Segundo o Censo 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira é de 203,080756 milhões de pessoas. A pesquisa sobre religiões no Brasil, divulgada recentemente, contemplou 91% da população e foi realizada entre meados de 2022 e início de 2023.
Um fato curioso é que, em 1872, quando foi realizado o primeiro Censo, 99,7% da população era católica, que era a religião oficial do país. Em 2022, eram 56,7%, uma queda de 8,4% em relação a 2010. Mesmo assim, o número de católicos, a despeito do crescimento dos evangélicos, representa mais que o dobro destes.
Quem esmiúça os dados do Censo é Alexander Moreira-Almeida, professor titular de psiquiatria, fundador e diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Tem havido o aumento do número de evangélicos nas últimas décadas, 5,2% entre 2010 e 2020, crescimento abaixo do esperado, pois havia uma previsão de que eles ultrapassariam os católicos rapidamente, e isso não aconteceu. Os evangélicos são hoje 26,9%, enquanto os católicos somam 56,7%, ou seja, menos da metade, mesmo crescendo e representando importante parcela da população brasileira”, comenta.
O pesquisador ressalta que os evangélicos muitas vezes não estão sendo bem compreendidos pelos pesquisadores e pela própria mídia. “Há estereótipos de que os evangélicos necessariamente são pessoas com menos escolaridade, sem condição social adequada ou são radicalizados politicamente. É preciso tomar muito cuidado com essas explicações desqualificadoras, que muitas vezes, um viés de quem está comentando e não refletem os reais achados das pesquisas”.
Moreira-Almeida destaca um ponto pouco comentado do Censo. “Os evangélicos são a religião que mais tem crescido entre as populações negras, pardas e indígenas, e não as religiões de matrizes africanas, como muitas vezes se imagina”.
Uma surpresa do Censo foi o aumento menos expressivo das pessoas que se dizem sem religião. “Em 2010 eram 7,9% da população, e, em 2022, eles somavam 9,3%. Vale lembrar que no Brasil, até a República, em 1989, a religião oficial era o catolicismo, considerado o ‘doador universal’. Dele derivaram as demais religiões no Brasil. O aumento dos sem religião teve início a partir dos anos 1970, quando 0,9% se diziam sem religião. Em 1990, o número pulou para 4,6%, um aumento significativo, e, em 2000, para 7%”, analisa o pesquisador.
E emenda: “Nos últimos 12 anos, esse crescimento tem desacelerado e, entre 2010 e 2022, passou de 7,9% para 9,3%. A previsão de muitos sociólogos e pesquisadores era que, no decorrer do século XX, e especialmente no século XXI, haveria uma grande disseminação dos sem religião, o que não aconteceu. Talvez essa seja a predição mais falha na história da ciência”.
Houve aumento das religiões afro-brasileiras, considerando a umbanda, o candomblé e outras, de 0,3% para 1.1%. “Ao contrário do que se imagina, essa adesão não veio principalmente do Nordeste e nem especificamente dos grupos mais marginalizados e de menor escolaridade. O grupo racial mais prevalente entre as religiões afro-brasileiras são os brancos”, analisa Moreira Almeida.
E ressalta: “O segundo grupo religioso com maior nível de escolaridade são as religiões afro-brasileiras, e o primeiro são os espíritas, com 48%. A maior proporção de pessoas da religião afro está no Rio Grande do Sul e no Estado do Rio de Janeiro, e não no Nordeste, que detém a marca da maior proporção de católicos”.
SERVIÇO: Acesse o link para a live sobre o censo: https://www.youtube.com/watch?v=N9fcyDMjcJ8
Sem religião: há equívocos na abordagem
O pesquisador Alexander Moreira-Almeida ressalta que é um equívoco entender os sem religião como “sem espiritualidade”, sendo ateus ou materialistas. “Segundo dados do Datafolha do mesmo ano do Censo de 2022, apenas um décimo dos que se declararam sem religião se dizia efetivamente ateu. Ou seja, a grande maioria dos sem religião tem alguma forma de espiritualidade ou a crença em Deus. Há estudos também sobre a espiritualidade sem religiosidade que apontam que esse grupo teria pior saúde mental do que aqueles que vivenciam sua espiritualidade dentro de uma religiosidade”. (AED)
Espíritas: proporção cai em 12 anos
Mas qual o motivo para a diminuição do número de espíritas de 2,2%, em 2010, para 1,8%, em 2022? “Houve uma queda de 0,3% dos espíritas, principalmente nos grupos mais jovens, abaixo de 30 anos. Ainda não se sabe ao certo as razões, que precisam ser melhor investigadas. Há várias possíveis explicações para entender esse fenômeno. Os espíritas são aqueles com maior escolaridade: 48% têm nível superior. Dados revelam que pessoas com alta escolaridade têm menor taxa de fertilidade, e os espíritas são um grupo com menor taxa de fecundidade”, observa Alexander Moreira-Almeida.
Outro fato que pode explicar essa queda, segundo ele, “é que, durante a pandemia, os grupos espíritas ficaram muito tempo fechados, especialmente os grupos de jovens. Como o Censo foi feito logo após a pandemia, esse fato pode ter contribuído para isso”. (AED)
Censo religioso
Católicos
65,1% em 2010
56,7% em 2022
Evangélicos
21,8% em 2010
26,9% em 2022
Espíritas
2,2% em 2010
1,8% em 2022
Sem religião
7,9% em 2010
9,3% em 2022
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