso, cada um tinha que ficar em sua casa, então, era 'Ô de Casas'. Mas, nesse primeiro momento, eu pensava apenas em um vídeo com ele, muito por conta do que a gente não conseguiu fazer na live dlee. E o Alfredo foi lindo, mandou um vídeo superbacana, já com essa história de olhares, interagindo e tal. Editei o vídeo com ele e a coisa pipocou numa velocidade surreal! Logo já tinha um monte de amigo dizendo: "também quero (participar)', 'vamos fazer'. E como eu também queria, animei total", repassa.
 
O feedback do público também não demorou a se fazer notado. "Um retorno lindo das pessoas, com muito afeto, gradecimentos maravilhosos, emocionantes", relembra. E vieram, pois, os citados 74 programas, o tal "surto de produção" mencionado por ela. "O mais emocionante é o agradecimento das pessoas, demonstrando o quanto o meu encontro com esses amigos, e tudo isso que a música oferece, chega para elas também como uma companhia (nesta pandemia), como um afeto, um fluxo, memória, saudades, encontro".Ela já recebeu gente como Chico Buarque, Guinga. Zélia Duncan, Yamandú Costa, Cristóvão Bastos, Dori Caymmi, Paulo Tatit... 
 
Além dos convidados, Mônica Salmaso lembra, em particular, do dia em que, após as 74 apresentações seguidas, percebeu que teria que mudar o ritmo. "Meu Ipad, no qual faço tudo e edito, já estava com a memória lotada", explica. Ao mesmo tempo, a cantora não se sentia à vontade para simplesmente não fazer o vídeo naquele dia, assim, sem mais nem menos. 
 
"Então, resolvi fazer um post avisando que ia precisar de uns dias para me organizar, antes de fazer outro, e dizendo que agradecia demais o carinho que estava recebendo das pessoas. E o retorno desse post foi muito emocionante! Diziam: 'Pelo amor de Deus, você já fez tanto, tira mais do que alguns dias, tira o tempo que você precisar'. E eu chorei muito, muito, muito, muito", confessa. 
 
O plano, agora, é seguir mantendo o projeto. "Mas não mais todo dia, e, sim, três vezes por semana, pois, após tantos meses (de pandemia), é hora também de pensar em outras formas, e rentáveis, de trabalho. Todos nós, artistas, estamos, neste momento, mobilizados no sentido de encontrar essas soluções (para sobreviver nesses tempos difíceis, enquanto a vida não volta a seu compasso), por isso tambem acredito que o  fluxo de vídeos (ela se refere no sentido geral) tenha começado a ficar mais lento", entende ela. 
 
Claro, Mônica também vem acompanhando algumas lives dos colegas, mas diz que, todas, seria impossível. "Tenho uma casa para cuidar, os vídeos para fazer... Mas eu tenho feito uma coisa muito legal com a Teresa Cristina. Ela conseguiu fazer disso (das transmissões online) uma experiência muito bonita, criando uma rede de afetos, de difusão, convidando tanto gente que está começando quanto já muito conhecida. E isso criou um fluxo lindo. Tereza tem um jeito muito bacana de ser. É uma pessoa muito generosa. Também muito precisa na opinião que tem, na posição que marca. Carismática e queridíssima. Começamos a fazer uma batalha de cantoras, muito bacana".
 
Desafiada a falar sobre como pensa que será o mundo pós-pandemia, Mônica é reticente. "O que vai acontecer, a gente não sabe. Na verdade, nem  quando vai ser nem o jeito que ele vai chegar. Acho que serão várias fases, desde a de colocar o pezinho na água, com cautela, e depois o calcanhar, na sequência o joelho... E, assim, a gente vai seguindo, até voltar a  ganhar confiança, pensar em retornar a uma vida o mais próxima possível daquela que a gente tinha", vaticina.  Mas se os dias atuais são de desalento e pesar, a celebrada cantora lembra que a pandemia também pode ser uma importante fase para o ser humano tentar aprender algo "para carregar o resto da vida". "Assimilar lições como a de que esse  mundo é um só. Portanto, não existe o: ' ah, vou garantir o meu, e o outro, não estou nem aí'. Ficou claro que não é mais possível pensar assim. 
Neste ponto, espero que a sociedade adquira um novo tipo de consciência. Da minha parte,  tenho certeza. Claro, estou louca para ver as pessoas, sinto falta, sinto saudades do contato, quero muito fazer shows... Mas há aprendizados que a gente precisa carregar para sempre em relação a tudo isso que a gente viveu - e que ainda está vivendo".
 
Por último, mas não menos importante. Às vésperas do centenário de nascimento de Elizeth Cardoso, Mônica Salmaso lembra o projeto que, não fosse a pandemia, estaria tocando a todo vapor. "A homenagem estava pronta, e iria acontecer na Casa do Choro. Um show pelo qual todos nós, envolvidos, eu e mais seis músicos incríveis, como o Mauricio Carrilho e a Luciana Raballo, que inclusive tocaram com ela; estamos apaixonados. Tanto que a gente decidiu que vamos fazê-lo de forma virtual, enquanto consegue presencialmente. Não será nesta quinta, 16, como a gente planejava, mas não tem problema. Vamos fazer assim virtual", promete. 

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