“Frances Ha” pode ser visto como um filme autoindulgente sobre jovens privilegiados aspirantes a artistas em Nova York. Mas o que o longa traça é o diagnóstico de uma geração, usando como sintoma esse grupo que prefere ser pobre na Big Aple a ser rico em qualquer outro lugar.
Essa é a definição de Frances (Greta Gerwig), dançarina tentando entrar no elenco profissional da companhia onde estuda, enquanto luta para pagar o aluguel e comer. Ela é uma dos iludidos por filmes nos quais o patinho feio se torna a estrela, o loser salva o mundo e o azarão chega em primeiro. Então, Frances passa os dias esperando que alguém descubra que ela é especial e lhe dê uma chance de brilhar.
Mas e se, ao invés de ser 1 em 1 milhão, ela é um dos 999.999 que os filmes nunca mostram? É sobre eles que o roteiro escrito por Gerwig e pelo diretor Noah Baumbach (“A Lula e a Baleia”) lança um olhar realista e clinicamente bem-humorado.
O preto e branco da fotografia e a trilha chapliniana contrapõem o charme do universo nova-iorquino das obras de Woody Allen e Martin Scorsese com a trivialidade brutal do que realmente significa habitar nele. Mais do que esse retrato específico, porém, “Frances Ha” revela a imaturidade melancólica por trás de uma geração que se recusa a abandonar os 20 anos.
Na inabilidade de ter um relacionamento sério, na codependência dos amigos (que devem partilhar os mesmos objetivos e fracassos) e na falta de iniciativa baseada na crença de que as coisas vão dar certo simplesmente porque ela é especial, Frances é uma universitária no corpo de uma adulta. O filme não tenta dourar sua protagonista imatura, egoísta e carente. Por isso, ele nem sempre é agradável – e foi comparado ao seriado “Girls”, com o qual compartilha o mesmo universo.
O mérito da performance de Gerwig e da direção de Baumbach é enxergar, nas rachaduras e na fragilidade por trás dessa fachada, a solidão de uma geração educada por emoções mediatizadas e relações virtuais. No fim, tudo que Frances quer é não se sentir sozinha em uma jornada que não faz tanto sentido quanto os filmes prometeram. E isso é engraçado – e extremamente triste.