Depois de acompanhar a transformação urbanística da área central nas últimas décadas, com a avenida Afonso Pena se consolidando como uma das principais vias de movimento de veículos da capital mineira, o compositor e músico Marcus Viana comemora o fato de o logradouro virar uma espécie de palco a céu aberto para apresentações artísticas. Nem que seja por apenas um dia.
“Para qualquer músico, é uma novidade tocar para um público que estará sentado na Afonso Pena. Vão botar cadeiras no meio da rua, em frente ao Cine Brasil, na praça Sete. Uma coisa engraçada, porque ali é um lugar para trânsito rápido e, de repente, está se tornando um lugar de contemplação de música”, registra Viana, uma das atrações do Festival Cine+10, que celebrará, entre hoje e domingo, uma década do centro cultural.
Além do compositor, que estará acompanhado do Sagrado Coração da Terra e Transfônica Orkestra, a programação contará com mais de 50 atrações gratuitas, como teatro, cinema, arte urbana, circo, música e exposição interativa. Uma cenografia especial, proporcionada pelo artista digital Homem Gaiola, levará muita cor ao local a partir das 18h, criando animações em laser para mapear as estruturas arquitetônicas.
Um palco montado na rua Carijós receberá, durante o horário do almoço, grandes sucessos do teatro mineiro, com “Como Sobreviver em Festas e Recepções com Buffet Escasso” (hoje), “Acredite, um Espírito Baixou em Mim” (amanhã) e “Guara-pa-rir” (domingo). No mesmo espaço, haverá shows comandados por Adriana Araujo (hoje, às 18h), Belina Orkester (amanhã, às 16h) e Daparte (também amanhã, às 17h).
No domingo, a praça Sete será fechada para carros, abrindo passagem para apresentações teatrais (“O Auto da Compadecida”, às 16h), circenses (Grupo CircoLar, às 15h) e musicais – com Trio Lampião abrindo a programação, às 14h, e Marcus Viana encerrando, a partir das 17h30. “A praça me traz grandes memórias, fazendo-me lembrar de meu pai, o maestro Sebastião Viana, que sempre tomava ali o seu cafezinho”, registra.
Esse mergulho em tempos idos também estará presente no repertório do compositor. “Resolvi voltar no tempo e fazer um tributo à antiga música que se tocava em Belo Horizonte. As pessoas vão sentir que estão em Belo Horizonte em algum lugar do passado”, adianta Viana, que não deixará de homenagear o pai, professor de Luiz Gonzaga e revisor de Heitor Villa-Lobos, inserindo uma valsa com assinatura de Sebastião Viana.
“Belo Horizonte teve épocas maravilhosas. Os anos 1930 e 1940 foram muito importantes. O auge musical foi na década de 1950, quando todas as companhias internacionais passavam por aqui. É como se a gente pegasse as músicas e desse um tratamento bem original. As pessoas vão sentir que músicas conhecidas podem ser interpretadas de formas diferentes, renascendo como novas obras”, analisa.
Essa roupagem diferente poderá ser vista desde “Oh! Minas Gerais”, canção-hino do Estado, até os clássicos do Clube da Esquina, como “Travessia” e “Vento de Maio”. Com Viana cada vez mais “quieto”, tocando em meio à natureza em seu condomínio durante o entardecer, o compositor avisa: “Será uma oportunidade rara de me ver em BH. Gosto de fazer eventos maiores. Não gosto de fazer muita biboquinha, não”, diverte-se.