Nos corredores, leitos e diversos espaços da Santa Casa BH, a presença feminina predomina. No maior complexo hospitalar da capital mineira, 79% dos profissionais são mulheres. Elas são maioria até mesmo nos cargos de gestão – e ocupam vagas de coordenadoras, gerentes e superintendentes.

Uma das mulheres que compõem o quadro da unidade de saúde é a médica pediatra intensivista Filomena do Vale. Com mais de 36 anos de carreira, sendo 34 dedicados aos cuidados dos pequeninos no Centro de Terapia Intensiva (CTI) da Santa Casa BH, a profissional, que tem mais de 330 mil seguidores nas redes sociais, também auxilia os pais dos pacientes. A tarefa não é fácil, visto que o ambiente remete à fase mais crítica da saúde.

“A partir do momento em que a criança chega, a família é acolhida. Explicamos, primeiro, o que é uma unidade de terapia intensiva. Temos uma tradução do nome de CTI que é ‘Calvário de Transformação Interior’. Ninguém consegue ser a mesma pessoa depois de passar por aqui, principalmente quando está deixando o filho, que é o maior bem dos pais”, afirma.

Doutora Filó, como é conhecida, conta que tudo é explicado para os familiares do paciente. “É um momento muito assustador, pois a criancinha será vista pelos pais diferente: intubada, monitorizada, com muita sonda, inchada e com dreno”. 

O fato de a unidade de saúde receber pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) reforça a necessidade de uma relação mais estreita da equipe médica. “A gente lida com um tipo de paciente muito diferente, que é o do SUS. Temos que ter um respeito além do normal, porque ele não teve o direito de nos escolher e ainda ‘tem que ser grato porque teve uma vaga’. Eu preciso estabelecer com aquela família uma relação em que eles possam confiar no que estou falando”.

A confiança é estabelecida perante a transparência, visto que diversos procedimentos acontecem na unidade – desde os mais simples, que resultam em breve internação, até os mais complexos, que demandam longos períodos de permanência. Um dos procedimentos realizados é a cirurgia cardíaca infantil. Somente em 2022, foram 261 procedimentos. 

“Tudo tem que ser mostrado e bem explicado para que eles tenham a dimensão do que estamos fazendo. O contato diário ajuda no progresso de recuperação. Um pai tranquilo é uma criança tranquila, já que ela acredita muito. Precisamos dessa parceria”, diz a profissional.

Números

Nos cargos de gestão, as mulheres são 72% na Santa Casa BH. Do total de 146, são 105 mulheres e 41 homens, conforme detalhado pela administração.

 

Mais de 40 anos de trajetória: humanização emociona pacientes

No bloco cirúrgico tudo estava preparado para o nascimento de Eloáh. Com as luzes apagadas e o silêncio de toda equipe, era ouvida apenas a voz da técnica de enfermagem Albina Soares Teixeira. Há mais de quatro décadas, ela acompanha os nascimentos e faz a leitura do chamado “check-list de cirurgia segura”. “Trabalho com a circulação de sala e com a humanização junto às mães na hora do parto. Busco tranquilizar mãe e acompanhante”, revela.

Momentos antes do início da cesárea, Albina diz a hora e invoca a proteção: “Boa sorte e que Deus nos abençoe”. “São palavras simples e que tranquilizam as pessoas. Me marcou muito uma vez que gestante e a companhia dela choraram. Acharam importante”, lembra. 

Programa de diversidade reduz casos de assédio

Há dois anos, a Santa Casa BH desenvolve o programa de diversidade e inclusão. O objetivo, conforme pontua Roberto Otto, provedor da unidade, é combater o machismo existente na sociedade e outras formas de preconceito, além de punir quem tiver condutas inadequadas.

“Ainda não conseguimos realizar a medição, mas já é possível perceber a diminuição de queixas de assédio. Levamos a sério as denúncias e afastamos os profissionais, até mesmo médicos. Norma sem sanção é para não ser cumprida”, destacou.

O desenvolvimento interno auxilia ainda mais mulheres a ocupar cargos de liderança. “Como a nossa base é formada pelo público feminino, buscamos dar preferência à promoção dessas profissionais”, disse o provedor.