O território mato-grossense é permeado por três biomas – Amazônia, Cerrado e Pantanal –, responsáveis por fornecer uma fonte inesgotável de ingredientes por causa da diversidade espetacular. É nesse grande quintal que a chef Ariani Malouf se inspira para criar receitas para o Mahalo Cozinha Criativa, eleito o melhor restaurante de Cuiabá pela “Exame” neste ano. 

Mas, antes de inaugurar o premiado restaurante de alcance nacional em sua cidade natal, em 2006, Ariani se formou na prestigiada Le Cordon Bleu, em Paris, e passou por cozinhas da França, Itália e Alemanha. No retorno para o Brasil, foi acolhida por uma alma mineira: ninguém menos que Ivo Faria, chef de Belo Horizonte que tem mais de 55 anos de atuação em cozinhas profissionais.

“Além de ser casada com um mineiro raiz, desde que voltei da França, nos anos 2000, fui acolhida pelo chef Ivo Faria. Desde então, ele me convidou para os festivais, como o Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes, e também para fazer jantares em seu restaurante na época, o Vecchio Sogno”, relembra. A contribuição do chef de Minas foi prato cheio para que Ariani virasse uma admiradora da comida mineira, sendo mais um ponto para abastecer a sua cozinha repleta de referências, como ela mesma descreve. “A cozinha mineira é histórica, carrega a cultura de um povo que em cada prato arranca suspiros pela sua simplicidade e sabores autênticos”, acredita.


Caldeirão

O “sobrenome” dado ao seu restaurante – Mahalo Cozinha Criativa –, aberto há 18 anos, foi justamente para que Ariani Malouf se libertasse de qualquer rótulo na hora de pensar em um cardápio e, assim, pudesse mesclar livremente ingredientes regionais e influências mundiais, além de familiares. A chef é filha da banqueteira Leila Malouf, de origem libanesa, e, por isso, temperos e receitas também integram as suas criações gastronômicas.

 

Pintado na Brasa com bobo pantaneiro, arroz de abacaxi com castanha e farofa de banana do restaurante Toroari. crédito: Samuel Neto/divulgação

 

“As minhas andanças pelo Brasil e pelo mundo me inspiram demais, já que cada região tem uma cultura alimentar diferente. Aprendo a todo momento com colegas da área, cozinheiros e chefs que tenho a oportunidade de conhecer e dividir a cozinha, seja na rotina diária e também em eventos especiais e estágios de reciclagem que busco fazer”, conta. 

Pintado em crosta de  ervas do Mahalo Cozinha Criativa. Crédito Samuel Neto/divulgação

 


Longe do badalado circuito Rio-São Paulo, que acumula restaurantes premiados, a chef é incansável em apresentar para o mundo sua cozinha contemporânea e inventiva direto de Mato Grosso. “Tento reverter a questão da distância mostrando as riquezas da nossa cozinha, ingredientes e receitas. Além disso, Cuiabá é porta de entrada para todas as regiões do Estado, seja Chapada dos Guimarães, Pantanal e Nobres”, enumera.

No cardápio, tanto do restaurante quanto de reuniões em família, os biomas que formam o Pantanal são bem representados. “A comida pantaneira é basicamente o que vem da terra e da água. Simples e genuína, respeitando os ciclos da cheia, seca e vazante”, explica Ariani, citando receitas que fazem parte da sua família, como caldo de piranha, a mojica de pintado, pacu na brasa com farofa de couve e carne-seca com banana verde. “A mandioca e suas vertentes não podem faltar em um banquete regional, assim como a banana-da-terra, de verde a madura, é sempre muito utilizada”, descreve.

Além do Mahalo, Ariani integra as cozinhas de outros projetos familiares, como o buffet Leila Malouf – que existe há 30 anos em Cuiabá –, Mahá Mistura Criativa, Toroari e Mandaloun Culinária Árabe. “Amo trabalhar em família! Dividimos bem as tarefas, aproveitando os dons de cada um para operacionalizar todas as empresas com olhar atento para as tendências, desenvolvimento constante das equipes e crescimento do grupo todo”, disse.

Comida típica pantaneira; em destaque, o arroz Maria 
Isabel, feito com carne-seca picada. crédito: Samuel Neto/divulgação

 

Ingredientes e prosa de Minas Gerais conquistam a chef 

A chef Ariani Malouf, do Mahalo Cozinha Criativa, teve a oportunidade de cozinhar com alguns chefs mineiros: Monica Rangel, Leonardo Paixão, Henrique Gilberto e Bruna Martins, além do Ivo Faria, o primeiro mineiro com quem a chef dividiu as panelas. “Eu e Ariani nos tornamos muito amigos e cozinhamos juntos algumas vezes, aqui, em Belo Horizonte, e em Cuiabá. Estar junto é muito importante para nós dois. O trabalho da família, como um todo, é grandioso”, disse Ivo.

A chef mato-grossense, que se tornou fã da culinária de Minas, mais propriamente do feijão tropeiro e do pernil assado, relembra o aprendizado que teve com as experiências: “a farofa de amêndoas do Leonardo, o pesto de ora-pro-nóbis da Monica, os fermentados do Henrique Gilberto e o gnocchi de baroa do Ivo Faria. Com Bruna Martins, aprendi a croqueta de pirão de costela, que está no cardápio do Toroari na versão cupim”.

Em setembro do ano passado, a chef recebeu Bruna Martins, à frente das cozinhas do Birosca e Florestal, para cozinhar pelo projeto Mahalo Convida Chefs do Brasil. “Ariani me impressionou muito com sua cozinha, sua herança árabe que enriquece tudo do Mahalo, sua estrutura operacional e também sua gentileza”, disse a mineira.

O próximo chef com quem Ariani irá cozinhar será Caio Soter, chef do restaurante Pacato, de Belo Horizonte.