Sexo pode significar muitas coisas, inclusive, descoberta. Por mais que um casal viva há muitos anos em um relacionamento e acredite saber todas as preferências do outro, há sempre a possibilidade de explorar – e até mesmo de provocar – novos desejos e interesses da parceria.
Pensando nisso, casais têm experimentado novas práticas sexuais para dar um novo entusiasmo à relação. Pesquisa realizada pela Ayra, plataforma norte-americana de experiências eróticas personalizadas, relevou que 73% dos entrevistados dizem se sentir mais próximos de seus cônjuges após vivenciarem situações eróticas.
As preferências mais citadas no levantamento são práticas sensoriais, bondage e sexo oral. Tais experiências são chamadas de sexo alternativo. O termo se refere às práticas que se diferenciam das relações sexuais convencionais, incluindo uma variedade de atividades que vão além da penetração, por exemplo.
É importante ter em mente, no entanto, que esse entendimento é individual. “O conceito de sexo alternativo pode variar de pessoa para pessoa. De modo geral, é quando há algum tipo de novidade para os envolvidos”, explica o terapeuta tântrico e embaixador da marca de produtos eróticos A Sós, Fèrnando Ravi.
Uma transa convencional geralmente é aquela pautada somente na penetração. Sexóloga e terapeuta de casais, Renata Dietze afirma que “98% das pessoas que chegam no consultório acreditam que sexo só acontece com penetração.”
“Para sair do sexo convencional, muitos casais querem experimentar desde brinquedos eróticos, passando realização de fetiches, práticas como o BDSM, incluir mais pessoas na relação, conhecer casas de swing etc”, enumera.
Além das práticas citadas por Renata, são muitas as alternativas que podem ser usadas em uma relação sexual para deixá-la mais prazerosa.
“Podemos começar com explorações sensoriais usando vendas nos olhos, óleos de massagem ou texturas diferentes, como pena, seda ou gelo para estimular os sentidos. Incorporar aromaterapia, músicas, brinquedos eróticos e acessórios, como algemas, plugs, cordas e anel peniano, que diversificam as sensações", conta.
"Também é possível sair da rotina do quarto, explorando outros cômodos da casa ou até fazendo viagens que podem trazer um toque de novidade. Ampliar o repertório com práticas como massagens tântricas, jogos de sensualidade ou exercícios de autoconhecimento, como pompoarismo, pode enriquecer a experiências”, aponta a sexóloga.
As massagens tântricas, a propósito, oferecem um caminho para que os casais cultivem uma intimidade mais profunda, baseada no respeito, na presença e na exploração conjunta do prazer, como defende Fèrnando Ravi.
“Isso ajuda a evitar que as práticas sexuais se tornem mecânicas ou puramente focadas na excitação ou no prazer de somente uma das partes. As massagens também são meios de fortalecer os laços emocionais dos casais, que aprendem a vivenciar o sexo para além de uma possibilidade de se obter um orgasmo, mas como um meio de desfrutar do prazer em suas formas mais sutis, da conexão, da presença e da companhia das partes envolvidas", ressalta.
"As práticas tântricas terapêuticas estimulam a presença no momento. Além disso, elas também incentivam os casais a experimentarem novos ritmos, substituindo o ‘script’ automático por uma dinâmica mais criativa e autêntica, que leve em conta o que os toques e o olhares têm a dizer”, pondera Ravi.
Na avaliação da sexóloga e especialista em sexualidade e saúde íntima Ana Flávia Drumond, inovar no sexo pode ser proveitoso e eficaz em um relacionamento justamente porque é natural que a vida a dois caia na rotina com o avançar dos anos.
“Quando falamos de inovação, estamos falando de cumplicidade e parceria, que ajudam a liberação hormonal durante o ato sexual”, salienta. Para quem deseja introduzir na relação um sexo mais alternativo, mas não sabe como começar, ela dá algumas dicas:
“procure contos eróticos e sites em que pessoas se conectam com pessoas reais para troca de experiências. Caso seja algo complexo, busque um terapeuta de relacionamento que possa orientar os melhores passos para iniciar.”
Fèrnando Ravi comenta, ainda, que já existem pesquisas que indicam que a perda de interesse sexual em relacionamentos de longo prazo está associada a fatores como monotonia sexual, falta de novidades, e desafios na comunicação entre as parcerias.
“Algumas delas apontam que a fadiga sexual pode se desenvolver em menos de dois anos em relações em que há pouca exploração de novas dinâmicas ou estímulos. Essa fadiga é marcada por um declínio na frequência e no desejo sexual, e nem sempre tem relação com uma insatisfação geral no relacionamento. Pesquisas também sugerem que a monotonia pode ser agravada por crenças culturais que colocam o sexo em um molde previsível, diminuindo sua espontaneidade e criatividade e deixando a relação mais propensa a sentir os impactos do desinteresse sexual”, salienta.
Sexo alternativo pode mesmo salvar um relacionamento?
Caso o fato de o sexo estar ruim seja o único motivo de relacionamento estar a ponto de fracassar, é possível que as práticas alternativas sejam um caminho para resgatar o vínculo entre o casal.
“Nesses casos, simples ajustes na dinâmica sexual podem surtir efeito. Por exemplo, se o casal se desconectou do prazer sexual porque as dinâmicas no sexo estão acontecendo de forma a privilegiar o prazer de uma das partes, o simples fato de ouvir o outro e dar importância para suas necessidades e demandas pode ser considerada uma inovação diante da forma como essa dinâmica sexual acontece. Essa simples intervenção pode aumentar a conexão entre o casal e estimular a cumplicidade”, explica o terapeuta tântrico Fèrnando Ravi.
Portanto, é fundamental compreender o que pode estar por trás da insatisfação em uma relação. “A sexualidade está ligada a outros aspectos fundamentais do relacionamento, e, para que a inovação seja eficaz, é importante considerar questões mais amplas. A inovação sexual pode funcionar como um gatilho para abrir novos diálogos sobre outras necessidades e desejos, podendo criar espaço de descobertas, melhorando o prazer e fortalecendo a conexão física”, diz a sexóloga e terapeuta de casais, Renata Dietze.
“Além disso, podemos levar em consideração fatores externos significativos como problemas financeiros, rotinas exaustivas, falta de parceria nos fazeres domésticos e com os filhos, problemas com a autoestima, entre outros. Esses assuntos precisam ser abordados, pois apesar do sexo alternativo ser uma ferramenta auxiliar na revitalização dos relacionamentos, em alguns casos, ele pode prejudicar uma relação já fragilizada, acentuando problemas já existentes”, finaliza a sexóloga.
“Quando se fala de fetiche, desejos e até inversão temos uma grande diversidade de prazer e limite. É muito importante se conhecer e ter um relacionamento saudável para que o casal possa desbravar o mundo sexual”, pondera a sexóloga e especialista em sexualidade e saúde íntima Ana Flávia Drumond.
Como adotar o sexo alternativo de forma saudável
A sexóloga e terapeuta de casais, Renata Dietze afirma que, para adotar o sexo de forma segura, a primeira coisa a se fazer é uma pergunta:
“‘Você deseja viver essa experiência ou está apenas querendo agradar o outro?’
É preciso, acima de tudo, ter consentimento mútuo, podendo ser revogado a qualquer momento, sem pressão ou culpa. Em seguida, alinhe as expectativas com um diálogo aberto e honesto, expondo seus desejos, fantasias e limites”, indica. Veja outras dicas dela:
- Respeitar os limites do outro e nunca forçar situações desconfortáveis.
- Buscar informações confiáveis sobre a prática que você quer experimentar. Um profissional especializado em sexualidade pode ajudar com orientações.
- Recomendo começar de forma gradual, apresentando novidades em um ritmo que seja confortável para ambos, sem pressa ou expectativas rígidas.
- Estar em um ambiente seguro e confortável livre de distrações para se sentirem mais relaxados e focados na experiência.
- Refletir individualmente e como casal sobre a experiência, avaliando o que funcionou, o que pode ser ajustado e como ambos se sentiram.
- Consultar um terapeuta sexual para ajudar a refletir como se sentiram, avaliando o que funcionou, o que pode ser ajustado.