A psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, ainda na década de 1970, já defendia uma abordagem que garantia a dignidade ao morrer e dava voz aos pacientes em estado terminal. Esse movimento ganhou o mundo, e agora Salvador abriga o Mont Serrat, o primeiro hospital público de cuidados paliativos do país, administrado pelas Obras Sociais Irmã Dulce e construído a partir de uma parceria entre os governos da Bahia e federal.
O foco é o atendimento humanizado e a qualidade de vida dos pacientes com doenças graves, crônicas ou em finitude. O hospital está instalado em um prédio histórico de 1853 e conta com setenta leitos clínicos de enfermaria, sendo sete pediátricos e 63 para adultos.
Tem estrutura física para receber pacientes em ventilação mecânica, serviço de apoio diagnóstico, terapêutico e de bioimagem, ambulatórios, laboratório, além de um espaço requalificado que possibilita atenção à saúde humanizada. Sua capacidade mensal de atendimento é de 2.000 pacientes, com interconsultas em diversas especialidades para pacientes internados, como cardiologia, anestesia, neurologia, psiquiatria, nutrologia e pneumologia, bem como unidades específicas para terapia da dor e apoio ao luto. A média de pacientes que tiveram alta está em torno de 37,5%.
“O serviço tem como objetivo promover um ecossistema de cuidado integrado para pacientes em cuidados paliativos, visando à melhora da qualidade de vida e à promoção do bem-estar físico, psicológico, social e espiritual. Atua como modelo ‘hospice’, realizando internações hospitalares e atendimentos ambulatoriais. Desde sua inauguração em janeiro deste ano, já foram internados 800 pacientes, além do ambulatório”, explica Karoline Apolonia Castro, médica coordenadora do Núcleo de Cuidados Paliativos da Secretaria de Estado da Saúde do Estado da Bahia e uma das idealizadoras do projeto.
Karoline revela que o hospital oferece “assistência ambulatorial com atendimento presencial para pacientes adultos e crianças, acompanhamento ao luto e clínica da dor”. “Como suporte possui uma sala de procedimentos, sala de infusão, bioimagem, laboratório, além de assistência a matriciamento”.
Os pacientes e suas famílias contam com uma infraestrutura que propicia o contato com a natureza, onde podem assistir ao pôr do sol com vista à Baía de Todos-os-Santos, e área de convivência, possibilitando a reflexão, o diálogo e o silêncio.
“Além disso, o hospital dispõe de espaços que garantem acolhimento e privacidade na comunicação de notícias difíceis, como a ‘sala da saudade’, ambiente reservado para despedidas respeitosas e silenciosas, com conforto emocional e respeito às dimensões culturais, religiosas e afetivas”, observa a médica.
O hospital conta com suporte de telemedicina e ministra cursos de educação permanente em cuidados paliativos e capacitação dos profissionais internos e externos das unidades de saúde. “Com isso, visamos promover uma prática ética e compassiva. O treinamento procura aprimorar o cuidado, a compreensão do sofrimento e as relações profissionais, incluindo palestras com especialistas no tema. Até o momento, foram treinados 1.430 profissionais, e para 2027 há um projeto de voluntariado”, ressalta Karoline.
“O acolhimento prestado pelo Hospital Mont Serrat, de cuidados paliativos, é a tradução fiel do legado de amor e serviço de Santa Dulce dos Pobres. Assim como o Anjo Bom do Brasil dedicou a vida aos mais necessitados, principalmente aos doentes, o hospital segue da mesma forma, nos convidando, por meio da dedicação de seus profissionais, a enxergar essa acolhida com os mesmos olhos de Santa Dulce: com humanidade e amor, a partir de uma assistência digna, gratuita e universal”, comenta Maria Rita Pontes, superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce.
Para Roberta Santana, secretária estadual da Saúde da Bahia, “a organização fundada pelo Anjo Bom foi escolhida pela experiência em cuidados paliativos, na qual a abordagem já é desenvolvida há muitos anos, a partir de gestão humanizada e suporte dos profissionais dos diferentes núcleos, como pediatria, oncologia e geriatria. Dessa forma, asseguramos não apenas a qualidade técnica, mas também o acolhimento que só uma instituição com a história e os valores de Santa Dulce dos Pobres pode oferecer”.
Obras Sociais da Irmã Dulce têm perfil diferenciado
As Obras Sociais Irmã Dulce contam com um perfil de serviços único no Brasil, distribuídos em mais de 20 núcleos, que prestam assistência à população de baixa renda e atuam nas áreas de saúde, assistência social, pesquisa científica, ensino em saúde, educação e preservação e difusão da história de sua fundadora.
Esse núcleo abriga um dos maiores complexos de saúde 100% gratuitos do Brasil, atendendo idosos, pacientes oncológicos, pessoas com deficiência e em situação de rua, usuários de substâncias psicoativas, crianças e adolescentes em situação de risco social.
Esse complexo realiza por ano mais de 4 milhões de procedimentos ambulatoriais; acolhe mais de 3 milhões de pessoas; realiza 40 mil cirurgias e 59 mil internamentos; e serve mais de 2 milhões de refeições aos pacientes. (AED)