LIMA, PERU. O peruano Maido, comandado pelo chef nipo-peruano Mitsuharu “Micha” Tsumura, 44, foi eleito o melhor restaurante do mundo na edição de 2025 do prestigiado ranking The World’s 50 Best Restaurants, anunciado na última quinta-feira (19), em Turim, na Itália. A consagração marca não apenas o auge de uma trajetória dedicada à cozinha nikkei – fruto da imigração japonesa no Peru –, como também confirma o país como uma potência gastronômica global. O Maido é o segundo restaurante latino-americano a alcançar o topo do ranking, dois anos após o Central, de Virgilio Martínez, também em Lima, conquistar o mesmo feito.
Além do Maido, outros três restaurantes do Peru foram selecionados entre os 50 melhores do mundo: Kjolle, na nona posição; Mérito, na 26ª; e Mayta, na 39ª. O reconhecimento reafirma o Peru como um dos polos gastronômicos mais relevantes do mundo – tanto como atrativo turístico e símbolo de identidade quanto como força transformadora da percepção internacional sobre a culinária latino-americana.
Entre os 50 melhores do mundo nesta edição, dez são da América Latina. Além disso, o Maido já havia sido eleito o melhor restaurante da América Latina em quatro edições anteriores da premiação e foi o número 1 da América do Sul no ano passado. Agora, celebra seu maior feito global. A mesma lista inclui o Lasai, comandado pelo chef Rafa Costa e Silva, no Rio de Janeiro, e, agora, o único brasileiro entre os 50 melhores do mundo.
História
Filho de japoneses de Osaka, mas nascido em Lima, Micha estudou nos Estados Unidos e se formou no Japão, onde aprendeu os fundamentos da culinária nipônica. Mas foi ao retornar ao Peru e fundar o Maido, em 2009, que consolidou sua proposta de fundir técnicas japonesas com ingredientes locais, especialmente da Amazônia peruana. “A cozinha peruana é civilização. São mais de 7.000 anos de cultura. Fermentações, secagens a frio, técnicas milenares. Isso está no nosso DNA”, afirma o chef, que é conhecido como Micha.
Essa filosofia está expressa no menu atual da casa, visitada em maio de 2025, em Lima. A proposta homenageia a biodiversidade da floresta amazônica e serve pratos que unem as tradições culinárias do Peru e do Japão, tudo elaborado em um ambiente gastronômico genuinamente descontraído. “No Brasil, por exemplo, a cozinha tem muito da África. No Peru, a inspiração está na floresta. Os ingredientes estão aqui, sempre estiveram. Só não víamos isso com clareza”, comenta Micha, em uma crítica sutil ao olhar ainda colonial sobre a culinária latino-americana.
Como representante do segundo restaurante peruano a alcançar o topo do mundo, o chef também reflete sobre o impacto da gastronomia na transformação do país – especialmente por meio do trabalho coletivo de chefs como Gastón Acurio, responsável por fomentar uma cultura de valorização da comida local e da economia que gira em torno dela. “A gastronomia peruana sempre foi incrível. O que mudou foi a mentalidade. Hoje, o peruano tem orgulho da sua cozinha. Mais até que do futebol. Mais do que de Machu Picchu”, brinca.
Micha também acredita na força da colaboração entre chefs latino-americanos. “O que me encanta é ver os países unidos. Na América Latina, falamos quase todos a mesma língua. Isso facilita a conexão. Dá para construir uma rede de troca muito forte”, afirma.
Quem compartilha desse sentimento é o chef Gastón Acurio, um dos grandes embaixadores da gastronomia peruana no mundo. Ao comentar a premiação do Maido, ele escreveu em suas redes sociais uma homenagem comovente a Micha: “Por trás dessa conquista, além de um restaurante excepcional, há um país inteiro, orgulhoso, que celebra teu triunfo como se fosse seu”. E, daqui, a celebração se estende – é toda a América Latina que se reconhece nesse feito.
Quanto custa comer no Maido, o melhor restaurante do mundo
O restaurante oferece menus-degustação variados, com valores que podem ultrapassar R$ 3.700 por pessoa, dependendo da harmonização. As bebidas são selecionadas por Florencia Rey, eleita a melhor sommelière da América Latina em 2023, e incluem desde vinhos naturais e saquês raros até coquetéis autorais, que dialogam com os sabores de cada prato.
A Experiência Maido tem dez etapas e apresenta combinações surpreendentes: começa pelo zig zag amazônico, seguindo de um sanduíche de presunto de pirarucu defumado com pimenta ají dulce, mel de abelha melipona e karashi; passa por uma versão nikkei do tradicional “a lo pobre”, feita com wagyu, creme de banana com missô, arroz de sushi frito e ovo com ponzu; além de ouriço-do-mar e vieiras peruanas servidas com creme de arracacha – raiz andina semelhante à batata-baroa – e azeite de manjericão. Um prato que respeita ao máximo a frescura e as propriedades de seus insumos.
Familiar para os paladares locais, mas inusitado para muitos turistas, o cuy – um tipo de porquinho-da-índia típico do Peru – é servido de forma delicada, com molho de pimentões picantes. Antes da sobremesa, um dashi quente chega à mesa com timo de vitela defumado, milho crocante e tempurá. Entre os destaques está o “toro mesa”, momento em que a mesa de sushi é preparada ao vivo com a barriga do atum do Pacífico – parte nobre do peixe, famosa por sua textura macia e gordura que derrete na boca.
Cada etapa da experiência é um recorte do país em texturas e temperaturas. “Se eu quiser, hoje, pego um avião e em uma hora estou em 32°C na praia. Ou em 0°C na montanha. O Peru é um milagre de microclimas. E a cozinha tem que refletir isso”, justifica.
Ah, e um detalhe: o nome “Maido” vem de uma saudação tradicional japonesa, algo como “bem-vindo” – e é exatamente assim que os clientes - são 50% turistas e muitos brasileiros - são recebidos ao entrar: com entusiasmo e calorosas boas-vindas da equipe de salão.
Maido: Ca. San Martín No. 399, Miraflores 15074, Peru