Música

Tetê Espíndola volta ao topo das paradas com versões para 'Escrito nas Estrelas'

Bombando do Carnaval, vencedora do 'Festival dos Festivais' de 1985 ganhou as vozes de Lauana Prado e Pabllo Vittar e foi parar no TikTok

Por Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 12 de fevereiro de 2024 | 06:30
 
 
 
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Ele tem asas nas costas, olhos vendados e está sempre munido de seu arco para acertar a flecha no melhor alvo. Mas, na vida de Tetê Espíndola, a figura graciosa do Cupido, que, na mitologia romana corresponde ao Amor e para os gregos era conhecido como Eros, apareceu sob a forma de Carlos Rennó. Foi o letrista de “Escrito nas Estrelas” que a apresentou a Arnaldo Black, melodista deste sucesso atemporal, com quem a cantora é casada há mais de quatro décadas. 

Os dois já estavam juntos quando Tetê flagrou Arnaldo compondo a música em casa. Ela não perde a oportunidade de cantarolar o trecho melódico que abre a canção, e destaca: “É uma escala pentatônica, tem essa coisa oriental, que eu acho que, em música, é mais universal”. Além disso, ela considera a letra, feita pelo amigo do casal, “uma homenagem a um amor que estava predestinado”. 

Assista à entrevista: 

“Cá entre nós, é aquela história que as pessoas falam: ‘o amor move montanhas’”, sublinha Tetê, que não resiste a recorrer outra vez à composição: “Pois sem você, meu tesão/ Não sei o que eu vou ser/ Agora preste atenção/ Quero casar com você”. Aliás, não é só a intérprete original que tem cantado sem parar “Escrito nas Estrelas”. 

Depois que a ex-jogadora de vôlei Márcia Fu, finalista do programa “A Fazenda”, cantou a música no reality show, ela se tornou uma febre nas redes sociais e conquistou toda uma legião de jovens, que reproduziram as mais inusitadas e criativas coreografias no TikTok, a ponto de assustar Tetê. 

Viral

Em dezembro, ela se apresentava com a Orquestra de Câmara de Corumbá, no interior do Mato Grosso do Sul, quando, no camarim, contaram a novidade: “Tetê, você vi-ra-li-zou!”, ela soletra a palavra para demonstrar seu espanto. “Fiquei em pânico, não sabia o que significava. Aí me explicaram e foi como se eu tivesse entrado num outro tempo”, ressalta. 

Ao experimentar essa espécie de déjà vu, Tetê recuperou na memória o êxito do “Festival dos Festivais” de 1985, quando, para um Maracanãzinho lotado, com “20 mil pessoas enlouquecidas querendo a música”, a balada romântica com pegada mística foi aclamada como vencedora. Nessa época, não importava qual estação o ouvinte sintonizasse, foram três meses direto de “Escrito nas Estrelas” tocando nas rádios. 

“Vejo muita criança de quatro, cinco anos, cantando. Acredito que essa música tem uma magia mesmo, porque passou dos pais para os filhos e, agora, está chegando aos netos, são pelo menos duas gerações”, observa. Mesmo vivendo outro momento, Tetê ainda entoa o sucesso “no mesmo tom agudo de 38 anos atrás, que está no inconsciente coletivo”. “As pessoas querem cantar igual a mim nos shows. Para quem quer saber, o tom é Mi maior”, informa. Parafraseando Zélia Duncan, só Tetê alcança “aquela notinha lá nos píncaros, onde mora a cereja do bolo”. 

No próximo dia 11 de março, ela comemora um aniversário especial, que vai render o projeto retrospectivo “Tetê 70”, abordando várias fases de sua carreira. “Sou uma pessoa que vai fazer 70 anos, e todo esse frenesi mexeu muito com meu dia a dia. A internet é rápida demais, mas fiz questão de não mudar o meu ritmo”. Apesar disso, ela admite que está entrando na rotina de trabalho “muito mais cedo do que normalmente”. “Janeiro nunca foi tão intenso pra mim”. 

Versões

A cantora sertaneja Lauana Prado, as divas do pop Pabllo Vittar e Anitta, e o legítimo representante da chamada nova MPB, Silva, também ajudaram a catapultar novamente “Escrito nas Estrelas” ao topo das paradas, com versões em shows e gravações ao vivo. 

Tetê faz questão de compartilhar os registros no Instagram, e se envaidece com o fato de a música estar “bombando no Carnaval”, sendo candidata a hit da folia deste ano. Ela distribui elogios, especialmente para Lauana, com quem se encontrou recentemente. “Ela é uma pessoa muito carismática, cheia de força, está no auge da carreira”, exalta. 

Tetê observa que a versão da sertaneja entrou em um pot-pourri, e nem foi gravada em sua integralidade. “Por isso as pessoas pegam aquele pedaço ‘caso do acaso bem marcado em cartas de tarô’, aí fica como uma vitrola e todo mundo entra nesse refrão, quase ninguém canta do começo: ‘você pra mim foi o sol’”. Ela só lamenta que “as pessoas, às vezes, cantam errado”. 

“Quando alguém vai cantar, tem que pesquisar a letra, é assim que eu faço porque sou intérprete, não é que virei para aquela música, sempre fui”, sustenta Tetê, que, embora também goste de “ser compositora” e tocar seu instrumento, se orgulha de ter lançado, com sua voz peculiar, gente da tarimba de Geraldo Espíndola e Arrigo Barnabé. 

Parceria

“Quando pego uma música, transformo em uma coisa minha, por isso que todo mundo fala ‘a música da Tetê’”, salienta a cantora, que exemplifica o feito com o improviso vocal criado para o final de “Escrito nas Estrelas”. “Foi o que me inspirou a fazer naquele momento. Estou vivendo, em todos esses trinta e tantos anos de carreira, essa parte de intérprete muito forte, é algo que nunca deixei de lado”. Era o finalzinho dos anos 1970 quando, chegada de Campo Grande a São Paulo, Tetê conheceu o maestro Cláudio Leal Ferreira, que a apresentou a Arrigo Barnabé. 

“Ele me falou: ‘Vou te apresentar um cara muito louco do Paraná’. E, para o Arrigo, disse que ia apresentar uma cantora do Mato Grosso do Sul”, recorda Tetê, que cai na gargalhada. O encontro valeu, de cara, a histórica aparição no Festival Universitário da MPB, em 1979, nas dependências do Teatro da Universidade Católica de São Paulo (Tuca), que revelou ao mundo experimentações do porte de “Diversões Eletrônicas”, eternizada no LP “Clara Crocodilo”, de 1980, artífice da Vanguarda Paulista. 

“Quando ouvi a música do Arrigo fiquei impressionada, porque não leio partitura, mas adoro desafios, então topei”, garante a entrevistada, em referência à mistura entre popular e erudito proposta pelo atonalismo dodecafônico do compositor, que carregava a tinta das histórias em quadrinhos para suas obras. Logo, os dois decidiram “rachar um apartamento” na Vila Madalena, em São Paulo. 

Arrigo começou a compor ao piano para a voz de Tetê, e eclodiram “Londrina”, que faturou o prêmio de melhor arranjo no Festival MPB de 1981, “Canção dos Vagalumes”, gravada no LP “Pássaros na Garganta”, de 1982, e “Jaguadarte”, tradução do poeta concretista Augusto de Campos para trecho de “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll (1832-1898). 

“Ele me chamava, eu largava a cozinha e ia lá cantar, não era fácil pra mim não, era muito diferente. Vim do ‘matão’, cantando músicas dos meus irmãos”, justifica Tetê, recorrendo à gíria para aludir ao Centro-Oeste que comparece em “Deixei Meu Matão”, de Geraldo Espíndola, lançada no álbum “Gaiola”, de 1986.

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