Maior produtor do globo terrestre, o Brasil tem motivos de sobra para comemorar o Dia Mundial do Café, celebrado em 14 de abril desde 2015, por iniciativa da Organização Internacional do Café (OIC). Uma década antes, o país já havia instituído o seu Dia Nacional do Café, em 24 de maio, data alusiva ao início das grandes plantações que transformaram a economia brasileira a partir do século XIX.
Rapidamente, Minas Gerais se tornou o maior produtor de café do país, título que ostenta ainda hoje, sendo responsável por 52,7% da produção nacional. Os números são tão impressionantes que colocam o Estado pareado com o 2º maior produtor de café do planeta, no caso, o Vietnã.
Apesar disso, o aumento substancial no preço de um dos principais alimentos na mesa dos brasileiros tem gerado problemas para todos. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), em 2024 o avanço no custo do grão para o consumidor atingiu 37,4%. Resistindo à crise com a força da tradição, ilustres cafeterias de Belo Horizonte seguem trabalhando com grãos especiais, e, principalmente, através do contato direto com os produtores. Percorremos algumas delas.
OOP Café
Com unidades na Savassi (rua Fernandes Tourinho, 143) e no Inhotim, em Brumadinho, a OOP deve seu nome a uma palavra oriunda do africâner, dialeto falado em regiões da África do Sul e da Namíbia, que significa “aberto” e reflete a “proposta da casa de ser um espaço de conexão, acolhimento e compartilhamento de ideias em torno do café”, explica Adriene Cobra, cofundadora da OOP Café.
O estabelecimento trabalha com os cafés especiais Arábica e Canephora, selecionando os grãos, tratando, torrando, preparando e servindo aos clientes de diferentes formas, com opções de sabor que vão do acastanhado e frutado ao chocolate amargo.
Onde. Rua Fernandes Tourinho, 143, Savassi; e Instituto Inhotim, em Brumadinho
Horário. De segunda a sábado, das 9h às 20h; e aos domingos das 9h às 16h
Página. @oop.cafe
Elisa Café e Torrefação
Localizada na rua Sergipe, 1.236, bairro Funcionários, a Elisa Café e Torrefação foi fundada por Ana Elisa Saldanha, para quem “o café não começa no grão, mas nas mãos de quem o cultiva”. “Somos uma torrefação de cafés especiais, portanto trabalhamos com origens de terroir. Dez produtores de café, sendo sete de Minas Gerais, são nossos parceiros. Então a cafeteria é o local onde nosso cliente pode viver a experiência de provar sabores diferentes, de acordo com nossa carta de cafés”, explica ela.
Entre as opções destacam-se o café coado na hora, em que o cliente escolhe o grão de sua preferência, e a venda do pacotinho para levar ao lar. Bebidas de café espresso com leite, como cappuccino, mocaccino e macchiato também estão no cardápio, que oferece quitandas produzidas no local como acompanhamento.
Onde. Rua Sergipe, 1.236, bairro Funcionários; e Avenida do Contorno, 5.800
Horário. De terça a sábado, das 8h30 às 19h; e aos domingos das 8h às 13h
Página. @elisa.cafe
Academia do Café
Sob regência da premiada barista Júlia Fortini, a Academia do Café atua, desde 2011, como cafeteria e escola, com sede original na rua Grão Pará, 1.024, bairro Funcionários. Focada em cafés especiais, a Academia trabalha com torrefação, “respeitando o perfil de cada grão para poder acentuar e extrair suas melhores características”.
A maior parte dos cafés servidos no local é oriunda da Fazenda Esperança, localizada em Campos Altos, nas proximidades de Araxá e Uberaba, interior de Minas Gerais. A Academia oferece cursos online e presenciais para os interessados nos segredos do café, e, em seu menu, a variedade abre-se aos filtrados, exóticos, com espresso e gelados, oferecendo de sorvete de café ao tradicional cappuccino.
Onde. Rua Grão Pará, 1.024, Funcionários
Horário. De segunda a sábado, das 9h às 18h; e aos domingos das 9h às 14h
Página. @academiadocafe
Minas Demais
O restaurante, café e empório Minas Demais, localizado na avenida dos Bandeirantes, 1.725, bairro Anchieta, trabalha com cafés especiais de diversas localidades do Brasil, contemplando regiões de São Paulo, do Sul de Minas e da Serra do Caparaó, em contato direto com pequenos produtores, sendo que alguns também realizam a torrefação.
O barista Leandro Dornas sublinha o sucesso do café coado, segundo ele “o mais apreciado pelo brasileiro”. O espresso e as opções geladas também fazem parte do cardápio. Quitandas produzidas no local como bolo de goiabada, considerado o carro-chefe do estabelecimento, e o irresistível pão de queijo servem de acompanhamento às variedades de café do Minas Demais.
Onde. Avenida dos Bandeirantes, 1.725, Anchieta
Horário. De segunda a sexta, das 9h às 18h; e aos sábados das 9h às 16h
Página. @minas_demais
Café Magrí
Já tradicional, com sua sede na rua Professor Djalma Guimarães, 161, bairro Mangabeiras, o Café Magrí aposta em cafés especiais e na variedade de grãos de diferentes regiões do país. “Gosto muito de trabalhar com canéforas, que é uma das espécies do café, e, principalmente, com a variedade dos robustas amazônicos”, conta Marília Balzani, sócia e barista do Café Magrí, em referência à produção da região Norte do Brasil. O cardápio vai desde o coado do dia à opção extraída a frio, pronta para beber. No caso do coado do dia, o grão utilizado pode variar.
Onde. Rua Professor Djalma Guimarães, 161, Mangabeiras
Horário. Quarta e sexta, das 10h às 18h; sábado e domingo das 9h às 18h
Página. @cafemagri
Noete Café Clube
É na rua Santo Antônio do Monte, 294, no bairro Santo Antônio, que se localiza o Noete Café Clube, fundado por Daniel Cabral em meados de 2016. “Trabalhamos somente com café especial acima de 84 pontos, e todos os meses compramos um café diferente, que é torrado por nós mesmos aqui na casa, com todo cuidado do mundo, semanalmente, para manter sempre fresquinho, e então enviamos para nossos assinantes, temos um clube de assinaturas desde 2015, e disponibilizamos também para os clientes aqui da cafeteria”, relata Daniel.
O cardápio inclui opções de bebidas coadas, espresso e variantes, cafés gelados e cold brew. “Nosso diferencial em BH é de fato a torrefação dentro da cafeteria e as opções de grãos variados com torra fresca para consumo, podendo levar para casa”, salienta o entrevistado.
Onde. Rua Santo Antônio do Monte, 294, Santo Antônio
Horário. De terça a sexta, das 9h às 19h30; sábado das 9h às 14h; e segunda de 12h30 às 19h30
Página. @noetecafeclube
Playlist
Astros da música brasileira como Gilberto Gil, Vinicius de Moraes, João Roberto Kelly, Chico Buarque, Jorge Ben Jor, Martinho da Vila e João Donato compuseram sobre a relação do povo brasileiro com o café.
“Para Fazer Um Bom Café” (samba, 1965) – Vinicius de Moraes e Baden Powell
Em 1965, Vinicius de Moraes e Baden Powell, dupla que fomentou os indispensáveis afro-sambas, se juntaram para compor em homenagem a Ciro Monteiro, um dos grandes cantores de samba do país, com divisão rítmica e dicção únicas. O resultado foi o álbum “De Vinicius e Baden Especialmente para Ciro Monteiro”. No repertório, estava o samba “Para Fazer Um Bom Café”, que, como explicita o título, explica a preparar o café, em ritmo de receita. Em 2010, a música recebeu uma regravação do grupo Sushi Na Brasa. É deliciosa!
“A Luta Contra a Lata ou a Falência do Café” (tropicalista, 1968) – Gilberto Gil
Segundo álbum de estúdio de Gilberto Gil, lançado no histórico ano de 1968, ele foi escolhido pela revista Rolling Stone Brasil um dos 100 melhores da música brasileira de todos os tempos, no ano de 2007. Gravado com a participação de Os Mutantes, o trabalho apresenta a faixa “Domingo no Parque” e parcerias de Gil com o poeta Torquato Neto. Encerrando os trabalhos, está a tropicalista “A Luta Contra a Lata ou a Falência do Café”, que reverte eventuais expectativas de um samba-enredo, mas mantém sua história.
“Cafezinho” (samba, 1970) – João Roberto Kelly e Augusto Melo Pinto
“Quando canto e o público me aplaude, eu fico nas nuvens, eufórica. Minha vida se transforma. Independentemente dos problemas que tenha, ao entrar no palco, eu flutuo. A energia do público faz você cantar”, declara Dóris Monteiro, sem esconder a emoção. Natural do Rio de Janeiro, onde ainda mora, Adelina Dóris Monteiro logo adotou os sobrenomes como alcunha artística. Aos 6, 7 anos de idade, ela dizia que “queria ser ‘canteira’”. “Cantava brincando”, conta.
Essa brincadeira a levou a se tornar uma das mais reconhecidas cantoras da música brasileira, com um estilo que pavimentou o caminho para a bossa nova, prezando pela suavidade na interpretação. Em 1970, já consagrada, Dóris lançou o samba “Cafezinho”, de João Roberto Kelly e Augusto Melo Pinto, uma pecinha simpática, que diz: “Zé, me serve um cafezinho que seja pingado/ Pouco açúcar, louça fria, estou ali sentado…”. Ciro Monteiro regravou a canção.
“Cotidiano” (samba, 1971) – Chico Buarque
Se a história da música popular brasileira possui uma linhagem, nela não pode faltar o nome de Chico Buarque de Hollanda. Filho do historiador Sérgio Buarque – e irmão das também cantoras Miúcha, Cristina Buarque e Ana de Hollanda – o garoto prodígio da canção nacional, como era de se esperar, começou cedo.
Enfileirou sucessos desde o princípio da carreira, nos anos 1960, auge da bossa nova, passando por vários ritmos, gêneros e inclusive movimentos musicais, alinhavando parcerias com nomes como o poeta Vinicius de Moraes, o maestro Tom Jobim, o dramaturgo Ruy Guerra e o tropicalista Gilberto Gil, além de outros compositores de peso, tais como Milton Nascimento, Francis Hime e Edu Lobo.
Em 1971, Chico lançou um de seus melhores sambas, “Cotidiano”, que destaca o relacionamento de um casal em meio aos afazeres domésticos: “Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar/ E essas coisas que diz toda mulher/ Diz que está me esperando pro jantar/ E me beija com a boca de café”. Sucesso atemporal.
“Café com Pão” (MPB, 1981) – João Donato e Lysias Ênio
Dinahir Tostes Caymmi, mais conhecida como Nana Caymmi, nasceu no berço esplêndido da música popular brasileira, no dia 29 de abril de 1941, no Rio de Janeiro. Filha do baiano Dorival Caymmi e irmã dos cariocas Dori e Danilo Caymmi, ela iniciou a carreira artística em 1960, ao gravar com o pai a canção “Acalanto”. Em 1963, lançou o seu primeiro disco-solo. Ao longo de uma bem-sucedida carreira, Nana Caymmi se tornou uma das mais requisitadas cantoras da música brasileira, gravando canções para trilhas de minisséries e novelas da Rede Globo. Em 1981, Nana lançou “Café com Pão”, de João Donato com seu irmão Lysias Ênio.
“Café” (samba-rock, 1995) – Jorge Ben Jor
Jorge Duílio Lima Meneses, o popular Jorge Ben Jor, nasceu no dia 22 de março de 1939, no Rio de Janeiro, e provocou uma verdadeira revolução na música brasileira ao surgir, em 1963, com o disco “Samba Esquema Novo”, que apresentava a todo o país a sua maneira particular de cantar e tocar ao violão. O estilo único de Jorge Ben Jor rendeu ao Brasil músicas de sucesso como “País Tropical”, “Que Maravilha”, “Mas Que Nada”, “O Telefone Tocou Novamente”, “Charles Anjo 45”, entre tantas outras. E ele também realizou duetos de sucesso com Caetano Veloso, Tim Maia, Gilberto Gil, Ivete Sangalo. Em 1995, Jorge Ben Jor lançou o samba-rock “Café”, de sua autoria.
“Café com Leite” (samba, 1996) – Martinho da Vila
Martinho José Ferreira, o popular Martinho da Vila, ficou assim conhecido porque foi criado em Vila Isabel, bairro do Rio que também abrigou Noel Rosa. Martinho nasceu no dia 12 de fevereiro de 1938, em Duas Barras, município do Rio de Janeiro. Mudou-se para a capital com apenas quatro anos, e logo se enturmou com a galera do samba. Em 1967, se apresentou no Festival da TV Record. Dois anos depois, em 1969, gravou o primeiro disco e logo de cara emplacou um grande sucesso: “O Pequeno Burguês”, um samba sempre atual. “Café com Leite”, samba de sua autoria com contornos românticos, foi lançado em 1996.