Diretor do grupo Pigmalião Escultura que Mexe, Eduardo Félix brinca que está sentindo falta de poder usar uma das peças preferidas de seu guarda-roupa. É que, neste momento, ela está vestindo o boneco que o replica em tamanho natural, uma criação que serve de elemento basilar na composição do novo espetáculo da companhia: "Brasil: Versão Brasileira", que poderá ser vista pelo respeitável público de hoje ao  dia 7. Detalhe: para quem quiser apreciar a apresentação ao vivo, o horário é às 20h. Mas a obra ficará disponível pelo Youtube do grupo durante o período de exibição. 

Trata-se, na verdade, de uma nova versão para o espetáculo "Brésil", que o grupo apresentou em 2018, na França, durante uma residência artística feita em Reims. E foi ali também que surgiu a ideia de transportar a figura do diretor para a cena. E por qual motivo? "Bem, a montagem, na verdade, nasceu de uma bravata. Eu tinha pouco tempo para propor algo novo e, quando fui apresentar a minha ideia, o grupo acabou fazendo muitos questionamentos. Para ser sincero, já estávamos discutindo a estrutura de poder dentro do grupo desde a montagem anterior, de 'Macunaíma', e daí 'virei marionete'", conta. "E foi muito legal. Apresentamos a cena curta - que nem era tão curta assim, tinha 30 minutos - e, depois, a versão completa".

 Em 2019, com o grupo já de volta, havia uma agenda de compromissos, e a versão brasileira acabou sendo prevista para junho de 2020, quando veio a pandemia. "Mas é fato que, de 2018 para cá, passou tanta água debaixo da ponte", reconhece ele, citando, por exemplo, mudanças na imagem dos brasileiros lá fora. "A visão do cordial foi substituída em função da onda de ódio que tomou conta de tudo". Outro aspecto foi as próprias inovações de linguagem que se tornaram obrigatórias com a pandemia. "Os grupos de teatro tiveram que aprender a lidar com os vídeos. No nosso caso, nunca tinha sido uma opção, mas estamos gostando. O tipo de boneco que a gente faz funciona muito bem (nesta linguagem)".

Para a nova versão, o grupo convidou a dramaturga Marina Viana, "que fez algo brilhante". "Ela me transforma. No palco, não é muito um retrato meu, mas de um brasileiro que tenta se localizar nisso tudo, retratar o país. Acaba que é uma coisa muito doida, parece um monólogo, uma marionete que é marionete, mas que constrói e manipula bonecos (que se rebelam e fazem um motim). Enfim, para quem curte trabalho com boneco, eu acredito que vai gostar muito são de muita precisão". 

Em tempo: O espetáculo é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.

Chamariz extra

O processo criativo da obra contou ainda com cenas criadas por colaboradores por meio de oficinas gratuitas oferecidas pelo grupo. As atividades formativas se dividiram em cinco turmas: iluminação para bonecos, construção de marionete tipo Kokoschka, escultura de cabeça em espuma (da ideia a forma), construção de meia máscara e manipulação de bonecos. A proposta da inserção das cenas, como situa o material de divulgação do grupo, é trazer outros olhares de Brasil para o espetáculo. O resultado dos trabalhos pode ser conferido em trechos inseridos na obra final.

Pigmalião Escultura que Mexe
O Pigmalião Escultura Que Mexe é um coletivo de artistas criado em 2007. Afiança sempre procurar desenvolver espetáculos com profundidade conceitual e filosófica. A marionete de fios, a relação do ator com o boneco e o Teatro Visual são seus principais focos.

 

Brasil: Versão Brasileira

Grupo Pigmalião EScultura que Mexe
Quando. 4 a 7 de março, às 20h
Confira gratuitamente pelo canal do Grupo no Youtube
https://www.youtube.com/channel/UC5UqpUw_WZJoCUAq2Z252nA