A Galeria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais inaugura nesta segunda-feira à noite duas exposições: “Nós”, de Ana Bouissou, e “Deslocamento”, de Carlos Barroso - ambas ficam em cartaz até o dia 23 deste mês. A primeira traz fotografias impressas em tecido e telas com intervenções diversas, como linhas bordadas, aplicações de sementes, folhas e cascas. Já a segunda apresenta ao público o resumo de mais de 10 anos de trabalho do artista em arte e poesia.
“É uma exposição de poesia visual e arte contemporânea ou conceitual, como queiram”, diz Barroso, que ressalta ser um poeta e artista oriundo da geração mimeógrafo. “Fazia revistas de poesia e vendia na rua. Não tenho grupo. Trabalho a partir das coisas que vejo nas ruas, no social, sem, contudo, menosprezar os clássicos da poesia e da arte”, frisa. Os trabalhos de Barroso ecoam influências das vanguardas, do dadaísmo, do concretismo, do poema processo, da arte postal, da arte em muros e até de ideias digitais, entre outras referências. “Enfim, a pátria da arte é a não-pátria", sintetiza.
Entre os trabalhos expostos na mostra, há, por exemplo, uma lata de lixo, cuja tampa roda devagar, tendo, de um lado, a palavra ‘História’, e, do outro, ‘History’. "A história, como conhecemos, rodando na lata de lixo. Certo dia, vi alguém batendo um papel em uma lata de lixo e a tampa rodando em câmera lenta, e, aí, tive a ideia”, explica. Mas este é apenas um exemplo. “São dezenas de trabalhos reunidos. Só de poemas visuais são 18. Há também video-poemas, além de várias séries, como Vernáculo, Cristos e Enterráguas. Enfim, esculturas e objetos”, pormenoriza.
Carlos Barroso também explana sobre outro obra que nasceu da observação de um led de farmácia, anunciando remédios. Inspirado, o artistou usou o recurso para fazer o ledpoema “Salvar”. "Nele, tudo – igrejas, seitas e pessoas – dizem que salvam. Mas quem salva mesmo é o Crl-S do computador”. “Trabalho essas perspectivas, sem esquecer das ideias e da estética. Mas o que estamos vivendo, em um momento social agudo, controverso, mostra que a arte tem de descolar, observar também o social”, advoga.
Sobre os artistas. Ana Bouissou concluiu o curso de Fotografia na Escola de Imagem, em 2018, e o curso de extensão em Fotografia Autoral na UFMG, em 2019. Também realizou diversos cursos no Cefart da Fundação Clóvis Salgado, como Filosofia e História da Arte, Fotografia e Artes Visuais e Aquarela.
Carlos é artista, poeta e jornalista, com passagens por vários veículos de comunicação de Belo Horizonte. É um dos fundadores das revistas de poesia e artes CemFlores e AquiÓ.
Sobre a mostra que inaugura hoje, o poeta e crítico literário mineiro Anelito de Oliveira escreve: “As peças que integram ‘Deslocamento’, exposição que poderá ser vista até o dia 23 deste mês, são um caso de arte política em sintonia clínica com o espaço público brasileiro ainda em ebulição. O que está em ebulição apresenta a informidade, ou a disformidade, como seu fundamento, um fundamento gasoso, uma nebulosidade que solicita uma operação tradutória para que o sentido se instaure”.
Serviço
Mostra Deslocamento / Carlos Barroso
Local: Galeria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (rua Rodrigues Caldas, 30, Santo Agostinho)
Data: De 5 a 23 de setembro de 2022
Horário: segunda à sexta-feira, entre 8 e 18 horas