A sopa é um alimento universal, cuja origem remonta aos tempos pré-históricos. A evidência arqueológica mais antiga desse prato milenar foi encontrada na caverna de Xianrendong, na província de Jiangxi, na China, datada de 20.000 a.C. No local, arqueólogos descobriram uma cerâmica com marcas de queimadura, sugerindo o preparo de um alimento quente.
Acredita-se, ainda, que este seja um dos preparos mais antigos do mundo, o que não seria impossível, já que a sopa faz parte da história e da cultura de diferentes países da África à Europa, passando pelas Américas, Ásia e Oceania.
Os motivos para a presença da sopa em todos os cantos do planeta são muitos. Não é preciso, por exemplo, ser nenhum gênio da cozinha para saber prepará-la. Além disso, a sopa costuma ser de fácil digestão, o que a torna uma boa opção também para crianças, idosos ou pessoas em recuperação.
É também extremamente nutritiva, já que muitas receitas reúnem tudo o que é necessário em uma refeição completa, como proteínas, carboidratos, legumes, vegetais e gorduras saudáveis. Ou seja: sopa é janta, sim!
Mas não é preciso sair de Belo Horizonte para experimentar os sabores da sopa ao redor do mundo. Por aqui, diferentes restaurantes servem versões do prato inspiradas em culinárias lugares variados do planeta, especialmente porque o inverno começa exatamente às 23h42 desta sexta-feira (20).
A reportagem de O TEMPO selecionou cinco locais em Belo Horizonte onde é possível experimentar preparos típicos do Japão, Itália, França, Espanha e Estados Unidos. Confira!
1. Estados Unidos
O Gumbo, localizado na Galeria São Vicente, leva o nome do ensopado de Nova Orleans, cidade de Luisiana, nos Estados Unidos. No espaço, são servidos pratos comuns dessa região, sendo o gumbo o preparo mais emblemático da cidade norte-americana.
“Escolhemos esse nome justamente por ele ser marcante e representar bem essa tradição. Sua origem está no delta do Mississippi, e o gumbo carrega diversas influências, inclusive dos nativos americanos que habitavam a região. Como o delta do Mississippi é uma área ecologicamente muito rica, especialmente em mariscos, peixes e crustáceos, os nativos faziam seus guisados com o que pescavam. Eles engrossavam o caldo com o pó da árvore sassafrás, bastante comum na região”, conta Giancarlo Zorzin, proprietário do Gumbo.
Ao longo do tempo, o gumbo recebeu influências dos europeus (com acréscimo de carne de porco defumada e de frango) e de povos africanos, que introduziram ingredientes como o quiabo. Além disso, houve a contribuição dos caribenhos, que usaram especiarias como a páprica e a pimenta caiena.
“Com o tempo, o prato foi tomando forma. Uma das principais técnicas usadas hoje no preparo do gumbo é para espessar o caldo. Na Louisiana, foi desenvolvido o dark roux (mistura de gordura e farinha cozida em fogo baixo), em que a farinha é cozida no óleo até atingir uma cor semelhante à do chocolate meio amargo. Essa técnica dá ao gumbo sua cor escura característica e um sabor marcante”, explica.
Gumbo
Preparado com porco defumado, camarão e frango, o gumbo é servido com arroz branco e pão de milho. No Gumbo, o prato acompanha waffle de pão de milho, inspirado na criação original. Além da versão tradicional, há opções vegetariana (que acompanha arroz e wafle) e vegana, em que pão de milho é substituído por milho baby.
Onde encontrar. Gumbo (avenida Amazonas, 1.049, centro)
Valor. R$ 55 tradicional) e R$ 50 (vegano e vegetariano)
2. Japão
Agora, para quem prefere um prato mais leve, o misoshiru é uma refeição ideal. Típico do Japão, o prato é servido no izakaya Fugu, comandado pelo chef Victor Naddeo. Estima-se que a técnica de produção do misso (pasta de soja fermentada usada no misoshiru) tenha chegado ao Japão no século VII.
“No entanto, o misso era um produto caro e reservado apenas as elites. Foi só no período Kamakura (1185–1333), com a popularização da alimentação budista, que o misoshiru se tornou um prato comum no Japão. No período Edo, o prato se tornou mais parecido com o que conhecemos hoje e se consolidou como um alimento do dia a dia japonês”, explica Naddeo.
O misoshiru é consumido no Japão durante todo ano, como acompanhamento ou entrada. “Já no Brasil, é mais comum encontrá-lo em cardápios de casas especializadas de gastronomia tradicional japonesa”, diz o chef.
Apesar de ser consumido mais como acompanhamento, a sopa japonesa é rica em proteínas vegetais, vitaminas do complexo B, minerais e probióticos provenientes do Misso. “Então, ele contribui para uma alimentação mais equilibrada. Além disso, temos outras formas de consumir o Misso, como o misso lamen, servido no Fugu, que, aí, sim, pode ser considerado uma refeição completa”, defende.
Misoshiru
A base é feita com pasta de soja fermentada (missô) e caldo (dashi). O Fugu serve o prato tradicional, em uma mistura feita com alga Kombu, cogumelos secos e Aka Miso, acompanhado de tofu artesanal e finalizado com cebolinha.
Onde encontrar. Fugu (rua Fernandes Tourinho, 292, Funcionários)
Valor. R$ 30
3. França
Na França, são comuns as sopas de cebola, a de alho-poró com batata, a de peixe e a bisque de camarão, vendida no D’Artagnan Bistrô. A chef Marise Rache explica que o prato é geralmente servido como entrada, mas, para dias de fome leve, a bisque pode tranquilamente substituir uma refeição.
“Preparamos um caldo bem saboroso, com camarão, lagosta, tomate, cebola e alho-poró”, explica. Acredita-se que o nome “bisque” venha da região de Biscaia, situada no Golfo da Biscaia (costa atlântica da França), um local onde havia fartura de crustáceos.
Bisque de camarão
Feita com caldo da casca do camarão flambadas no conhaque. Também leva lagosta, ervas variadas, tomate, cebola e alho-poró. O creme de leite entra para engrossar. É finalizado com pedaços de camarão grelhados. O D’Artagnan segue a receita original.
Onde comer. D’Artagnan Bistrô (rua Tomás Gonzaga, 593, Lourdes)
Quanto. R$ 56
4. Itália
Na região de Nápoles, na Itália, a polpo alla luciana é uma das sopas mais consumidas. Servida no Barolio desde a sua fundação, o prato é um dos queridinhos da casa - além das pizzas, claro –, especialmente na época do inverno.
“A base do prato é chamada de luciana e é feita com tomate, alcaparras, azeitonas e batata. Esse molho é bastante versátil e permite adicionar diferentes ingredientes. No caso do Barolio, usamos polvo e servimos com torradas”, explica o proprietário da casa, Mateus Hermeto.
Polpo alla luciana
Receita feita com tomates, azeitonas, batatas, alcaparras, alho e azeite de oliva. Esse molho é chamado de luciana e serve de base para diferentes preparos. Polvo, no caso do Barolio.
Onde comer. Barolio (rua Tomé de Souza, 616, Savassi e alameda Oscar Niemeyer, 1.033, Vila da Serra)
Quanto. R$ 69,99
5. Espanha
Já o gaspacho, feito à base de hortaliças, como tomate, o pepino e o pimentão, se origina de Andaluzia, região da Espanha conhecida por suas altas temperaturas. Justamente por isso, a sopa é servida fria, com a ideia de dar um refresco ao paladar. Em BH, o Parallel oferece uma versão clarificada do gaspacho.
“Servimos dessa forma por dois motivos. Primeiro, porque o sabor fica mais concentrado. E segundo pela quebra de expectativa. Quando o cliente imagina que vai receber um gaspacho tradicional, acaba recebendo um chazinho com gosto de gaspacho”, afirma o chef Guilherme Furtado.
Gaspacho
De coloração vermelha intensa, a sopa é feita à base de tomate, o pepino, pimentão, alho e cebola. No Parallel, é servida uma versão clarificada dessa mistura, acompanhado de sachê com ervas aromáticas, bolinhas de melão e azeite.
Onde comer. Parallel (rua Santa Catarina, 1.155, Lourdes)
Quanto. R$ 28