É possível pensar num mundo sem sustentabilidade? A resposta é rápida: não. Mas a gastronomia também deve se ater a essa questão? A subsecretária de segurança alimentar e nutricional de Belo Horizonte, Darklane Rodrigues, e o responsável pelo Grupo Vilela, Rafael Quick, garantem que sim. Eles participaram do painel “Cozinhar o amanhã: sustentabilidade como receita de sucesso”, que integra o Seminário O TEMPO Gastrô, realizado na tarde desta quarta-feira (30), no Mercado de Origem de BH. O debate foi mediado por Eduardo Maya, à frente do Projeto Aproxima e da Pitza 1780.

Darklane Rodrigues abriu a discussão falando sobre o seu trabalho na PBH. “Estou na prefeitura desde 2017, mas este posto existe desde a década de 1990. A segurança alimentar e nutricional é uma política pública, que ocorre não somente dentro de um setor. Para alcançar uma abrangência relevante, nosso trabalho é articulado com outras secretarias, como de Meio Ambiente, de Obras e de Saúde, além de existir também um diálogo com o setor privado”, falou.

Rafael Quick começou a conversa falando sobre a sua inserção na gastronomia, que começou com uma mudança de carreira. “Eu sou formado em design gráfico, e as oportunidades me levaram para São Paulo, onde trabalhei na Revista Superinteressante. A primeira grande mudança na minha carreira aconteceu quando me mudei para o interior do Paraná, onde me encantei com o pequeno comércio. Voltei para São Paulo, continuei trabalhando, mas a vontade de empreender cresceu, e uma coincidência me aproximou de amigos que buscavam abrir uma cervejaria em Belo Horizonte”, contou.

Ele voltou para BH, e, desse encontro, nasceu a cervejaria e mercearia Juramento há oito anos. “A cervejaria me permitiu ampliar o olhar, englobando o contexto da cerveja além do copo. A paixão pelo empreendedorismo me contagiou, tornando impossível voltar atrás”, relembra. O Juramento faz parte do grupo Vilela, que ainda integra a Cozinha Tupis e o Forno da Saudade. Quick também é criador do movimento Velho Mercado Novo, que revitalizou o espaço.

Na sequência, Darklane falou sobre estratégias pensadas pelo poder público para dar acesso à agroecologia. “Temos um eixo que se concentra em crianças e adolescentes, pois são multiplicadores naturais. Contamos com a colaboração de nutricionistas e pedagogos, trabalhando em conjunto com professores para multiplicar o conhecimento. Nossa equipe oferece oficinas com técnicas e atividades lúdicas. A presença de crianças e adolescentes em nossas ações traz um papel pedagógico fundamental, alinhado com nossa política baseada em princípios agroecológicos. Buscamos não apenas a produção sem veneno, mas também a valorização da tradição, o respeito aos ancestrais e a incorporação da cultura do saber milenar em nossa política. A meninada adora!”, explicou.

“Falar de sustentabilidade exige olhar para diversas frentes. Quando escuto a Darklane falar, sinto que nem sempre faço tudo o que gostaria. Mas a sustentabilidade também abrange o social, combatendo a desigualdade e buscando transformar espaços. Além disso, tem uma parte cultural que me interessa, porque, com ela, podemos pensar em coisas valiosas para a gente, e o Brasil é a coisa mais valiosa que temos. Mas às vezes olhamos com muito cuidado e pouca estratégia para ele. Quando pensamos em mercado, o negócio pode afastar o que tem de cultural e aumentar o gap social entre pessoas e economia. Mas também podemos fazer exatamente o contrário, e nisso existe um ganha-ganha muito legal”, sintetizou Quick.

Parceria entre poder público e privado

No bate-papo, Rafael Quick e Darklane Rodrigues comentaram sobre uma parceria entre o Forno da Saudade e a Prefeitura de Belo Horizonte. “No entorno do Forno da Saudade, há uma grande área verde não utilizada. Quando fomos para lá, descobrimos que (o bairro) Carlos Prates era uma colônia agrícola, mas que não chegou a produzir por conta do crescimento da cidade. Entretanto, o bairro manteve alguns desses espaços. Então, começamos um projeto de plantio de alimentos orgânicos no nosso jardim”, revelou Quick. “Também começamos um protótipo de uma feira de orgânicos, que acontecerá na pracinha onde está o Forno. A ideia é juntar o pequeno empreendedor com o poder público e imaginar o que esse espaço pode ser”, adiantou ele.

Para além dessas ações, Darklane falou que está nos planos da PBH a revitalização da passarela que liga o centro da capital ao Forno da Saudade. “Nós queremos fazer um corredor ecológico, em uma proposta que entende que elementos como comércio e população são importantes. Não se trata de gentrificação, mas de incluir a todos, unindo os empreendedores da cultura a pessoas que fazem parte daquele lugar. Estamos empolgados”, indicou a subsecretária.