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Improviso e tanques nas ruas 

De Belo Horizonte, tropas partiram para o Rio e Brasília. Movimento foi precipitado e garantiu vitória

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Chegada. No dia seguinte ao golpe militar, as tropas e tanques que saíram de Minas Gerais chegaram ao Rio de Janeiro
PUBLICADO EM 30/03/14 - 03h00

“A revolução foi uma coisa impetuosa, ninguém esperava por ela. Em Belo Horizonte, um dos quartéis recebeu a ordem para marchar para o Rio, e o outro – que era o meu –, para marchar para Brasília. E assim vencemos, sem resistência”. Quem lembra é o tenente-coronel Pedro Cândido Ferreira Filho, hoje com 80 anos.

A “ordem” surgiu em Juiz de Fora e partiu do general Olímpio Mourão Filho. Ele precipitou o golpe ao ordenar que as tropas da IV Região Militar sob seu comando na Zona da Mata seguissem, no dia 31 de março de 1964, para ocupar o Rio de Janeiro. A impetuosidade do golpe, lembrada pelo tenente-coronel mineiro 50 anos depois, está ligada à decisão tomada por Mourão Filho naquela noite que surpreendeu, inclusive, outros atores fundamentais nesse capítulo da história do país.

Inicialmente, a intervenção militar ocorreria no dia 4 de abril. A data foi definida em reunião, em Juiz de Fora, com Mourão Filho, o também general Odílio Denys e o então governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto. Esses e outros nomes formaram no Estado o maior polo de oposição aos “ideais comunistas” do então presidente do Brasil, João Goulart. O acordo, porém, não foi cumprido, e, em 31 de março, Mourão Filho marchou rumo ao Rio disposto a derrubar Jango.

“Era uma aventura. Foi uma coisa arriscada. Mas nós conseguimos derrubar o comunismo. A revolução mudou a história do Brasil e, possivelmente, do mundo para melhor. Foi algo fantástico”, recorda Ferreira Filho. Passadas cinco décadas da data histórica, ele fala em “sorte”.

De fato, o cenário descrito pelo militar é de total amadorismo do Exército, que usou ônibus e soldados despreparados para mudar os rumos do país. “Naquela época, o Exército não tinha viaturas, não tinha nada. Chegamos a Brasília em um ônibus da Viação Sandra, cheio de soldados que mal sabiam atirar. Se tivéssemos enfrentado uma tropa preparada, certamente seríamos destruídos”, lembra. “Era uma verdadeira aventura! Porque, para fazer uma guerra de ônibus, não havia a menor condição”.

Enquanto o atual tenente-coronel comemorava o sucesso do golpe, do outro lado, a resistência sofria as primeiras consequências da chegada dos militares ao poder. Na época presidente do Sindicato dos Bancários em Minas, Antônio Faria Lopes, hoje com 77 anos, recorda bem a manhã do dia 1° de abril, quando percebeu que já era tarde para resistir.

“Por volta das 11h, eu liguei para o professor Edgar de Godói da Mata Machado e disse: ‘Professor, quero conversar com você’. Ele me perguntou: ‘Faria, você acha que ainda é hora de conversar?’”.

Àquela altura, segundo Lopes, a polícia estava prestes a invadir o sindicato, e ele, a se tornar um foragido. Sem escolha e sabendo que seu nome estava em evidência, ele fugiu para a serra da Piedade, onde se escondeu, ao lado de dois colegas, por cinco dias. “Achávamos que era algo passageiro, que a ala progressista dos militares ia agir e o golpe ia fracassar”. O retorno a Belo Horizonte, porém, lhe rendeu um período de prisão e humilhação que ainda hoje o emociona.


“Quando a ordem de deslocamento chegou, estávamos de prontidão dentro do quartel. Chegamos a Brasília no dia 31 e fomos para uma unidade militar em construção. O presidente Jango se deslocou para o Sul, e a revolução foi vitoriosa. Todo mundo que estava no quartel queria derrubar o comunismo, e isso aconteceu com a nossa revolução. Foi uma aventura! Porque, para fazer uma guerra de ônibus, não havia condição. Hoje, vivemos momentos difíceis, mas nunca seremos um país comunista. Não gostaria de ver os militares de volta ao poder. Não somos bons políticos, somos ditadores por formação. A eleição é importante. O voto é fundamental.”

Pedro Cândido Ferreira Filho - Tenente-Coronel do Exército


“Eu era presidente do Sindicato dos Bancários na época, e estávamos ligados a toda agitação que precedeu o golpe. Meu nome estava na lista dos militares. No dia 1º de abril, quando o professor Edgar de Godói da Mata Machado me disse que não era mais hora de conversar, eu fugi para a serra da Piedade. Mais tarde, a polícia chegou ao sindicato. Eles queriam apreender coisas, até a caixa d’água eles olharam. Diziam que tínhamos armas escondidas. Aquele dia foi terrível. As pessoas que não viveram a ditadura não podem imaginar e as palavras não conseguem explicar o sentimento de medo, de revolta. Quando voltei a Belo Horizonte, acabei sendo preso.”

Antônio Faria Lopes - Ex-presidente do Sindicato dos Bancários

Rádio Super

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