Os caracóis são os mesmos e a voz macia permanece intacta. Mas, aos 38 anos, Vanessa da Mata não se contenta mais apenas com o lirismo pessoal para escrever canções – como exercita há 12 anos no ofício de compositora. Prova disso é o álbum “Segue O Som” (Jabuticabas/Sony Music), que ela mostra pela primeira vez em Belo Horizonte amanhã, no Palácio das Artes. Depois de quase desistir de gravar o sétimo disco da carreira, o álbum revela uma cantora preocupada com sonoridades modernas e propensa a reinventar seus próprios discursos poéticos.

Há pelo menos dois anos, Vanessa da Mata tinha escrito 11 das 12 músicas que integram “Segue O Som”, mas se sentia insegura em relatar os próprios dramas, após a separação com o ator Gero Pestalozzi, pai de seus três filhos adotivos. Por isso, mesmo com o disco gravado em agosto de 2012, ela deixou o trabalho na gaveta para se dedicar, no ano passado, ao projeto “Vanessa da Mata Canta Tom Jobim”, enquanto repensava sua música.

“Eu estava cansada. Não queria fazer um disco autoral e falar dos meus assuntos pessoais num momento difícil. Mas acabei me convencendo da força das minhas letras quando o Kassin disse que o material era muito bom. Acabei inserindo seis músicas novas e excluindo cinco da primeira versão gravada em 2012”, diz a cantora.

Com Kassin e Liminha na produção musical e também como integrantes da banda que gravou o disco (guitarra e baixo, respectivamente), o álbum recebe parceiros de longa data, como Marcelo Jeneci, que coloriu a canção “Ninguém É Igual a Ninguém” com seus teclados; além de Fernando Catatau, que pesa a mão na guitarra para dar personalidade à faixa single “Segue O Som”. “O que fez o disco soar com uma cara própria foram essas participações pontuais de músicos muito criativos e singulares. É essa alma que tento levar para o palco com minha banda”, diz a cantora.

Apesar de ter letras bem feitas que passeiam naturalmente pelo reggae, baladas e rimas fáceis de amor, Vanessa da Mata não apresenta grande inventividade sonora em relação ao disco “Sim” (2007), principal referência da carreira da cantora, que pode ter a influência notada facilmente em “Segue O Som”. É que mesmo com produção impecável de arranjos e as novas melodias com barulhinhos eletrônicos e efeitos de sintetizadores nos vocais, o repertório do novo disco oscila a ponto de ser confundido com um arsenal de sucessos anteriores que também estão presentes no show, como as viciantes baladas “Ainda Bem”, “Amado”, “Não Me Deixe Só” e “Ai, Ai, Ai”.

Mesmo assim, a artista considera que este trabalho é o principal divisor de águas entre os seus sete discos lançados na carreira. “Depois de um certo reconhecimento, os próximos discos se tornam mais seguros pelo nome que você construiu. Essa é a primeira vez que tenho essa sensação. Ao mesmo tempo, essa segurança sugere que você pode se acostumar com o conforto – e isso eu não quero. Avalio que o disco traz inovações, mas mantém minha identidade”.

No show, a direção musical, o figurino e todo o cenário floral que abriga um lustre e uma cortina de garrafas pets são de autoria de Vanessa da Mata, que estreia na direção artística completa de uma turnê. A nova apresentação ainda é marcada por participação do rapper Emicida, que abre o show com um discurso gravado: “Tragam seus olhares e ouvidos para esse palco (...) Mantenha o brilho nesse olhar, sem fraquejar, pois nesta noite, por aqui, segue o som”.

Serviço.  Show – Vanessa da Mata “Segue O Som”, amanhã, no Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro), às 21h. Os ingressos custam: R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia-entrada) para a Plateia I; R$ 180 (inteira) e R$ 90 (meia) para Plateia II; R$ 150 (inteira) e R$ 75 (meia) para a Plateia Superior.