Erasmo Carlos, que morreu na tarde desta terça-feira (22) aos 81 anos, nunca foi um artista preso ao passado. “Procuro ser um cara antenado. O novo me fascina, não sei se é coisa do signo”, disse o geminiano a O TEMPO em matéria publicada no dia 5 de junho de 2021, quando o Tremendão chegou aos 80 anos. Naqueles dias, Erasmo estava recluso em seu apartamento na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em função da pandemia.

Erasmo contou que curtia rádio, via TV, passeava pela internet e estava viciado em séries das plataformas de streaming e nas playlists que havia criado no Spotify. Uma delas tinha “seiscentas e tantas músicas”. Ele ouvia de tudo: rock, balada, mambo, calipso, samba, chá-chá-chá, e por aí vai.

“Todos os assuntos me interessam, tudo é informação para mim. Sou observador da vida humana. Gosto de assistir ao ‘Big Brother’ para ver o comportamento das pessoas, vejo novela. Tudo me interessa: a natureza, as mazelas... Absorvo tudo como informação, boto no liquidificador e bebo o suco disso”, pontuou o cantor.

Apaixonado pela estrada, por essa vida de estar cada semana em um lugar do Brasil tocando para plateias e teatros lotados, Erasmo estava há um ano e quatro meses sem se apresentar ao vivo. E morria de saudade. Só de pensar em parar de fazer shows, o artista ficava inquieto: “Esse tesão eu nunca vou perder. Gosto de chegar nas cidades, parar para comer nas churrascarias de beira de estrada, comer queijo coalho. Se eu parar de fazer música, estou fodido. Ela é o ar que eu respiro”.

Em outro papo com O TEMPO, em maio deste ano, quando veio a Belo Horizonte apresentar o show “O Futuro Pertence à… Jovem Guarda”, mesmo nome do disco lançado em fevereiro, e que ganhou, na última quinta-feira (17), o Grammy Latino na categoria de Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa, Erasmo Carlos também falou sobre a necessidade de se descolar do passado para respirar o presente sem se esquecer do futuro.

O disco, inclusive, mostra a vontade de soar sempre atual: “Não gravamos com o acompanhamento típico da Jovem Guarda, procuramos evitar isso. Por causa disso, tive que repaginar todo o repertório do meu show. Todas as músicas ficaram mais atuais, caprichamos mais nos vocais”.

“O Futuro Pertence à… Jovem Guarda” enfileira sucessos do movimento, como “Nasci Pra Chorar”, “O Bom”, “O Ritmo da Chuva”, “Alguém na Multidão”, “Tijolinho”, “Esqueça”, “A Volta”, única canção escrita pelos parceiros Roberto e Erasmo, e “Devolva-me”, todas com novas versões do Tremendão e sua banda formada por Rike Frainer (bateria), Billy Brandão (guitarra), Maestro José Lourenço (teclados), Luiz Lopes (violão, guitarra e vocal) e Pedro Dias (baixo e vocal), os últimos músicos que tiveram o prazer e o privilégio de subir ao palco com Erasmo.

Do amor, Erasmo Carlos levou tudo. Ao completar 80 anos, disse, a este repórter, que o menino de 8 anos criado no bairro da Tijuca, no Rio, e o oitentão com charme de roqueiro, que ainda cabia bem em coletes e pulseiras de couro meio James Dean sem que esses trajes lhe parecessem ridículos e ultrapassados, conservavam intacto um sentimento: o amor que sua mãe, Maria Diva, lhe deu.

Ele pegou, guardou tudo, não deixou nada escapar: “Só quero semear. O amor verdadeiro é aquele que você entrega sem querer nada em troca. Você entrega e pronto”.