Marcelo Matte, secretário de cultura e turismo do Estado, assumiu que a frequência AM da Rádio Inconfidência será extinta. A afirmação foi feita na noite desta quinta-feira (4) no Palácio das Artes, durante a cerimônia de posse dos novos dirigentes do Sistema Estadual de Cultura de Minas Gerais – além de Matte, foram empossados a presidente da Fundação Clóvis Salgado, Eliane Parreiras; o presidente da Rádio Inconfidência, Ronan Scoralick e o presidente da Rede Minas, Kiko Ferreira.

“Os violeiros mineiros têm minha garantia de que não perderão espaço e voz na programação da Rádio Inconfidência. Apenas estamos fazendo uma transição de programas da AM para FM por uma motivação legal”, garantiu o secretário.

Em sua fala oficial, Matte foi enfático ao negar que a Rádio Inconfidência passe por mudanças trágicas. “Quero reafirmar princípios e crenças pessoais. Não participaremos, em nenhuma hipótese, de qualquer iniciativa que pretenda extinguir a Rádio Inconfidência, a Rede Minas, a Orquestra Filarmônica ou a Fundação Clóvis Salgado” disse.

Durante seu discurso, Matte cumprimentou os secretários que ocuparam o posto no passado e pediu paciência. “Quem dera eu tivesse a enorme bagagem cultural, acadêmica e pessoal dos meus queridos antecessores, por isso conto com a compreensão, paciência e aconselhamento de todos vocês”.

O vice-governador Paulo Brant encerrou a cerimônia cumprimentando os empossados. Ao contextualizar o desafio da gestão atual, Brant afirmou que “o governo surgiu na eleição de outubro de uma maneira inesperada”.

Completam a lista dos empossados nesta noite a secretária adjunta Solanda Steckelberg; a presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico Michele Arroyo; e a presidente da Fundação de Arte de Ouro Preto, Julia Mitraud.

Protesto

Enquanto a posse acontecia, um pequeno grupo de violeiros e pessoas envolvidas com cultura popular fizeram um protesto em frente ao Palácio das Artes. Com faixas e violões em punho, as pessoas questionavam mudanças promovidas recentemente na Rádio Inconfidência.

O protesto foi motivado por indícios de que a emissora estaria ameaçada por mudanças implementadas pelo novo presidente, Ronan Scoralick, como a demissão de Múcio Bolivar - apresentador do "Trem Caipira", tradicional programa com quase três décadas de existência dedicado à divulgação da cultura popular. “O governo disse que a demissão é uma contenção de despesas, mas estão acabando com uma referência nacional da cultura caipira”, reclamou o repentista Vicente Faul.

O vereador Gilson Reis (PCdoB) engrossava o coro do protesto. Para ele, as alterações anunciadas pelo governador Romeu Zema (Novo) no âmbito cultural são um retrocesso. “Essa fusão da cultura com turismo não resolve nenhuma questão financeira. Ao contrário, reduz a possibilidade da construção de políticas públicas”, avaliou. Sobre a demissão, o vereador informou que também estaria nos planos da Rádio Inconfidência acabar com o programa Trem Caipira. “A viola caipira está sendo atacada, a rádio está sendo desmontada”, comentou.

“Recebemos com serenidade qualquer manifestação de protesto ou crítica como essa que encontramos aqui na porta”, esclareceu Marcelo Matte, durante o evento. Apesar do reclame, a cerimônia de posse dos novos dirigentes ocorreu com razoável tranquilidade. O saguão estava lotado de pessoas atuantes em diversas áreas da cultura, como Angela Gutierrez, Pedro Paulo Cava, Rômulo Duque, Gustavo Penna, Toninho Horta, Antonio Grassi, o secretário de cultura de Belo Horizonte Juca Ferreirra, entre inúmeros outros.