A Galeria São Vicente, na praça Raul Soares, acaba de ganhar mais um estabelecimento. Trata-se do TOM, restaurante que une “cozinha de herança” e coquetelaria autoral a uma arquitetura com ares modernistas e bastante colorida. Aliás, este é um dos grandes charmes do local. De longe, é possível ver o letreiro do restaurante com luzes que se alternam em diferentes cores. Lá dentro, os tons de tinta da parede combinam com as páginas que compõe o cardápio.

“Tom tem diversos significados e, para fazer sentido para a gente, a ideia era criar um nome forte que combinasse com tudo isso. Tom remete a cor, ao tom musical, ao tom da fala…”, descreve o responsável pelo bar e projeto arquitetônico do espaço, Túlio D’Angelo. O restaurante fica em uma das “esquinas” da galeria e ocupa 15 lojas, com um salão amplo e arejado. As pessoas também podem optar por ficar na varanda. 

“Algumas dessas lojas estavam vazias há décadas. A gente que quis dar um ar de art déco, trazendo uma modernidade também paro o centro. Buscamos um conjunto de referências, e essa mistura deu samba. As cores também são muito vibrantes, trazem uma coisa alegre, viva. Eu acho que estávamos precisando de algo vivo, menos sóbrio, moderno, contemporâneo”, resume.

A cozinha fica por conta da chef Ana Clara Valadares, sócia-proprietária do TOM ao lado de Túlio. Ela, que já trabalhou em casas como Birosca e Florestal, comenta que o restaurante foi uma construção que durou quatro anos.

“Antes de ser isso tudo aqui, o projeto passou por dois outros desenhos arquitetônicos e também por outras cozinhas. Até que eu entendi que seria, sim, uma cozinha autoral. Porque, a princípio, eu ainda não tinha confiança para criar uma cozinha autoral. Foi só quando o Tom nasceu, depois de muito estudo, encontrei um termo usado na pesquisa da história da alimentação brasileira: ‘cozinha de herança’. E ali eu entendi que era onde eu cabia”, comenta. Em mais de 10 anos trabalhando com panelas e receitas, Ana foi anotando e experimentando tudo o que lhe tocava: repertórios, técnicas, ingredientes...

“Fui misturando técnicas que aprendi e estudei ao longo da vida com aquelas que já fazia desde pequena, como o pingue-frita, algo bem mineiro, cheio de sabor. Então, tem muita cozinha mineira, mas também tem asiática, italiana... É tudo isso junto, uma fusão de várias influências. A cozinha de herança entra aí: é uma herança minha, Ana Clara, como chef, colocando tudo isso num cardápio. Mas é também uma herança que quero deixar. Porque herança a gente recebe, mas também deixa. E esse primeiro cardápio é justamente um compilado de tudo o que vivi nesse tempo como cozinheira.”, comemora.

Destaques do cardápio

O cardápio colorido do TOM (de papel, diga-se de passagem) se divide em quatro eixos: petiscar, partilhar, deliciar e lambuzar. No primeiro, o grande destaque vai para o Ahimi (R$ 59), que traz um trio de tomate curado, maionese, ovas de salmão e brioche frito.

“O Ahimi é um preparo japonês criado há milhares de anos para substituir o atum. Ele lembra a cor, a textura, o sabor... É uma cura japonesa. Aí eu acrescento a ova e o salmão também, para trazer ainda mais salinidade e essa sensação de estourar na boca mesmo. E tudo isso vai com um brioche frito por imersão”, explica Ana.

Ahimi. Foto: Túlio Dangelo/divulgação

Na sessão partilhar, a dica é pedir a língua, com cogumelo portobello e molho de ostras (R$ 64), que cai muito bem com pães acompanhados por manteiga da casa (R$ 32). “É uma língua bem cozida, muito macia, que se assemelha mesmo a uma carne de panela. Muita gente não tem coragem de comer língua, mas não aqui, porque ela é muito bem feita, com carinho e técnica, no molho de ostra, galopé e cogumelos”, diz a chef.

Como prato principal, destacam-se o magret de pato grelhado na brasa (servido com purê de cenoura e refogado de maria gondó e couve, R$ 109) e frango e purê de cará (coxa e sobrecoxa desossada, confitada na banha e servida com purê de cará e ora-pro-nobis, R$ 89).

Frango e purê de cará. Foto: Laura Maria/O TEMPO

Para fechar, vale pedir o Pastel do Centro (R$ 32), feito com massa de pastel, mousse de banana tostada e caramelo. “Estamos no centro de Belo Horizonte, e entre as poucas coisas que são de fato belo-horizontinas, o pastel de banana se destaca. Toda pastelaria tem pastel de queijo, carne e banana. E eu coloco a apresentação desse prato como uma mil folhas. É massa de pastel frita, uma mousse de banana e um creme de chocolate branco caramelizado. É uma sobremesa de camadas que você consegue sentir bem tudo", elogia a chef.

Entre um petisco ou outro, vale a pena pedir alguns dos drinks do cardápio, que ficam sob comando de Túlio D’Angelo. A cada temporada, os drinks variam de cor, ou melhor, de tom. Desta vez, a seleção é vermelha. Ao todo, os clientes podem escolher entre seis bebidas autorais, mas essa quantidade deve aumentar nos próximos meses.

"Queria algo mais livre, que não remetesse necessariamente aos clássicos. Então, a carta é muito autoral. O vermelho tem tudo a ver com o Tom, e a ideia é trabalhar isso pelas temporadas. Podem vir drinks verdes, transparentes, coloridos… A nossa preocupação com a estética é muito grande: não é só comer com os olhos, mas também beber com os olhos", resume Túlio.

Na carta, destacam-se o Altiplano (R$ 39), feito com tequila, acerola, limão, flor de sal e páprica, e o Escalarte (R$ 42), elaborado com gin, hibisco, vermute seco, palito de gorgonzola e ova vermelha. Quem chega na casa, ainda é recebido com um wellcome drink, que, nesta temporada, leva poejo e limão siciliano. 

Altiplano leva tequila, acerola, limão, flor de sal e páprica. Foto: Laura Maria/O TEMPO

SERVIÇO

TOM

Endereço: Galeria São Vicente (Avenida Amazonas, 1049, loja 70, centro)

Funcionamento: Quarta a sexta, das 18h30 a 0h; aos sábados, das 12h a 0h; e aos domingos, das 12h às 17h.