Cinema nacional

‘O personagem me protegeu’, diz Daniel de Oliveira sobre 'Morto Não Fala'

Ator vive o personagem Stênio, um funcionário do Instituto Médico Legal que conversa com defuntos

Por Etienne Jacintho
Publicado em 20 de outubro de 2019 | 02:00
 
 
 
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Daniel de Oliveira, 42, confessa que fica incomodado com filme de terror, mas não resistiu ao roteiro de “Morto Não Fala” e encarnou Stênio, protagonista do primeiro longa de Dennison Ramalho, que está nos cinemas. “Não é muito minha praia, mas ‘Morto Não Fala’ me equalizou. Agora, acho que consigo ver outros (filmes de terror)”, conta o ator ao Magazine.

No longa, Stênio é um funcionário do Instituto Médico Legal (IML) que conversa com defuntos. Sem pensar nas consequências, ele usa as informações dos mortos para armar uma vingança pessoal. A tormenta dele começa quando um dos mortos se recusa a descansar em paz e persegue sua família e sua vizinha Lara, papel de Bianca Comparato.

Para viver o personagem, ele acompanhou uma autópsia real no IML de Porto Alegre. “Fomos (Bianca Comparato e ele) ao IML e vimos aquelas geladeiras com vários corpos”, lembra o ator. “Encontrei um cara que trabalha lá há 17 anos e fiquei trocando ideia enquanto ele costurava um corpo”, lembra Oliveira. “Olhei para o lado, e a Bianca tinha sumido. Ela não quis ficar lá. Pedi para o cara abrir o morto de novo e ele me mostrou o coração, os órgãos. Fiquei vendo tudo aquilo. Achei que fosse ficar muito mais impressionado, mas acho que o personagem me protegeu”, diz o ator. Para ele, esse contato foi fundamental para que ele pudesse dar a Stênio a naturalidade de conversar com os mortos.

Durante as filmagens de “Morto Não Fala”, Oliveira teve de contracenar com bonecos e ficar dentro de uma geladeira em que só havia espaço para ele e uma câmera, e, por mais que tudo não passasse de ficção, a equipe passou por alguns momentos de tensão. “A cena do cemitério foi massa, porque fiquei enterrado vivo, na cova, de verdade”, diz o ator. “Fiz uma concha com as mãos e coloquei sobre a boca. Quando me cobriram com terra, fiquei respirando nessa concha. Fiquei um tempão embaixo da terra e depois soube que rolou uma tensão na superfície porque fiquei enterrado bastante tempo mesmo”, diverte-se.

Cenário nacional

Oliveira diz que não conhecia o trabalho do diretor Dennison Ramalho e, quando recebeu o convite, foi pesquisar. “Gostei dos curtas e vi que ele é um aficionado por terror. Pensei: ‘O cara está em casa’”, conta o ator, que vê com alegria o cenário atual do cinema brasileiro. “Tem uma galera jovem querendo fazer cinema, mas precisa haver ajuda para a gente redescobrir o país por meio da arte”, diz Oliveira. “Temos que valorizar o cinema porque ele é forte. O lance é que o governo é um desgoverno, com censuras a cinema e teatro, mas temos de botar a cara e batalhar”, defende o ator, que adoraria ter um cinema mais acessível. 

“A gente ainda é deficiente em sala de cinema na rua, mais acessível, fora de shopping”, diz. “O povo mesmo não tem muita opção, e cinema acaba sendo coisa de elite ou aquele programa que o cara faz de vez em quando, e aí ele prefere ver ‘O Homem-Aranha’ ou algo assim”, fala Oliveira.

O ator, que nasceu em Belo Horizonte, quer conhecer melhor o cenário do cinema por aqui. “Falo muito com o Rômulo (Braga), um amigão meu, que quero conhecer o cinema mineiro. Tenho vontade de trabalhar em Belo Horizonte e também de ver BH na tela”, fala o ator, que vem bastante à cidade. “Às vezes pego o carro e dirijo até Tiradentes ou Ouro Preto. Ou pego um avião para BH. Tenho minha avó, meus primos, meus amigos em BH. E tem o Galo aí, não é? Tenho de levar os meninos para ver os jogos”, fala Oliveira, que é pai de três meninos – dois filhos do casamento com Vanessa Giácomo e o caçula de seu atual relacionamento, com a atriz Sophie Charlotte.

De "Bacurau" a "A Noite Amarela": Filmes de gênero ganham o cinema

Além de “Morto Não Fala”, de Dennison Ramalho, outros dois filmes de terror nacionais entraram em cartaz somente neste mês: “O Clube dos Canibais”, do cearense Guto Parente e “A Noite Amarela”, do paraibano Ramon Porto Mota. Em maio, “Histórias Estranhas” reuniu curtas de terror de cineastas brasileiros, como Marcos DeBrito e Paulo Biscaia Filho.

No mesmo mês, a baiana Gabriela Amaral Almeida lançou “A Sombra do Pai”. Antes, em 2018, ela havia apresentado o elogiado “O Animal Cordial” e, no mesmo ano, Marina Meliande estreou “Mormaço”. Todos os longas acima possuem uma forte crítica social por trás de suas tramas de suspense e horror, assim como “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, um filme de gênero que tem conquistado plateias em todo o mundo. (EJ)

 

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