“Eu acho importante aprender sobre amamentação, principalmente depois que eu fui saber mais sobre exterogestação (os primeiros meses de vida do bebê, fora do útero). Para mim, amamentar era somente dar o alimento, e não é. Às vezes, o bebê quer um aconchego, está sentindo uma dor, ele vem para o peito porque entende que ali está seguro”. O relato é da designer de joias Rafaela Clark, de 35 anos. Ela é mãe de Gabriel, que tem pouco mais de 1 mês, e contou um pouco sobre o processo de amamentação do pequeno.
O leite materno é o alimento considerado padrão ouro para um bebê. O ato de amamentar, além de gerar benefícios para a saúde da mãe e do filho, pode fortalecer o laço entre ambos. Pensando nisso, a campanha Agosto Dourado foi criada com o objetivo de conscientizar sobre a importância do aleitamento materno.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em torno de 6 milhões de vidas de crianças são salvas a cada ano por causa do aumento das taxas de amamentação exclusiva até o sexto mês de vida.
A enfermeira neonatologista e coordenadora da UTI neonatal da Santa Casa BH, Ana Cláudia da Cunha, esclarece que o leite materno não perde o valor nutricional depois dos 6 meses de vida. “O leite não consegue suprir sozinho tudo que o bebê precisa após os 6 meses, mas, até essa idade, ele é o único alimento de que o bebê precisa. Depois disso, ele continua sendo importante no processo de transição”, reforça, lembrando que o ideal é que as crianças continuem sendo amamentadas pelo menos até 1 ano de idade, mesmo com a introdução alimentar.
Já a nutricionista Danielle Matos, do Banco de Leite Humano da Maternidade Odete Valadares, pontua que o leite materno contém anticorpos que protegem o bebê de diversas doenças. “Para a mãe também existem muitos benefícios. Além da vantagem financeira e econômica, as mulheres que amamentam têm menor risco de hemorragia no pós-parto, menos chance de desenvolver um câncer de mama e até podem perder mais rápido o peso que ganharam durante a gestação”, conta.
As profissionais reforçam a importância de adquirir conhecimento sobre o processo de amamentação durante a gravidez. Buscar informações pode ajudar em caso de dificuldades ou problemas nesse período.
E quando amamentar não é possível?
Muitas mães não conseguem amamentar os filhos, seja por alguma contraindicação médica, como doenças, ou pelo uso de medicamentos que impedem que aconteça o aleitamento materno. Além disso, fissuras mamárias, dores, dificuldade de posicionamento no momento da amamentação, problemas na pega do bebê e o estado emocional da mulher podem se refletir no processo.
De acordo com Ana Cláudia da Cunha, sempre que possível, o leite materno é priorizado, respeitando as limitações da mulher. “Mesmo que às vezes o bebê não consiga ficar em aleitamento materno exclusivo e ele precise de uma complementação, a gente precisa fortalecer a mãe, dando suporte e apoio. Assim, ela pode conseguir alimentar o bebê o maior tempo possível e com a quantidade que ela conseguir naquele momento”, ressalta.
A professora Francieny Santiago, de 29 anos, é mãe dos gêmeos Francisco e Vicente, atualmente com 9 meses. Ela conta que o início do processo de amamentação não foi fácil, não saía muito leite e os gêmeos ficavam nervosos e irritados. “Foi necessário fazer a suplementação com a fórmula, e aí, logo após a primeira semana, o leite já desceu. Depois disso nós conseguimos organizar a rotina de forma que eles conseguissem mamar e suprir a necessidade deles somente com o peito”, expôs.
Francieny relata ainda que, durante a gestação dos filhos, ela estudou a respeito do processo de aleitamento materno e dos cuidados com o recém-nascido. “Eu já tinha uma noção de como seria. No hospital também me orientavam como amamentar, a forma correta de o bebê pegar no peito, de oferecer a mama para o bebê e também sobre a suplementação”, salienta.
Como lidar com o sentimento de culpa?
Quando a amamentação não pode ser realizada por algum motivo, é comum que muitas mães sejam tomadas por um sentimento de culpa. Danielle Matos reforça a importância do acolhimento da mãe em momentos como esse. “A decisão de amamentar é da mãe, é da mulher. Se ela viu que não quer, por um ou outro motivo, a gente tem que respeitar e encorajá-la. Ela não será considerada menos mãe ou uma mãe ruim por ter tomado essa decisão”, pontua a nutricionista, acrescentando que um acompanhamento psicológico pode ajudar a lidar com as dores do processo.
Rafaela Clark, mãe do pequeno Gabriel, relata que o filho chegou a mamar até por quatro horas seguidas. “Quando a gente tirava, ele chorava muito. Então, o pediatra recomendou a fórmula para ver se ele saía um pouco, mas, quando deu a fórmula, ele começou a sair do meu peito e não queria mais pegar”, conta.
Ela frisa que o apoio da família foi muito importante e que fez total diferença para ajudá-la a lidar melhor com o momento. “Estou fazendo de tudo. Eu me sinto muito culpada, não durmo direito e fico pensando nisso, no que eu falhei, o que eu podia ter feito diferente. Para a gente, que é mãe, é angustiante”, relata.
Suplementações e banco de leite
A doação do leite materno para o banco de leite acontece de forma voluntária. Segundo Danielle Matos, as mães que desejam fazer a doação procuram voluntariamente a Maternidade Odete Valadares e passam por uma triagem, na qual são realizados exames para confirmar que podem ser doadoras.
No entanto, ela revela que o leite doado é limitado para bebês que estejam internados, sejam prematuros ou aqueles cuja mãe também esteja com dificuldade de amamentar ou com algum problema. “O leite materno que a gente recebe aqui é pouco volume, a gente não tem doação suficiente”.
Além disso, existe a amamentação cruzada, que é uma prática antiga, conhecida também como “mãe de leite”, isto é, quando uma mulher amamenta um bebê que não foi gerado por ela. No entanto, não é recomendada pelo Ministério da Saúde devido ao risco de transmissão de doenças, desde vírus simples até um mais grave, como o do HIV, que podem ser passados durante a amamentação.
As mães que estão com alguma dificuldade no processo de amamentação devem procurar ajuda profissional para encontrar a melhor opção para o desenvolvimento saudável do bebê.
Dicas para garantir uma boa amamentação para o seu bebê:
- Amamente em um local tranquilo e confortável;
- Se sente em uma cadeira que tenha encosto;
- Aprenda a posicionar o bebê para mamar;
- Utilize a “pega” correta (com a boca bem aberta, lábios inferior e superior virados para fora e o queixo tocando a mama, a criança deve abocanhar a maior parte da aréola e não somente o bico do seio).;
- Não marque horário para dar de mamar; amamentação deve ser feita em livre demanda;
- Não exagere na limpeza das mamas durante o banho;
- Cuidado com a alimentação e nutrição, pois alguns alimentos podem ter substâncias que influenciam no cheiro do leite;
- Mantenha sempre uma garrafa ou copo de água por perto. Fonte: Fundação Abrinq e Danielle Matos (nutricionista)
*Estagiária, sob supervisão de Ana Clara Brant