Música

Sérgio Pererê: 25 anos de carreira e as lembranças de um sonho de criança

Cantor e compositor lança 'História do Mundo', disco que flerta com o eletrônico e traz duas faixas inéditas, em show neste sábado (16)

Por Bruno Mateus | @eubrunomateus
Publicado em 13 de setembro de 2023 | 10:05
 
 
 
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Quando criança, Sérgio Pererê tinha um sonho: “Eu queria ser um cara misterioso, que chega em algum lugar, deixa uma mensagem e vai embora, some”. Nascido e criado no Glória, na região Noroeste de Belo Horizonte, “um bairro naquela época com características muito rurais, tinha boi na rua, muito verde”, Pererê teve contato com a música muito cedo. O pai seresteiro acabou, naturalmente, colocando uma diversidade estilística muito interessante em casa.

Tango, bolero, valsa, xote, baião e samba-canção fizeram a cabeça do menino que tocou as primeiras notas no violão ao mesmo tempo em que aprendia a ler e a escrever. A música se revelou algo tão forte e inevitável que mostrou a ele que o desejo de ser um mensageiro se realizaria por meio da canção.

Pererê podia não só tocar um instrumento como contar o que vivia e via, tanto que as primeiras letras surgiram na infância, percebendo tudo ao redor como um compositor que ainda não sabe que o é. Adolescente, mergulhou também no blues, no jazz, no soul e no tambor. Foi na música que Pererê entendeu suas origens e bebeu sua ancestralidade. Tudo isso deságua na Avone, primeira experiência autoral do cantor. A banda surgiu em 1992; ele tinha 16 anos e o mundo inteiro pela frente.

Depois, da fusão da percussão com a afro-mineiridade, veio o Grupo Tambolelê, do qual é um dos fundadores. Houve, em meados daquela década, o Pedra de Tucum, projeto mais voltado para a MPB com muitas releituras, mas também canções próprias. Sérgio Pererê, de fato, andou Minas Gerais, o Brasil e o mundo feito um bardo encarregado de transmitir e difundir histórias e poemas a seu povo.

Fez-se cantor, compositor, ator, multi-instrumentista e diretor musical, e passou por China, Espanha, Nova Zelândia, Argentina, Moçambique, Áustria e Canadá, além de diversas regiões do país. “A música veio chegando, se movimentando aqui na minha cabeça. Eu tinha 6, 7 anos de idade, gostava de desenhar, mas uma hora peguei o violão e ele já era meu. Fui crescendo nesse meio da seresta, o samba sempre esteve muito perto, depois veio a black music e as coisas da África. Misturou tudo”, ele conta.

Celebração em disco e show

Dois mil e vinte e três é tempo de comemorar. Simbolicamente, Sérgio Pererê vai celebrar 25 anos de carreira tendo 1998 como uma referência temporal significativa de um momento muito decisivo. Naquele ano, Pererê e o Tambolelê foram convidados para se apresentarem em Paris, uma das cidades-sede da Copa do Mundo, em eventos festivos do Mundial, mas declinaram e preferiram pousar em Ouro Preto para shows e oficinas no último Festival de Inverno da UFMG realizado nas ladeiras da cidade histórica. Em 1998, ele percebeu que não havia como voltar atrás: ser artista já era seu ofício de todos os dias.

“São 25 anos simbólicos. Qualquer pessoa que me acompanha sabe que comecei muito antes, mas é interessante imaginar que foi um ano marcante, porque entendi que eu já estava inserido na cena da música mineira. Naquele momento, tive certeza de que não voltaria mais, tudo ficou mais sério”, pondera Pererê, que, neste sábado (16), quando sobe ao palco do Centro Cultural Unimed-BH Minas (detalhes no fim da matéria) para lançar o álbum “História do Mundo”, vai comemorar as bodas de prata.

O disco, produzido, mixado, masterizado, gravado e editado por Jongui no Estúdio Maria Laranjeiras, em BH, é um resumo do que Sérgio Pererê fez até hoje, “da minha visão de mundo através da arte”. A novidade é que os tambores do reinado, do candomblé e da umbanda e a estética afro-brasileira que permeia toda a obra do artista agora ganham naipes de sopros e beats eletrônicos para formar o que ele considera ser “um convite à dança e à reflexão sobre a existência humana”.

Oito faixas de diferentes fases da carreira do músico, como “Woman”, que conta com a participação de Maurício Tizumba, “Terra e Lua”, esta em dueto com a cantora Ohana, “Filho de Odé”, “Why” e “Costura da Vida” se juntam às inéditas "Babá Obá" e "Onde Está Sua Fé". “‘Babá Obá’ fiz há uns dez anos e nunca gravei. Ao olhar para minha obra, percebi que o sagrado era muito presente, então não teria como não passar pela religiosidade afro-brasileira”, comenta.

Já “Onde Está Sua Fé” surge a partir de um refrão que vinha à cabeça de Pererê sempre que ele se via em alguma situação difícil: “Eu cantava para mim mesmo ‘onde está sua fé, irmão?’”. A música tem participação do rapper Luciano Zulu, irmão do compositor. “Isso é algo muito especial para mim”, ressalta.

Gravado no segundo semestre do ano passado, “História do Mundo”, o 15º da discografia de Pererê, chegará às plataformas nos dias seguintes ao show de lançamento – a edição que desembarca no digital trará uma regravação de “Promessas do Sol”, de Milton Nascimento e Fernando Brant.

“É um trabalho para festivais, um show que funciona bem em grandes festivais. Gosto disso, ele mostra um pop que eu posso ser. Tenho vários lados e esse é um deles Posso dialogar com qualquer coisa”, destaca Pererê, que acrescenta: “‘História do Mundo’ passa por esse lugar, de como eu vejo e conto o mundo através do sagrado, da africanidade. Vou lançar em um teatro, mas é um show com potencial para lugares abertos, pessoas em pé. Estou muito disposto a circular com ele”, completa o cantor.

A noite de sábado será, portanto, de celebração – e de memória, porque se completarão exatos sete anos da passagem da mãe de Pererê, Dona Fininha, personagem importante da nossa cultura popular. No palco, com seu charango e seu mbira, ele estará acompanhado por Jongui (bateria e programações), Daniel Guedes (percussão), Richard Neves (teclados), Acauã Rane (percussão, guitarra e baixo), Juventino Dias (trompete), Pablo Costa (sax tenor), Tiago Ramos (sax barítono) e João Paulo 'Buchecha' (trombone). Quem estiver na plateia presenciará “algo que ainda não sabemos, uma noite de muita emoção”.

Para Pererê, pensar em 25 anos é ter certeza de que chegou a algum lugar: “Fui dormir outro dia com esse sentimento. Sábado passado coloquei o disco para tocar, chamei alguns músicos. Fiquei muito feliz, me deu a sensação de que cheguei a algum lugar. Não estou tentando, sabe? A palavra que pode marcar esse momento é esperança, apesar de tudo que vejo no mundo”.

Sérgio Pererê voltou a morar no bairro Glória, na mesma casa onde nasceu e cresceu. Lá, o músico guarda muito material inédito, boa parte dele criado na pandemia. Em março do ano que vem, ele lança outro disco – será o 10º álbum desde 2018. O garoto que ouvia seresta e sonhava ser um mensageiro tem, hoje, 47 anos e o mundo inteiro ainda pela frente.

Programe-se

O cantor, compositor e multi-instrumentista Sérgio Pererê comemora 25 anos de carreira e lança, neste sábado (16), às 21h, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (rua da Bahia, 2.244 – Lourdes), a edição em vinil do álbum “História do Mundo”, que chegará nos próximos dias às plataformas digitais. No sábado, o álbum será vendido a R$ 160. Ingressos disponíveis a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada) na bilheteria do teatro e na plataforma Eventim. Sócios do Minas Tênis Clube e clientes Unimed-BH têm descontos.

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