Renomados palestrantes do Brasil, Espanha, Estados Unidos, Argentina, Angola e Alemanha vão se reunir em Belo Horizonte (ver agenda) durante o I Simpósio Internacional de Trauma e Sexualidade para discutir os avanços mais recentes nas áreas de sexologia clínica, neurociências, psicotraumatologia e violência sexual. Com enfoque prático e científico, o simpósio visa atualizar e capacitar profissionais da saúde para atuar de forma ética e baseada em evidências científicas no tratamento de traumas e disfunções sexuais e, ainda, fomentar o diálogo interdisciplinar entre médicos, psicólogos, fisioterapeutas, educadores e pesquisadores.
“Trauma e sexualidade são dois temas pouco discutidos na grade curricular dos cursos de psicologia e medicina. No entanto, a maioria dos transtornos sexuais são causados por falta de informação. Este evento visa suprir a lacuna entre a escassez de informação acadêmica e a crescente demanda encontrada na prática clínica”, comenta Symone Lopes, psicóloga clínica, sexóloga, professora e coordenadora do Grupo de Educação Continuada em Sexologia Clínica e Psicotraumatologia e idealizadora do simpósio.
Ela conta que a terapia sexual desenvolvida na década de 1960 pelo casal Masters e Johnson “foi aprimorada nos anos subsequentes e oferece uma metodologia simples, com intervenções terapêuticas comportamentais que são efetivas. Algumas causas orgânicas já conhecidas permitem intervenção médica, principalmente em faixas etárias mais avançadas”.
No entanto, diz Symone, “quando os transtornos sexuais são consequências de traumas, sobretudo complexos (precoces), os psicoterapeutas sexuais, muitas vezes, assistem a um fracasso terapêutico, abandono da terapia ou uma melhora parcial com recidiva”.
A psicóloga comenta que “novas abordagens terapêuticas para o tratamento do trauma, baseadas em princípios da neurobiologia, como a dessensibilização e reprocessamento por meio dos movimentos oculares (EMDR) e a terapia cognitivo-comportamental focada no trauma, têm se mostrado eficazes para o tratamento de transtornos sexuais no contexto do trauma e em outros menos complexos, quando integrados ao modelo objetivo e focal proposto pela terapia sexual”.
Ela ressalta que “a análise dos contextos, em que a integração das abordagens deve ser feita desde a anamnese, é fundamental para a elaboração de estratégias de intervenção no plano terapêutico. A caracterização diagnóstica norteará as condutas mais recomendas a cada caso para o efetivo tratamento”.
E finaliza: “O corpo guarda o que a mente silencia. Experiências traumáticas não desaparecem sozinhas. Elas moldam o comportamento, os afetos, o desejo e até o prazer. Muitos profissionais ainda não se sentem preparados para lidar com a complexidade que emerge quando trauma e sexualidade se encontram na clínica. Por isso, precisamos de mais ciência e menos tabu. Esse simpósio tem a proposta de respeitar a dor e abrir espaço para a reconstrução e cura”.
AGENDA: O I Simpósio Internacional de Trauma e Sexualidade acontecerá nos dias 5 e 6 de setembro, na Universidade Fumec, na rua Cobre, 200, Cruzeiro. Inscrições pelo site: https://www.traumaesexualidade.com ou pelo WhatsApp (31) 99222-3330, com Symone.
Trauma: não adianta fugir da dor
Para o espanhol Mario Salvador, psicólogo clínico, treinador internacional do método Aleceya e Brainspotting e autor de quatro livros, “o trauma é uma ferida emocional que pode se manifestar como uma ferida aberta, hipersensível a qualquer dano, ou como a crosta que cobre e protege a ferida: rígida e insensível. Ambas são expressões de um dano psíquico que, de alguma forma, define nossa identidade de maneira muito dolorosa. Esta nunca é nossa verdadeira identidade, mas é o que dizemos a nós mesmos sobre nós mesmos”.
Como sobrevivemos ao trauma? “Fugindo de nossa dor, e, assim, nunca conseguimos curar nossas feridas. Somente voltando a olhar com amor para nossa dor é que ela pode ser curada. É o olhar compassivo para o nosso sofrimento que finalmente o cura. Não há lótus sem lama: abraçando nossa dor com amor, ela pode finalmente liberar o fardo do sofrimento para que possa emergir o que há de mais elevado em nossa natureza como seres humanos: o amor, a espontaneidade, a solidariedade, a alegria. E assim despertar nossa verdadeira identidade natural: que somos seres dignos de amor e livres”, ensina Salvador. (AED)
O que queremos está em nós
Um dos palestrantes, Salim Zaidan, psicólogo, aluno e coordenador do Templo Chagdud Gonpa Dawa Drolma e autor do livro “Quem Amadurece Não Apodrece”, considera que “a boca só fala daquilo que o coração está cheio”. “Quem disse essa verdade foi Jesus Cristo. O corpo só expressa aquilo que ele carrega. Se não removermos as dores e sofrimentos que foram se acumulando dentro de cada um de nós, o que oferecemos ao outro? Lixo emocional, ou seja, o que de pior acumulamos, todo sofrimento que nos foi imposto devido à nossa vulnerabilidade em várias fases de nossas vidas e que foi nos congelando e nos distanciando inicialmente de nós mesmos e depois dos outros”.
Zaidan cometa que o lixo emocional vem associado à sanidade “ocupando o lugar do afeto, do respeito ao outro, da nossa essência. Nesse lugar em que muitos de nós estamos muito mais interessados em receber do que compartilhar. Aí fica muito pouco espaço para aquilo que é vida em nós, estar presente”.
O psicólogo considera que “não importa que tipo de relacionamento estejamos vivenciando, familiar, sexual, espiritual – queremos tanto receber, que não percebemos que o que tanto queremos já está em nós. Só precisamos sair do excesso de controle devido ao medo. Em síntese: confiar que o Deus que existe em nossas vidas não precisa de supervisão. Podemos relaxar”. (AED)